PARA LER HEBREUS
ALCENIR ANCELMÉ DA MOTA
Título: Aos Hebreus
Capítulos: 13
Versículos: 303
Tempo aproximado para leitura: 45 minutos
O livro de Hebreus, que começa como um tratado, continua como um sermão e conclui como uma carta, não é igual a nenhum outro livro no Novo Testamento. A sua compreensão se torna mais fácil quando há uma familiaridade com os cinco primeiros livro da Bíblia.
Em Hebreus, nós encontramos todas as normas e tradições do pentateuco só que sob a ótica da Nova Aliança.
A autoria do livro é desconhecida. Vários são apontados: Paulo, Apolo, Barnabé, Lucas, Timóteo, Áquila e Priscila, Silas… Diante de tantas possibilidades é melhor ficarmos com a opinião de Orígenes, um dos pais da igreja inicial: “Somente Deus sabe.”
É bom saber que os primeiros leitores deste livro foram confrontados com fatos angustiantes. Como novos cristãos, estavam sendo perseguidos por seus compatriotas. Como judeus cristãos, estavam gradualmente sendo privados das consolações dos belos rituais religiosos de seus pais. Foram confrontados com a decisão de proceder uma ruptura completa com o seu passado.
ESTRUTURA
1- O FILHO DE DEUS É SUPERIOR AOS ANJOS (1.1-2.18)
“Porque, tendo em vista o que ele mesmo sofreu quando tentado, ele é capaz de socorrer aqueles que também estão sendo tentados”. (2.18)
2- O FILHO DE DEUS É SUPERIOR A MOISÉS. (3.1-4.13)
“Moisés foi fiel como servo em toda a casa de Deus, dando testemunho do que haveria de ser dito no futuro, 6. mas Cristo é fiel como Filho sobre a casa de Deus; e esta casa somos nós, se é que nos apegamos firmemente à confiança e à esperança da qual nos gloriamos”. (3.5)
3- O FILHO DE DEUS É SUPERIOR A ARÃO (4.14-5.10)
“Não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado”. (4.15)
4- PROGRESSO ESPIRITUAL (5.11-6.20)
“Portanto, deixemos os ensinos elementares a respeito de Cristo e avancemos para a maturidade, sem lançar novamente o fundamento do arrependimento de atos que conduzem à morte, da fé em Deus”. (6.1)
5- O SACERDÓCIO, MINISTÉRIO E SACRIFÍCIO DE CRISTO (7.1-10.18)
“Visto que vive para sempre, Jesus tem um sacerdócio permanente. 25. Portanto, ele é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, aproximam-se de Deus, pois vive sempre para interceder por eles”. (7. 24)
6- EXORTAÇÕES E ADMOESTAÇÕES (10.19-13.17)
“Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos”. (11.1)
7- CONCLUSÃO E BÊNÇÃO (13.18-25)
“O Deus da paz, que pelo sangue da aliança eterna trouxe de volta dentre os mortos o nosso Senhor Jesus, o grande Pastor das ovelhas, 21. os aperfeiçoe em todo o bem para fazerem a vontade dele, e opere em nós o que lhe é agradável, mediante Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre”. (13.20)
SÍNTESE TEOLÓGICA
O livro de Hebreus tem uma alta cristologia. A preexistência de Cristo é mencionada já no início. Foi através de Cristo que Deus criou o mundo (1.2). Também Cristo, pela palavra do seu poder, é quem sustenta o universo. Ele reflete a glória de Deus e expressa a própria imagem de sua natureza (1.3). A designação favorita do autor para Cristo é o “HYPERLINK “http://pt.wikipedia.org/wiki/Século_III” Filho de Deus”(1.2,5; 4.14…) E como Filho ele é herdeiro de todas as coisas (1.2), e os anjos o adoram (1.6).
O principal argumento do livro é que a instituição eclesiástica do Antigo Testamento era apenas uma sombra da realidade e não podia lidar com o problema do pecado. A realidade celestial aproximou-se com a morte de Jesus Cristo, através da qual ele expulsou o pecado de uma vez por todas. Portanto, o abandono de Cristo significa condenação, pois não há outro caminho para salvação.
PARA LER BEM DEVAGARINHO
O capítulo 11 de Hebreus deve ser lido como se tivéssemos comendo doce de abóbora com côco. Quando como este doce e me deparo com os pedacinhos de côco, fico mastigando bem devagarinho para aproveitar ao máximo aquele instante. Neste capítulo nós encontramos pedacinhos de côco, ensinamentos que são primordiais para nossa jornada. Um destes pedaços de côco diz que a fé é a certeza daquilo que esperamos é a prova das coisas que não vemos (11.1). Outro nos informa que sem a fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam (11.6).
TEXTO-DESAFIO
O autor nos pede, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, para nos livrarmos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve e para corrermos com perseverança a corrida que nos é proposta (12.1). Ele também afirma que devemos nos esforçar para viver em paz com todos e para sermos santos, pois sem santidade ninguém verá o Senhor (12.14). Quando leio estas recomendações, percebo que tenho muito que melhorar, que existe muito pecado a descartar. Chego à conclusão que só conseguirei cruzar a linha de chegada se tiver os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da minha fé (12.2). O grande desafio é nunca esquecer que sem santidade não há comunhão com Deus. Eu quero ser santo porque Deus é santo.
