‘Seja marginal, seja herói'” (Affonso Romano de Sant´Ana)

O escritor mineiro-carioca Affonso Romano de Sant’Ana deu voz a um grito calado, com suave contundência, ao dizer que a mesma sociedade que condena os traficantes incensa os artistas que fazem apologia do vício.
Eis a carta:

Na página policial, traficantes abatem um helicóptero da polícia, morrem policiais. Vemos enterros, lágrimas…
No caderno cultural: Pega fogo parte do acervo de Hélio Oiticica, autor da obra “Seja marginal, seja herói”.
Página policial: Bandido que comandou ataque tinha sido beneficiado pela lei. No caderno cultural, vemos que Hélio Oiticica, artista de renome internacional, tinha intimidade com drogas e é também autor de “Cosmococa”.
Na página policial, diz-se que a operação dos traficantes foi comandada de dentro de presídios. No caderno cultural, lê-se que a obra “Cosmococa” vai ser entronizada em Inhotim, museu-jardim da arte contemporânea.
AFFONSO ROMANO DE SANT’ANA , autor de “Nós, os que Matamos Tim Lopes” (Rio de Janeiro, RJ)