O proprietário da olaria era um crente sincero e exemplar. Guardava os mandamentos com zelo vigoroso.
Certo comprador adquiriu e pagou à vista alguns milhares de tijolos. Feita a pilha, marcada com o nome do comprador, alegando este que não poderia transportar no momento os tijolos, queria saber se poderia vir buscá-los em qualquer ocasião.
― Claro que podia, nem precisava perguntar. Todos os dias da semana. Menos domingo.
Naquela olaria ninguém trabalhava aos domingos. Nem era permitido que alguém trabalhasse.
Passados alguns dias, esquecido o comprador da advertência com respeito ao domingo, alugou ele um caminhão e lá se foi, numa ensolarada manhã dominical, buscar seus tijolos. Chegou e começou a agir.
Eis senão quando aparece o vendedor, porrete na mão, e começa a esbordoar os que retiravam os tijolos. E gritava:
― Eu não disse que aqui não se trabalha aos domingos? Tome, para aprender…
Típico da fé sem amor.
(Extraído de VASSÃO, Amantino Adorno. Esteiras de Luz. Rio de Janeiro: Juerp, 1971.)