PARA LER 1 CORÍNTIOS
Por
ALMIR DOS SANTOS GONÇALVES JR
Título: Primeira Carta de Paulo aos Coríntios
Capítulos: 16
Versículos: 437
Tempo aproximado para a leitura: 60 minutos
1 CORÍNTIOS é a carta do apóstolo Paulo de mais fácil aplicação ao nosso contexto.. Escrevendo para uma sociedade heterogênea, consumista, idólatra e pagã, por excelência, é como se ele estivesse escrevendo para nós hoje. Tudo que vemos e assistimos nos dias de hoje, guardadas as diferenças dos recursos tecnológicos que possuímos, e os coríntios não, está presente nas cogitações do apóstolo. É só ler.
Paulo havia passado por Corinto na sua segunda viagem missionária vindo de Atenas. Isto deve ter ocorrido em torno dos anos 50 d.C, quando ficou ali (Atos 18.11) cerca de 18 meses trabalhando com Áquila, Priscila e Crispo na estruturação da igreja de Cristo local. Por causa disto, ele escreve para ela a primeira carta, da cidade de Éfeso em 52 d.C., enquanto a segunda será escrita dois anos depois, em torno de 54 d.C., julgam os historiadores, da Macedônia.
A carta preserva para nós, não só a doutrina cristã, como também o padrão ético para o crente diante do mundo conturbado em que viva. O fato de ser escrita para Corinto, uma cidade aberta ao vício e ao pecado, como tantas dos dias de hoje, torna-a eminentemente contextualizada aos nossos dias. Os críticos mais modernos chegam mesmo a apontar esta epístola como aquela que mais de perto aborda as questões relativas “às situações da vida real” do crente em todos os tempos.
A visão global do texto evidencia para nós o desejo do autor de tratar de vários e sérios problemas que estavam perturbando os crentes em Corinto. Por causa deles, a igreja estava dividida, e havia questões doutrinárias sérias a serem dirimidas, e mesmo conceitos a respeito do relacionamento e da vida cristã a serem esclarecidos. Talvez, o que poderíamos chamar de texto principal desta epístola, seja o tratamento que o apóstolo Paulo dá aqui aos dons do Espírito, o que ele comenta em outras cartas, mas nunca com a mesma objetividade e profundidade que o faz aqui. Nos capítulos 12 a 14 desta carta, podemos assim considerar, temos o registro da essência do que seja a prática dos dons espirituais na vida do crente. Outro tema fundamental da carta é, por certo, sua explicação sobre o tema da ressurreição dos crentes que, no capítulo 15 expõe com tanta clareza.
HISTÓRIA
Paulo foi o primeiro missionário cristão a chegar a Corinto. Deve ter chegado ali, em meio ao ano 50 d.C., pois foi logo no início de sua segunda viagem missionária, quando, atendendo à visão que teve em Trôade, atravessou o estreito de Bósforo – “Navegando, pois, de Trôade, fomos em direitura a Samotrácia, e no dia seguinte a Neápolis” (At 16.11) – e iniciou o seu trabalho na Macedônia, entrando assim na Europa, como a visão lhe ordenara. Depois de ter passado por Filipos, Tessalônica, Beréia e Atenas, ficando por causa da oposição pouco tempo em cada uma dessas cidades, chega então a Corinto, onde vai ficar por cerca de um ano e meio (At 18.1-22) encerrando assim a sua segunda viagem missionária, pois dali ele vai retornar para Jerusalém.
Sua permanência nesta cidade vai ser importante porque vai conviver com Áquila e Priscila, um casal que vindo de Roma vai ajudá-lo e muito na obra em Corinto, inicialmente trabalhando todos na confecção de tendas e Paulo pregando apenas aos sábados quando se dirigia à sinagoga. Logo depois Silas e Timóteo chegam, quando ele então pode se dedicar inteiramente à pregação de Cristo impressionando a dois outros cidadãos que vão tornar sua estada ali mais marcante ainda na construção, provavelmente, da igreja: Tito Justo e Crispo que era o chefe da sinagoga local. Ao final, surge também Gálio, o representante romano na Acaia que toma o partido de Paulo em face da oposição do novo chefe da sinagoga judaica, Sóstenes.
É então para estas pessoas que Paulo vai escrever a sua primeira carta, pois após sua saída eles é que devem ter ficado orientando a igreja em Corinto.
