LIDERANÇA E RESPONSABILIDADE MORAL: MOISÉS (Altair Germano)

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“Naquele mesmo dia, falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Sobe a este monte de Abarim, ao monte Nebo, que está na terra de Moabe, defronte de Jericó, e vê a terra de Canaã, que aos filhos de Israel dou em possessão. E morrerás no monte, ao qual terás subido, e te recolherás ao teu povo, como Arão, teu irmão, morreu no monte Hor e se recolheu ao seu povo, porquanto prevaricastes contra mim no meio dos filhos de Israel, nas águas de Meribá de Cades, no deserto de Zim, pois me não santificastes no meio dos filhos de Israel. Pelo que verás a terra defronte de ti, porém não entrarás nela, na terra que dou aos filhos de Israel.” (Dt 32.48-52)
            
É provável que ao ler essa passagem bíblica, você seja tentado a achar que Deus foi duro demais com Moisés. Afinal, foram 40 anos no deserto com mais 40 de peregrinação, para depois não ter o direito de entrar na terra prometida. Vamos então, recapitular os acontecimentos.
“Disse o SENHOR a Moisés: Toma o bordão, ajunta o povo, tu e Arão, teu irmão, e, diante dele, falai à rocha, e dará a sua água; assim lhe tirareis água da rocha e dareis a beber à congregação e aos seus animais. Então, Moisés tomou o bordão de diante do SENHOR, como lhe tinha ordenado. Moisés e Arão reuniram o povo diante da rocha, e Moisés lhe disse: Ouvi, agora, rebeldes: porventura, faremos sair água desta rocha para vós outros? Moisés levantou a mão e feriu a rocha duas vezes com o seu bordão, e saíram muitas águas; e bebeu a congregação e os seus animais. Mas o SENHOR disse a Moisés e a Arão: Visto que não crestes em mim, para me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso, não fareis entrar este povo na terra que lhe dei. São estas as águas de Meribá, porque os filhos de Israel contenderam com o SENHOR; e o SENHOR se santificou neles.” (Nm 20.7-13)
 
A ordem de Deus ao líder Moisés foi clara: “falai à rocha, e dará a sua água”. Talvez, debaixo de uma grande carga de estresse ou com uma pequena (ou grande) alteração de humor, Moisés, que deveria simplesmente falar à rocha, resolveu tomar um outro caminho.
 
Antes de avançar nos comentários, vale lembrar que a intenção de Deus era mais uma vez, de maneira graciosa e generosa, permitir que Moisés participasse como canal por onde a Sua benção fluiria. Pense bem, o Deus que fez cair pão e carne do céu (Êx 16), não poderia fazer cair água (que é o mais natural) sem a ajuda de mãos humanas?
 
Em primeiro lugar, diante da ordem divina, Moisés não fala à rocha, antes, fala ao povo. E o que fala? Asperamente chama o povo de “rebeldes”, para em seguida, de forma bastante arrogante, deixar implícito através do “faremos sair água desta rocha para vós outros?”, um certo mérito pessoal pelo feito. Moisés nos lembra aqueles pregadores que recebem a orientação divina de entregar uma simples e poderosa mensagem, mas, acabam dando o seu pequeno show.
Em segundo lugar, extravasando todos os seus sentimentos, ressentimentos ou pressões, violentamente ele fere duas vezes a rocha com o seu bordão. As águas jorram? É claro que sim! Apesar do erro do líder, o povo carecia de socorro, alimento e ajuda. A atitude extrema e infeliz de Moisés lhe custaria muito caro.
 
Num primeiro momento, como aconteceu com Adão e Eva, e também com Mirian e Arão, há um silêncio diante da sentença divina. Um outro texto narra o episódio:
 
“Depois, disse o SENHOR a Moisés: Sobe a este monte Abarim e vê a terra que dei aos filhos de Israel. E, tendo-a visto, serás recolhido também ao teu povo, assim como o foi teu irmão Arão; porquanto, no deserto de Zim, na contenda da congregação, fostes rebeldes ao meu mandado de me santificar nas águas diante dos seus olhos. São estas as águas de Meribá de Cades, no deserto de Zim.” (Nm 27.12-14)
 
Na passagem acima, o silêncio de Moisés diante dos fatos é também notório. Porém, algo na fala de Deus me chama a atenção. Moisés acusa o povo de rebeldes, mas, diante das circunstâncias e do Senhor, o rebelde no episódio é ele mesmo: “fostes rebelde ao meu mandado”.
 
Mas espere! Em minha última tentativa de analisar o comportamento de Moisés e a punição vinda de Deus, me deparei com a seguinte narrativa bíblica:
 
“Também eu, nesse tempo, implorei graça ao SENHOR, dizendo: Ó SENHOR Deus! Passaste a mostrar ao teu servo a tua grandeza e a tua poderosa mão; porque quedeus há, nos céus ou na terra, que possa fazer segundo as tuas obras, segundo os teus poderosos feitos? Rogo-te que me deixes passar, para que eu veja esta boa terra que está dalém do Jordão, esta boa região montanhosa e o Líbano. Porém o SENHOR indignou-se muito contra mim, por vossa causa, e não me ouviu; antes, me disse: Basta! Não me fales mais nisto.” (Dt 3.23-26)
 
Moisés, diante do seu erro e da sentença proferida por Deus, exalta a Sua grandeza e poder, implorando ao SENHOR que se instrumentalize de sua graça, para que o deixe entrar na boa terra. Ele nos relata também, que o pedido não foi atendido, e pior, o Senhor se indignou mais ainda, lhe ordenando que não falasse mais sobre o assunto.
 
O grande problema de Moisés não foi a sua atitude rebelde em ferir a rocha, nem a insistência no pedido da graça divina, mas, a sua incapacidade de assumir o erro cometido. Ele não o assume, antes, insiste na idéia de que a culpa de seus atos deveria ser creditada ao povo (transferência de responsabilidade): “Porém o Senhor indignou-se muito contra mim, por vossa causa”.
 
Por trabalhoso e difícil que seja o grupo, nada justificará a desobediência do seu líder a Deus, no tratamento com estas pessoas. Pensar ou tentar transferir para o povo a responsabilidade de seus desequilíbrios emocionais, de suas falas agressivas, de suas posturas ameaçadoras e de seus atos impensados, não lhe ajudará em nada na busca do favor divino.
 
                Assuma as responsabilidades!