A Corte Arbitral do Esporte anunciou que a nadadora brasileira Rebeca Gusmão foi banida do Esporte por reincidir novamente no envolvimento em casos doping.
Começo pelas acepções do verbo banir: 1 expulsar de um lugar, esp. da pátria; condenar a desterro 2 proibir que continue a fazer parte de ou frequentar (sociedade, recinto etc.) 3 colocar a distância; afastar, afugentar.
Banir uma pessoa significa considerá-la fora definitivamente, implica em retomar a caminhada, de vez, sem ela. É difícil pensar num verbo mais cruel e mais irrecorrível.
Quem conjugou este verbo recentemente foi a Corte Arbitral do Esporte, ao anunciar que a nadadora brasileira Rebeca Gusmão foi banida do Esporte por reincidir novamente no envolvimento em casos doping. Rebeca Gusmão está fora, definitivamente, do Esporte profissional. Foi banida!
Já pensou se a moda pega e comecem a proliferar Conselhos Arbitrais de tudo quanto é coisa? A idéia da caça às bruxas na verdade não é nova. Vem de longe esta prática de um grupo de pessoas, representantes de determinada classe social, julgar, sentenciar e aplicar penas de banimento a pessoas que quebrem regras ou não correspondam aos padrões ou expectativas da categoria a que pertencem.
Assim, um fica fora do esporte, outro está excluído da política, ainda outro é banido de sua classe profissional. Vai surgindo a geração dos banidos e dos excluídos.
No nível pessoal, a prática do banimento também pode ser observada. Desde as ações simples de bloquear ou excluir um contato do seu programa de comunicação instantânea até o banimento de pessoas da nossa própria viva.
O ser humano não está preparado para lidar com quem quebra regras ou desrespeita, por alguma razão, padrões de conduta. Excluindo a pessoa da nossa vida, fortalecemos a crença nos nossos princípios e nos nossos valores, esses acabam se tornando mais importantes que as pessoas mesmas. Colocando-as fora da nossa consideração existencial, damos o caso por encerrado e tocamos a vida sem aquela pessoa.
Jesus Cristo apresentou no Evangelho o antídoto ou a alternativa cristã ao banimento: o perdão.
Arguido sobre se um cristão deveria perdoar quem lhe ofendesse até sete vezes, Jesus Cristo respondeu: “Não te digo até sete, mas até 70 vezes sete” (Mateus 18.22). Assim, ao invés de banir da nossa vida quem nos prejudica ou nos faz mal, a proposta de Jesus é que perdoemos, perdoemos e novamente perdoemos. Quem perdoa não bane.
O banimento lança para longe a pessoa, mas o perdão a convida à comunhão. A expulsão risca a pessoa que errou contra nós ou contra o nosso grupo da nossa realidade relacional, mas perdão risca o erro da pessoa da nossa realidade de vida; a pessoa fica, o seu erro é que é banido.
Durante a vida, muitos vão constituindo ou pertencendo a “conselhos arbitraias” que acabam descambando em conselhos arbitrários. Há muitos colecionadores de banidos (ainda que isso pareça impróprio ) ao nosso redor. Ainda há muita gente que opta por descartar pessoas, quando deveria aplicar-se ao diálogo, à análise madura dos fatos e à construção de relacionamento saudáveis.
Quem bane acredita que banir é uma fórmula válida para preservar relacionamentos saudáveis em sua vida. Nas verdade, porém, banir alguém significa desistir desta pessoas, descartá-la, afugentá-la de vez. Perdoar alguém, por sua vez, implica em agregá-lo, apoiá-lo, ajudá-lo a reerguer-se.
Sem dúvida, Jesus Cristo militou contra o banimento, encarnou a missão de acolher, perdoar e ajudar. “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora.” (João 6.37).
Jesus não baniria Rebeca Gusmão, mas lhe daria a mão e caminharia com ela, dando-lhe forças para prosseguir vencendo seus inimigos pessoais e melhorando um pouco a cada dia.
Observemos que o acolhimento do Evangelho não é um abraçar irresponsável, mas é um abraçar comprometido em abençoar e contribuir para o crescimento daquele que é acolhido.
Sejamos acolhedores como Jesus. Bola pra frente, Rebeca Gusmão!
Lécio Dornas
(Foto: jornal Estado de São Paulo)