Corinto era tida como uma das mais paganizadas cidades dos tempos neotestamentários. A cidade tinha sido destruída em 146 a.C. por Lúcio Múmio, consul romano que conquistou a região, tendo ficado em ruínas por cerca de 100 anos até que, com o surgimento do Império Romano, teria sido reconstruída por ordem de Júlio César, tendo-se tornado então, a mais importante província romana na região da Acaia antiga, a Grécia de hoje, rivalizando-se com a capital Atenas. Sua importância era de tal ordem que possuía dois portos no Mediterrâneo, o de Cencréia e o de Sarona, funcionando como uma verdadeira ponte entre o Oriente e o Ocidente. Incrustada dentro da geografia, cultura e religiosidade helênicas, tinha deuses de todos os pesos, tipos, tamanhos e medidas, possuindo por isso mesmo a mais cosmopolita população da Grécia, com habitantes provindos de todas as parte do mundo. Havia deuses para todo o “gosto do freguês”, como se diz. Ninguém tinha do que reclamar em termos de “divindades” em Corinto.
Se em Éfeso a grandiosidade de “Diana” quase não permitia a presença de cultos a outros deuses, em Corinto os pagãos conviviam em grande escala e sem qualquer constrangimento social em adorar este ou aquele deus. A influência perniciosa dos ritos pagãos e de hábitos místicos eram um perigo para aqueles que se decidiam ao Evangelho, tornando-se cristãos naqueles tempos. A imoralidade era de tal ordem consentida que a palavra “coríntio”passou a ser sinônimo de imoral ou depravado na época. Estrabão, sábio grego que viveu nesta época da reconstrução de Corinto, chega a mencionar num de seus escritos, que no templo dedicado a Afrodite, deusa do amor na mitologia grega, equivalente à Vênus da mitologia romana, havia cerca de mil prostitutas cultuais, que atraiam adoradores de todo o mundo antigo, numa forma reconhecida hoje como o de “turismo sexual”.
ESTRUTURA
Os comentaristas em geral dividem a carta em 7 partes principais:
1. Introdução, saudação e ação de graças – 1.1-9;
2. As divisões internas na igreja e entre os crentes – 1.10 a 4.21;
3. Os padrões éticos em conflito: Mundanismo X Vida cristã – 5.1 a 7.40;
4. A liberdade cristã – 8.1 a 11.1;
5. As formas de culto e adoração; os dons – 11.2 a 14.40;
6. A ressurreição dos crentes – 15.1-58;
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Questões pessoais e despedidas – 16.1-24.
SÍNTESE TEOLÓGICA
A visão global do texto evidencia para nós o desejo do autor de tratar de vários e sérios problemas que estavam perturbando os crentes em Corinto. Por causa deles, a igreja estava dividida, e havia questões doutrinárias sérias a serem dirimidas, e mesmo conceitos a respeito do relacionamento e da vida cristã a serem esclarecidos. Talvez, o que poderíamos chamar de texto principal desta epístola, seja o tratamento que o apóstolo Paulo dá aqui aos dons do Espírito, o que ele comenta em outras cartas, mas nunca com a mesma objetividade e profundidade que o faz aqui. Nos capítulos 12 a 14 desta carta, podemos assim considerar, temos o registro da essência do que seja a prática dos dons espirituais na vida do crente. Outro tema fundamental da carta é, por certo, sua explicação sobre o tema da ressurreição dos crentes que, no capítulo 15 expõe com tanta clareza.
Podemos retirar da divisão do conteúdo da carta que acima apresentamos, pelo menos quatro pontos principais para destaque:
A unidade da igreja de Cristo – Paulo ergue uma bela imagem da igreja de Cristo como um local de santa adoração e de vivência em amor e harmonia. A igreja não é do pastor A ou B… Desta ou daquela denominação… A igreja é de Cristo. Por ser do Senhor não pode viver em dissensões. Divisões internas. Ele refere-se à unidade da igreja de maneira belíssima: “Porque nós somos cooperadores de Deus [referindo-se a ele e a Apolo]; mas vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus” (3.9). A lavoura cresce de maneira uniforme. Quando olhamos da estrada ou mesmo do avião e vemos à distância as plantações de milho, de trigo, de cana, elas nos impressionam por sua igualdade e identidade. Os ramos crescem juntos, misturam-se, agitam-se igualmente ao vento, harmonizam-se na cor, vão e vêm com o ondular da aragem do dia. Assim, deve ser a igreja de Cristo: harmônica, crescente, dinâmica, unida.
