EU POSSO SERPURO
Mateus 5.27-30
(Da série: “Em busca da mente de Cristo”:)
Um homem estava assentado bem tarde da noite diante do seu computador, quando se abriu diante dele uma mensagem. Tinha a ver com sexo. Ele não sabia bem o que era. Olhou para o lado e viu que não tinha ninguém perto. Clicou na mensagem e notou que era um site pornográfico. Começou a navegar e a gostar. A esposa dormia tranqüila. Noites após noites, mesmo quando não tinha nenhum trabalho a executar, ele se assentava diante do computador para alimentar seu vício.
Um homem ganhou um software que transferia arquivos de bases de dados para um computador pessoal. A pessoa que lhe deu o programa testou-o numa base com arquivos de pedofilia. O homem, depois, fez o mesmo, viu os arquivos e baixou-o para o seu computador. Logo, passou a ter prazer neste tipo de vício.
Estas duas histórias nos ajudam a perceber porque Jesus foi tão radical, ao dizer:
“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Não adulterarás’. Mas eu lhes digo: Qualquer que olhar para uma mulher e desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno.
E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno”.
PUREZA SEXUAL
Por que Jesus é radical?
Por que ele conhece a nossa natureza.
Nesta advertência, ele põe em evidência dois parágrafos da pureza, este importante capitulo do livro da natureza relacional humana.
Primeiramente Jesus se refere à pureza sexual. No entanto, pureza não pede sempre o mesmo adjetivo (“sexual”). Por isto, Jesus fala do que pode fazer a mão direita, indicando que pureza tem a ver com todo tipo de relacionamento.
Uma paráfrase do texto nos ajuda no entendimento do texto bíblico:
“Você conhece o mandamento seguinte muito bem, que diz: “não durma com a mulher do próximo”. Contudo, não pense que você preserva sua virtude apenas deixando de ir para a cama com ela. Seu coração pode ser corrompido pela luxúria mais rapidamente que o seu corpo.
Aqueles olhares furtivos que você pensa que ninguém nota também corrompem.
Não vamos achar que as coisas sejam mais fáceis do que são. Se você quer viver uma vida moralmente pura, eis o que deve fazer: você precisa cegar seu olho direito no momento que você o flagra num olhar de luxúria. Você deve escolher entre viver com um olho só ou ser jogado num montão de lixo moral. Você tem de cortar sua mão direita no momento em que observa que ela se levantou ameaçadoramente. É melhor ser maneta que ser completamente descartado para sempre no lixo” (Mateus 5.27-30 — The Message)
Jesus começa citando um dos dez mandamentos, precisamente o que adverte contra relações sexuais ilícitas: “Não adulterarás” (Êxodo 20.14; Deuteronômio 5.18).
Em seguida, Jesus explica o mandamento, para dizer que o adultério é adultério mesmo que não seja consumado. Se foi imaginado e desejado, já é adultério, porque já cometido no coração. Por que Jesus radicaliza? Para nos ensinar que devemos cortar o mal pela raiz.
Não somos tão fortes quando achamos que somos.
Se há um desejo capaz de nos levar a fazer o que hoje não queremos, mas quereremos amanhã, não devemos acariciar este nosso desejo, mas negá-lo radicalmente.
Jesus usa a imagem do olhar. Se a fé vem pelo ouvir, o pecado vem pelo olhar. Se a fé vem pelo ouvir a palavra do evangelho, o pecado vem pelo olhar os corpos e objetos que serão desejados.
Por que Jesus fala em olho “direito”? Na Antiguidade, o olho direito tinha mais valor que o esquerdo. Por isto, um inimigo de Israel, por exemplo, ameaçou arrancar o olho direito de cada israelita, para humilhar o povo (1Samuel 11.2). Zacarias ameaça os falsos pastores com a perda da visão direita (Zacarias 11.17).
Jesus opera no interior da cultura. A propósito, a ciência diz que dois terços da população têm o olho direito como predominante, indicando que, para a maioria, o olho direito é mais preciso que o esquerdo. Jesus está, então, lembrando que se o nosso olhar, predominantemente direito, nos leva a pecar, devemos arrancá-lo para não pecar.
