PARA LER O EVANGELHO DE MARCOS (Christopher Marques)

PARA LER O EVANGELHO DE MARCOS
 
Título: Evangelho de Marcos
 
Capítulos: 16
 
Versículos: 661
 
Tempo aproximado para leitura: 60 minutos
 
Tema do evangelho: Jesus é o Servo sofredor.
 
A igreja apostólica é quase unânime ao atribuir este evangelho, um dos sinóticos (muito parecidos entre si) a Marcos, primo de Barnabé e companheiro de Paulo e Pedro. Ele era conhecido por João Marcos (cf. Atos 15.39; 1 Pedro 5.13). A maioria dos estudiosos afirma que Marcos foi o primeiro a ser escrito dos evangelhos canônicos. Pode ser datado com segurança entre 50 e 70 d.C.
Quando o lemos, observamos que mais de 90% deste livro encontram paralelo em Mateus e Lucas. No entanto, Marcos é caracteristicamente um evangelho de ação, cheio de milagres e discursos estratégicos, com repetição das palavras “logo” (19x) e “imediatamente” (17x).
Hernandes Dias Lopes (p. 26-27) distingue oito características do Evangelho de Marcos:
1. Marcos tem um propósito claramente querigmático (voltado para a proclamação).
2. Marcos enfatiza a popularidade do ministério de Jesus.
3. Marcos enfatiza o tema da identidade do ministério de Jesus.
4. Marcos põe ênfase na ação.
5. Marcos apresenta Jesus como o Filho de Deus.
6. Marcos apresenta Jesus como servo.
7. Marcos apresenta Jesus como aquele que tem poder para operar milatres.
6. Marcos enfatiza o sofrimento de Jesus Cristo.
 
ESTRUTURA:
 
Esta estrutura facilitará a sua leitura. Você visualizará os capítulos e os seus acontecimentos, de modo que, a sua memorização de todo livro será possível.
 
1. Prólogo sobre o começo do evangelho (1.1-15)
 
2. Ministério público de Jesus (1.16 – 8.26)
2.1. Chamado dos discípulos e conflitos que levam à rejeição (1.16 – 3.12)
2.2. O ensino sobre o Reino de mistérios e sobre os milagres de poder ainda resulta em rejeição (3.13 – 6.6)
2.3. Desafio e mal-entendido até a confissão (6.7 – 8.26)
 
3. Para Jerusalém, paixão e vindicação (8.27 – 16.8)
3.1. Predições da paixão e ensino de discipulado (8.27 – 10.52)
3.2. Conflito em Jerusalém e predição de juízo (11.1 – 13.37)
3.3. Rei dos judeus executado por blasfêmia, confessado como filho e vindicado por Deus (14.1 – 16.8)
 
PROPÓSITO DO EVANGELHO
 
Trata-se de um evangelho singularmente repleto de preciosos fatos a respeito do Senhor Jesus, contados numa linguagem simples, direta e expressiva, e um estilo condensado. Se, por um lado, nos oferece poucas declarações de nosso Senhor, por outro se mostra bastante rico quanto as suas realizações. O autor dá considerável atenção à aparência e aos gestos de Jesus. Por quê? A prioridade do autor é enfatizar o que Jesus fez, em lugar do que Jesus disse. O evangelho de Marcos destaca-se sobremaneira como o evangelho da ação. Marcos registra dezoito dos milagres de Jesus, mas apenas quatro de suas parábolas.
“A parte mais importante do evangelho de Marcos não é o que nós devemos fazer, mas o que Deus fez por nós em Cristo. O evangelho não é discussão nem debate, mas uma proclamação. O evangelho está centralizado na pessoa de Jesus Cristo. O conteúdo do evg é Jesus Cristo: sua vida, obra, morte, ressurreição, governo e segunda vinda” (LOPES, Hernandes Dias, p. 28).
 
SÍNTESE TEOLÓGICA
 
Mateus e Lucas usaram o evangelho de Marcos na tentativa de distinguir a teologia. Há uma desvantagem: Visto que podemos notar as mudanças que Mateus e Lucas fizeram quanto a sua suposta fonte, no caso de Marcos não temos nenhuma fonte disponível.
Certo teólogo, chamado R. Pesch, trabalha com a hipótese de que Marcos não seja o inventor, mas um editor da tradição.
O evangelho de Marcos trabalha com dois focos; são eles: a Cristologia e o Discipulado. 
 