O espírito mundano X O espírito cristão – Ética e moralidade são palavras que têm conhecido em todos os tempos, por parte de cada sociedade, conceitos muito relativos. Infelizmente. De acordo com o maior ou menor grau de permissividade ou liberalidade que essa sociedade aceite, o que é certo ou errado, leal ou ilegal, mau ou bom passa a ser alterado em função dos novos e estranhos valores que vão sendo impostos. Assim é que podemos entender como em Roma, no tempo dos césares, o homossexualismo era visto como coisa normal, a ponto de muitos dos césares terem sido “gays”, no dizer de hoje. Por sua vez, diante de um puritanismo exagerado nos tempos da rainha Vitória na Inglaterra, podemos compreender a sociedade repressora que se ergueu na Grã-Bretanha daqueles tempos. O que Paulo nos ensina é que, em Corinto (5.1-13), dada a cultura cosmopolita da cidade, esses conceitos sofriam os maiores desvios sociais, transformando-se em vícios e mesmo em promiscuidade e profanação diante de Deus;
Os dons espirituais – Esta palavra que Paulo traz em sua carta aos coríntios sobre os dons espirituais era de suma necessidade nos tempos antigos, como hoje também. Naqueles tempos primevos do evangelho, e em meio a uma sociedade mística e muito voltada para a superstição, houve um desvirtuamento sobre a dádiva e a operação dos dons espirituais na vida dos crentes. Exageros e excessos estavam sendo cometidos em nome da Terceira Pessoa da Trindade, e Paulo precisava explicar isto com bastante clareza aos crentes de ontem e de hoje. Ele o faz então nesta carta, nos capítulos 12 a 14 e por ser tão importante o assunto, volta a ele em Romanos 12 e em Efésios 4. É aí então que ele define que os dons podem ser os mais diversos, mas o Espírito é um só; por causa desses dons os ministérios podem ser diferentes, mas o Senhor desses ministérios é um só; eles podem operar de forma diferenciada na vida dos crentes, mas o Senhor que os opera é um só; cada crente pode ter uma manifestação especial do Espírito, não em proveito próprio, mas em proveito do corpo de Cristo, a igreja. Enfim, se quisermos ter uma noção plena da doutrina do Espírito Santo, esses capítulos 12 a 14 são fundamentais para esse entendimento, nunca esquecendo, no entanto, que o capítulo 13 como que fecha toda a questão, quando indica o amor como o caminho mais excelente nesta jornada da operação dos dons espirituais.
A garantia da ressurreição do crente – A bênção da ressurreição não era ainda bem entendida entre os crentes. Muitos a pensavam como algo imediato e que se expressaria na volta de Cristo que aguardavam para logo, o que implicaria na instauração do seu novo reino, enquanto alguns desconfiados e descrentes não a aceitavam. O apóstolo vai ensiná-los e a nós, primeiro, sobre a certeza da ressurreição, a ponto de com bastante consistência afirmar que “se Cristo não foi ressuscitado dentre os mortos, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (15.14). Segundo, sendo mais contundente ainda ele completa que, “se é só para esta vida que esperamos em Cristo, somos de todos os homens os mais dignos de lástima” (15.19), ou seja, a vida do homem sem a esperança de vida eterna, da ressurreição com o Senhor em glória, é a mais lastimável vida.