TEXTO DIFÍCIL.
Sempre que se estuda o livro de Hebreus o texto do capítulo 6.4-6 é questionado.
O texto mostra que aqueles que foram iluminados, provaram o dom celestial, tornaram-se participantes do Espírito Santo, experimentaram a bondade da palavra de Deus e os poderes da era que há de vir, mas caíram, não podem mais ser reconduzidos ao arrependimento, por estarem crucificando de novo o Filho de Deus, sujeitando-o à desonra pública. Muitos se apegam a estes versículos para afirmarem que o crente pode perder a salvação.
Penso que a resposta a esta questão está nos versículos 7 e 8. Ali o autor faz uma analogia com a terra que absorve a chuva e dá colheita proveitosa, pois recebeu e acolheu a chuva, e a terra árida que não absorve a água da chuva e, portanto, não produz bons frutos. O apóstolo Paulo afirma que aqueles que ouvem a palavra de Deus e a recebem são selados com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia de nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória (Ef 1.13,14).
Ainda sobre este assunto, o pastor Israel Belo de Azevedo escreveu o seguinte:
“A salvação é uma decisão de Deus, que não precisa revogá-la. Quando Deus lava, justifica e sela (1Coríntios 6.11) um pecador, Ele o faz com base em Sua soberania e em Seu conhecimento prévio (presciência) de todos as ações do ser humano. O único texto bíblico que dá margens à idéia da perda da salvação é o de Hebreus 6.4-6. No entanto, não dá para derivarmos de um só texto uma doutrina. Mesmo este texto não se refere à possibilidade da perda, mas as conseqüências de quem cai. Pode-se dizer também é que quem renuncia o dom celestial, depois de o ter provado, é que, de fato, não o provou; não foi selado (carimbado por Deus, conforme a imagem que usei no ItaMendes 2000, respondendo à mesma pergunta). Alguns textos precisam estar diante de nós, como: João 6.37-40, João 10.28-29, Romanos 8.31-4; Efésios 1.13-14, Filipenses 1.6, 1Tessalonicenses 5.23-24, 2Timóteo 1.12, Hebreus 7.25, etc. De qualquer modo, ainda teremos oportunidade de conversar sobre o assunto. Quem, de fato, crê tem a vida eterna, desde agora e para sempre. A fidelidade de Deus é a garantia desta certeza.
Há alguns seres humanos que, tendo um dia professado fé em Jesus Cristo, negam-no, “crucificando de novo o Filho de Deus, sujeitando-o à desonra pública.” Esses não se arrependem, e nunca mais têm de volta a alegria do Espírito Santo.
Como conciliar esta realidade, que sabemos existir, com a afirmação bíblica de que a estes “é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento”? Como os decretos salvadores de Deus são irrevogáveis e a Bíblia não se contradiz, podemos pensar que estes que assim procedem nunca foram efetivamente salvos, uma vez que Deus conhece nosso presente, mas também nosso passado e nosso futuro. O decreto salvador é celebrado a partir deste conhecimento.
Se conhecemos alguém assim, mais que julgá-lo, precisamos orar por essa pessoa, para que ela se converta a Jesus, se for o caso, ou volte para o Pai, se é salva.
Na vida cristã, a corrida é necessária, mas o prêmio está garantido.
A corrida da vida cristã é a corrida pela vida eterna.
Um cristão quando é desqualificado não perda a salvação; perde a alegria da salvação; o poder da salvação.
Todos sabemos que a vida, incluída aí a vida cristã, é uma corrida.
Podemos nos acomodar.
Temos um inimigo: a graça.
A vida, já que Deus está conosco, é fácil.
A vida, já que somos salvos pela graça de Jesus, pode ser vivida de qualquer maneira.
Não corremos para obter. Corremos porque obtivemos.
Corremos para alcançar a vida eterna, porque já fomos alcançados para a a vida eterna.
Corramos como os vencedores correm. Eles correm para ganhar. Nós corremos porque já ganhamos”.
PARA NUNCA MAIS ESQUECER
Segundo Hebreus, a fé nos dá confiança e submissão a Jesus, fazendo-nos perceber a realidade do mundo invisível de Deus. Este mundo é o objetivo básico de nossas vidas, em contraste com o caráter transitório e frequentemente mau da existência humana presente. O homem de fé é aquele que não considera o mundo visível da experiência humana como o mundo dos valores supremos. Ele reconhece que acima estão as realidades espirituais do Reino de Deus, que ele não pode perceber com os sentidos físicos. O livro de Hebreus foi escrito para nos encorajar a permanecer numa fé que nos assegura as promessas de Deus e as bênçãos que já vieram em Cristo Jesus.
PARA MEMORIZAR
. “Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo.” (1.1,2)
. “Assim, aproximemo-nos do trono da graça com toda confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade.” (4.16)
. “Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos” (11.1)
. “Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam.” (11.6)
. “Esforcem-se para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor”. (12.14)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2001.
LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2001.
STOTT, John. Homens com uma mensagem: Uma introdução ao Novo Testamento. Campinas: Cristã Unida, 1994.