CRISTOLOGIA – Este título constitui o âmago da mensagem: Deus declara Jesus como seu amado Filho, por ocasião de seu batismo (1.11); os espíritos imundos o reconhecem como tal em seu ministério de expulsão de demônios (3.11; 5.7); o pronunciamento batismal é repetido (9.7), de modo significativo, imediatamente após a confissão que Pedro fez a respeito de Jesus como o Messias, e a advertência de Jesus ao mostrar que a atividade do Messias significa sofrimento e morte. Em 12.6 o próprio Senhor Jesus reivindica abertamente o título na parábola que o coloca em oposição direta à liderança fracassada de Israel. Em 14.61-62, Ele o aceita aberta e desafiadoramente diante daqueles mesmos líderes judeus; e o auge desse paradoxo é atingido, quando a morte de Jesus na cruz faz com que até mesmo um centurião gentio o reconheça como Filho de Deus (15.39). Desse modo, por intermédio de toda a rejeição e dos mal-entendidos que Jesus encontra, Marcos não permite que seus leitores se esqueçam de quem Jesus realmente é.
 
DISCIPULADO – Esse tema é explorado por intermédio de uma descrição dos primeiros discípulos de Jesus, em seus privilégios e em suas falhas, em sua experiência de estarem com Jesus e, especialmente, nos ensinamentos que Ele lhes deu. Esse enfoque no discipulado fica particularmente evidente na seção que liga o ministério na Galiléia ao apogeu da visita a Jerusalém (8.27 – 10.45). Os discípulos nunca estão longe da cena. Jesus e os discípulos são os destaques no evangelho.
A preocupação de Marcos é instruir os seus leitores no que a sua profissão de fé envolve. Se a obra do Messias envolve rejeição e sofrimento, em vez de popularidade e triunfo, então os seguidores do Messias não devem esperar algo melhor (8.34-38; 13.9-13). Este tema do sofrimento pela causa de Jesus, sugere que Marcos estava escrevendo para uma comunidade de fé que já havia experimentado a perseguição. Marcos, portanto, mostra que a Teologia da Cruz aplica-se ao discípulo, assim como ao mestre. Não há lugar para um triunfalismo privilegiado. Marcos levanta a bandeira da cruz e do auto-sacrifício.
 
PARA LER DEVAGAR
Algumas passagens merecem destaque e tempo para estudo. Suas aplicações são profundas. Destaco algumas:
 
Marcos 1.2-8 – “Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”. Esta expressão é para fundamentar e autorizar o texto como algo divino. A sua composição não é humana. Não é da parte de homens. A mensagem tanto quanto o mensageiro é Jesus Cristo. Por isso, o evangelho não pode ser considerado uma firula humana e filosófica. A idéia é levar o leitor a perceber e crer que o evangelho se originou em Deus.
 
Marcos 1.14 — As implicações do Reino entre nós. Sem dúvida, este trecho é riquíssimo; portanto, requer uma parada e reflexão.
 
Marcos 2.23-28 — Nesta passagem Jesus ressalta que o ser humano é mais importante do que o cumprimento da Lei.
 
O TEXTO QUE MAIS TOCOU MEU CORAÇÃO
 
O evangelho de Marcos toca cada área da vida humana. Escolher uma parte é reduzi-lo.
O capítulo 4.35-41 mostra o imenso poder de Jesus. O conforto está justamente que ele estará comigo nos momentos difíceis. Basta uma palavra sua para que a paz e a ordem sejam estabelecidas.
Um outro texto é 9.14-32. Destaco os versículos 23-24. Independente do tamanho da minha é fé, Jesus não deixará de agir. Quando a fé falta o autor da fé derrama mais no meu coração. Não preciso pedir mais fé, basta pedir para Jesus ajudar-me a ter fé.
 