VIVENDO OS ENSINOS DE 1 CORÍNTIOS
São muitas as motivações encontradas em 1Coríntios para a melhor contextualização em nossas vidas. Como crentes estamos diante de muitas escolhas. No futuro poderemos olhar para trás e nos arrepender de algumas das que fizemos. Tomemos então cuidado para escolher aquilo que é o certo e o melhor segundo o padrão de Deus. Na vida pessoal, nas amizades, nos hábitos, na vida profissional, na sua vocação com Deus, na vida afetiva, na sua atitude em casa. Em todos esses aspectos do viver, você estará construindo o templo do Espírito Santo de Deus em sua vida se a ele se submeter com fé e oração. Elas nos são apresentadas como escolhas de vida melhor para o crente:
Optando pela santidade de vida — Você sabe o que é fazer escolhas. Você faz isto livremente, segundo a sua vontade íntima e pessoal. Paulo nos ensina que isto deve ser pautado por nós mesmos. Não devemos ter para tais decisões regras ou princípios que nos subjuguem. Eles podem existir e devem ser considerados por nós como conselhos e indicações que o mundo nos dá, que os mais antigos aconselham, que as igrejas recomendam. No entanto, Paulo deixa bem claro que a responsabilidade desta escolha é pessoal, que o modelo pelo qual devemos pautar a nossa vida, deve partir do nosso coração, da nossa identidade cristã, de nossa consciência de crente em Cristo. Quando ele afirma “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas” (6.12), o que ele está nos ensinando é que devemos fazer a escolha da santidade de vida. Diante do padrão de vida que o mundo nos impõe, o crente opta por viver de acordo com a vontade de Deus. Não precisa de ordens ou regras para isto. O seu próprio coração de crente, pleno do Espírito Santo lhe determina isto. Ele não se deixa dominar pelos padrões do mundo, mas sim por aquilo que o Senhor Jesus coloca em seu coração como o melhor para ele.
Lutando contra o pecado – O primeiro passo a ser dado é o de lutar sempre contra a presença do pecado em nossa vida. Ele hoje se tem tornado mais e mais perigoso, porque está se insinuando entre nós como coisa normal, comum e corriqueira. Entra em nosso viver pela TV que assistimos, pelo filme que vemos, pelas revistas que folheamos. Ditos, expressões, atos, gestos e até atitudes perniciosas, vão sendo introduzidas em nosso viver de maneira insidiosa pelo mundo que nos rodeia e muitas vezes nós não nos apercebemos disto. Estranhamos um pouco no início, mas pouco depois, pela insistência com que a mídia nos apresenta, passamos a achar tudo natural e normal. Paulo chamou atenção para isto aos coríntios, quando recomendou que (6.13-18): “o corpo não é para a prostituição”. Aliás, no contexto da palavra de Paulo, “prostituição” não é aí apenas o comércio do sexo, mas também tudo aquilo que deturpa a vida e o ser humano (pornografia, fornicação, homossexualismo, práticas indecorosas, palavrões, furto, roubo etc). Por isso, ainda nesse texto, ele vai ser mais dramático ao afirmar: “fugi da prostituição”. Sim! E a única forma de fugir de tudo aquilo que corrompe a vida humana, é lutar contra o pecado. Não aceitá-lo. Não praticá-lo. Não concordar com as suas investidas.
Construindo o santuário de Deus — Para fechar a defesa contra o ataque do inimigo, o apóstolo recomenda a escolha fundamental: fazer do seu corpo, verdadeiramente, um templo do Espírito Santo. Todos sabemos isto. A Bíblia nos ensina. Nosso corpo é o templo do Espírito Santo. É a morada onde ele habita. Quando vamos hospedar alguém importante em nossa família, procuramos caprichar na acolhida que vamos dar a ele. Tudo limpo. Tudo do melhor. Pois queremos que ele tenha a melhor impressão da estada conosco. Pois bem, desde que nos tornamos crentes em Cristo, o Espírito de Deus passou a residir em nós. Sendo assim, temos que dar a ele a melhor moradia. Nada daquilo que pode ofender a pessoa de Deus, pois elas, quando permitidas, corrompem o templo do Espírito! Paulo ensinando aos coríntios escreveu (3.16): “Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós?” – Vamos construir com nossa vida cristã santa e pura, um verdadeiro templo para o Espírito de Deus que está em nós desde que nos convertemos.
Permitindo a obra do Espírito de Deus — Esta é, talvez, a mais certa escolha a fazer em nossa vida, quando analisamos a carta. Paulo nos coloca diante da operação dos dons espirituais, em suas múltiplas formas na vida do crente, mas ao mesmo tempo, nos apresenta o melhor caminho para que a obra do Espírito de Deus se faça em nossa vida: “Mas procurai com zelo os maiores dons. Ademais, eu vos mostrarei um caminho sobremodo excelente”, enveredando então pelo capítulo 13, o sublime capítulo do amor, o “dom mais excelente”.
PARA MEMORIZAR
“Mas procurai com zelo os maiores dons. Ademais, eu vos mostrarei um caminho sobremodo excelente”. (1Coríntios 12.31)