Lá iam os dois chapinhando na neve. A tempestade piorava a todo instante. O frio enregelava os músculos. Tornava-se difícil prosseguir. Mas aos trancos e barrancos, lá iam.
Foi quando deram com o viajante tombado, já meio coberto por um manto branco de neve. Se não fosse socorrido com urgência, morreria. Mas quem seria tão louco que parasse para socorrer alguém? Apenas lhe faria companhia na morte.
Mesmo assim, um se deteve para auscultar o coração do moribundo. Ainda pulsava com um restinho de vida. O outro, já uns passos à frente, tentava dissuadir o companheiro daquele gesto maluco. E lá se foi, sem esperar.
O bom samaritano, com inaudito esforço, conseguiu pôr às costas o infeliz e lá se foi, agora com redobrado esforço.
Lá adiante, caído, agonizante, o companheiro de jornada. Mas ele, aquecido pelos movimentos e pelo esforço para friccionar e carregar o enregelado, readquiria forças e se salvara. (Leia Eclesiastes 11.1,2)
(Extraído de VASSÃO, Amantino Adorno. Esteiras de Luz. Rio de Janeiro: Juerp, 1971.)