 
TEXTOS DIFÍCEIS
 
Omissão da genealogia – A ênfase do evangelho está nas ações de Jesus é apropriada para um evangelho escrito em Roma e que visava em primeiro lugar os romanos. Por isso, Marcos omite a genealogia e a infância de Jesus. Os romanos interessavam-se mais por poder que por árvores genealógicas. É por isso que em Marcos Jesus é apresentado como o grande Vencedor – sobre a tempestade, sobre os demônios, as enfermidades e sobre a morte. Ele é o Servo sofredor. Primeiramente ele é Servo conquistador, em seguida, ele é o Servo sofredor. Por fim, ele é o Servo triunfante pela ressurreição.
 
Um começo diferente – Marcos não começa do ponto em que seus companheiros sinóticos começaram. Ele começa com João Batista. A opinião comum da igreja era que o relato do ministério de Jesus começou com João (cf. Atos 1.21-22; 10.37).
 
Último Capítulo – O fim do livro é muito contestado. Os manuscritos mais antigos omitem os vv. 9-20, embora a maioria dos manuscritos mais novos os inclua. Todavia, estes últimos versos não fazem parte da tradição. É um trecho que foi incluído. Os Pais da Igreja não reconheciam ou davam ênfase a esta passagem. No entanto, eles não destoam do todo do evangelho nem dois demais evangelhos. Lido cuidosamente, são uma exaltação do poder de Jesus, não dos homens.
 
QUAL FOI O PAPEL DE PEDRO?
 
Uma forte tradição também sustenta a tese de que nesse evangelho se encontra a pregação de Pedro, que chama Marcos de “meu filho Marcos” em I Pedro 5.13. As características desse evangelho harmonizam-se bem com a personalidade de Pedro.
 
VIVENDO OS ENSINOS DE MARCOS
 
Se o evangelho vem de Deus, isso traz implicações. Deus tem boas notícias para nós, é importante que respondamos de acordo. A proclamação inicial de Jesus é resumida nestes termos: “O tempo está cumprido e o reino de Deus chegou. Arrependam-se e creiam no evangelho”.
A vista do que Deus fez e fará, Jesus convoca as pessoas a tomarem uma atitude: elas devem se arrepender e crer. Arrepender-se é encarar o fato de que fizemos o que não deveríamos ter feito e não fizemos o que deviríamos ter feito. Arrepender-se significa que admitimos que não vivemos à altura do melhor do que conhecemos. Arrepender-se significa abandonar todo caminho mau e optar por viver de modo radicalmente novo. Arrependimento é transformação de todo o coração. Não é deixar de lado um ou dois pecadinhos. Jesus nos está conclamando a uma reordenação de toda a vida. A exigência de Jesus ao arrependimento implica nada menos que a transformação da pessoa desde o âmago, isto é, arrependimento completo.
Este evangelho causa alguns sentimentos no leitor: paixão, compromisso, missão do chamado, compreensão do discipulado, o conhecimento da cruz e a vida sofredora de quem ama o Senhor e decide segui-lo.
 
PARA VIVER
 
A preocupação de Marcos é instruir os seus leitores no que a sua profissão de fé envolve. Se a obra do Messias envolve rejeição e sofrimento, em vez de popularidade e triunfo, então os seguidores do Messias não devem esperar algo melhor (8.34-38; 13.9-13). Este tema do sofrimento pela causa de Jesus, sugere que Marcos estava escrevendo para uma comunidade de fé que já havia experimentado a perseguição. Houve uma dificuldade de conciliar a experiência com a posição de seus membros como os seguidores do Filho de Deus. Marcos, portanto, mostra que a Teologia da Cruz aplica-se ao discípulo, assim como ao mestre. Não há lugar para um triunfalismo privilegiado. Marcos levanta a bandeira da cruz e do autossacrifício.
 
PARA MEMORIZAR
 
“Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galiléia, proclamando as boas novas de Deus. ‘O tempo é chegado’, dizia ele. ‘O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas!’” (Marcos 1.14-15).
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
BOCK, Darrell L. Jesus segundo as Escrituras. São Paulo: Shedd Publicações, 2006.
 
LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. Edição Revisada. São Paulo: Hagnos, 2003.
 
LOPES, Hernandes Dias. Marcos: o evangelho dos milagres. São Paulo: Hagnos, 2006.
 
MORRIS, Leon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2003.
 
RYLE, J.C. <Meditações no Evangelho de Marcos. São José dos Campos: Fiel, 2007.
 
CHRISTOPHER MARQUES