A recomendação radical (“arranque” o olho) feita por Jesus deve ser tomada literalmente, implicando numa automutilação?
Não, pela simples razão de que o olho não é responsável pelo desejo; é apenas o canal. A instrução de Jesus é que o problema deve ser extirpado na raiz. Ele quer que nos perguntemos por que temos desejos lascivos. Depois de os descobrirmos, ele quer que não queiramos mais ter estes mesmos desejos, porque, se os tivermos, muito provavelmente iremos realizá-los.
PUREZA TOTAL
Mais adiante, Jesus amplia o conceito de pureza, ao dizer: “E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno” (Mateus 5.30).
Se a imagem do olho no remete à pureza sexual, a imagem da mão nos põe no centro dos relacionamentos. Jesus nos leva a pensar na pureza como algo que inclui a pureza sexual, mas vai além.
A mão direita tem a ver com honra.
A mão direita abençoa (Gênesis 48.14 e 17) e amaldiçoa.
A mão direita é a mão do poder, tanto no homem como em Deus. Quando a Bíblia fala da mão direita de Deus (Salmo 17.7; Salmo 89.13), fala de Deus mesmo.
Assim, como é com a mão que a pessoa faz o que faz, ela simboliza a própria pessoa. É como se Jesus dissesse: se você está errado, pare de errar; se você está pecando, pare de pecar.
Podemos, então, ler esta recomendação nos seguintes termos: “Você tem de cortar sua mão direita no momento em que observa que ela se levantou ameaçadoramente. É melhor ser maneta que ser completamente descartado para sempre no lixo” (Mateus 5.30 — The Message).
Levantamos a mão ameaçadoramente quando desejamos mal a alguém, seja por inveja ou por vingança.
Levantamos a mão ameaçadoramente falamos mal de alguém.
Levantamos a mão ameaçadoramente quando odiamos alguém, retesando nosso corpo contra alguém.
Levantamos a mão ameaçadoramente quando enganamos alguém.
Neste contexto, podemos ampliar o conceito de pureza para colocá-lo no território do propósito.
Ser puro é olhar para o outro e não julgá-lo.
Ser puro é ser olhado pelo outro e não ser visto como aquilo que não somos. No nosso relacionamento com o outro, “vendemos” uma pessoa que não somos? Contribuímos premeditadamente para que o outro pense a nosso respeito o que, na verdade, não somos e nem mesmo nos esforçamos para ser?
Ser puro é não comprar o afeto do outro, com palavras lisonjeiras, mas falsas.
Ser puro é ter intenções para o outro que o outro pode saber.
Ser puro é fazer o que dizemos porque fazemos o que fazemos.
Dizemos que cantamos para louvar a Deus. E cantamos para louvar a Deus ou para buscar louvor para nós mesmos?
Dizemos que pregamos o amor de Deus. E pregamos para pregar o amor de Deus ou pregamos para que as pessoas olhem o nosso talento ou nos admirem pelo quanto lhe dizemos que a amamos?
Dizemos que tudo o que fazemos é para o louvor da glória de Deus. E fazemos o que fazemos para a glorificação de Deus ou para a nossa autoglorificação?
ATITUDE, RADICAIS SE NECESSÁRIAS
É preciso, após a percepção do problema, agir.
1. Aceite os padrões elevados do Cristianismo como sendo para o seu bem.
Santidade faz bem. Os padrões da sociedade que você vive não são para o seu bem. Não deixe ser justificado pelas pessoas que convivem com você. Em 1978, o diretor de cinema Roman Polanski admitiu ter sedado e abusado sexualmente de uma modelo de 13 anos nos Estados Unidos. Pouco depois, ele fugiu do país e, em suas viagens, evitava nações que tivessem acordo de extradição com os Estados Unidos. Em 2009, foi preso na Suíça. Muitas pessoas, sobretudo da área artística e jornalística saiu em sua defesa. Uma jornalista escreveu que ele está sendo vítima do estigma do politicamente correto. Qual o problema de um adulto fazer sexo com uma menina de 13 anos? Quem mandou ela ficar com ele sozinho numa casa para uma sessão de fotos? Todos os nossos comportamentos serão justificados, por nós mesmos ou por outrem. A menos que os nossos padrões sejam os de Deus. Então, seremos justificados se pedirmos perdão, arrependidos, por estarmos errados e por desejarmos não pecar mais.
Se for necessário, radicalize.
2. Proponha-se a ser um padrão de pureza.
O que Paulo esperava de Timóteo, você deve propor para você mesmo: “Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza” (1Timóteo 4.12). Ninguém despreze você, não importa a sua idade. Quando você passar por um grupo, não viva de modo a ser merecedor de comentários desairosos sobre a sua impureza.
Para pensar alto e não ser desprezado, radicalize.
3. Se estiver olhando o que não deve, desejando o que não deve, fazendo o que não deve, deseje parar. Parar é possível.
Não ponha culpa na sedução ou nos sedutores. A responsabilidade é sua.
Se a sedução não para de alcançar você, você pode evitar ser alcançado.
Se parar de desejar ou fazer o que não deve, radicalize.
4. Se você precisa parar, ore para parar.
Ore como o antigo puritano:
“Senhor, afasta-me do erro do olhar, da curiosidade do ouvido, da avareza do apetite e da luxúria do coração.
Mostre que nada destas coisas pode curar uma consciência ferida,
sustentar um esqueleto cambaleante,
segurar um espírito desviante.
Então, leva-me para a cruz e me deixe lá”.
(O homem não é nada — Texto puritano anônimo do século 17.)
Para orar, radicalize.
5. Se notar que sozinho está difícil deixar a impureza, busque ajuda.
Estive com uma pessoa que, numa condição bem adversa, me ouviu dizer para ter cuidado com a sedução pornográfica que vem pela internet. Assim mesmo, ele caiu na rede. Duas tristes frases ouvi dele, na desgraça:
A primeira foi: “Agora, eu sei que o diabo existe”.
A segunda, com lágrimas nos olhos, foi: “Eu pensei em procurar você, para você me ajudar, mas não deu tempo”.
Se for necessário, radicalize.
6. Se fraquejar, arrependa-se e volte para o caminho da santidade.
O cristão pode ver a si mesmo como um pecador em recuperação. O cristão não venceu o pecado. O cristão está vencendo o pecado.
Por isto, podemos ouvir Paulo aconselhando: “Assim, façam [continuem fazendo] morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus e a ganância, que é idolatria” (Colossenses 3.5). Esta morte não acontece de uma hora para a outra; ela vai acontecendo.
Para voltar à pureza, radicalize.
7. Evite situações que facilitem o pecado na sua vida.
Se você peca diante da televisão, não assista televisão sozinho.
Se a internet é a sua rede de perdição, não navegue por ela sozinho. Se a internet é o seu bordel, troque de “calçada”.
Se você peca quando encontra um belo corpo na rua, olhe para o outro lado.
Se a presença com o seu namorado sozinho cria oportunidades para avanços que não deve, evite estas situações. Quem banca o forte sem o ser é fraco. Viva de modo a não ter que se arrepender depois.
Se estar numa reunião onde sua mente passa um scanner em todos e julga a todos, evite a reunião.
Se estar num grupo é um convite para rir de piadas torpes ou uma janela para pecar com a sua boca, evite o grupo.
Se for o seu caso, admita, cheio de vergonha, que você tem prazer em falar mal da vida alheia.
Se for o seu caso, admita, cheio de vergonha, que você manipula as pessoas para obter benefícios para si.
A pureza é uma intenção, que segue numa prática. A pureza demanda o propósito de ser puro, esforço para ser puro, disciplina para ser puro.
Para evitar situações facilitadoras à impureza, radicalize.
8. Ofereça seu corpo (sexualidade, braços, mãos, língua, pensamentos) a Deus.
Escute Paulo lhe dizendo: “Assim como vocês ofereceram os membros do seu corpo em escravidão à impureza e à maldade que leva à maldade, ofereçam-nos agora em escravidão à justiça que leva à santidade” (Romanos 6.19).
Radicalize.