LIDERANÇA E RESPONSABILIDADE MORAL: SAUL (Altair Germano)

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“Disse Samuel a Saul: Enviou-me o SENHOR a ungir-te rei sobre o seu povo, sobre Israel; atenta, pois, agora, às palavras do SENHOR. Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Castigarei Amaleque pelo que fez a Israel: ter-se oposto a Israel no caminho, quando este subia do Egito. Vai, pois, agora, e fere a Amaleque, e destrói totalmente a tudo o que tiver, e nada lhe poupes; porém matarás homem e mulher, meninos e crianças de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos.” (1 Sm 15.1-3)
 
Em meio a uma crise de liderança interna, e preocupados com o fortalecimento dos povos vizinhos, os ancião de Israel foram a Ramá, e lá pediram ao velho Samuel que um rei fosse constituído sobre eles (1 Sm 8.1-5). Entristecido, mas, seguindo as devidas orientações de Deus (1 Sm 8.7-22), Samuel unge a Saul como rei de Israel (1 Sm 10).
 
Em pleno exercício de seu governo, Saul recebe ordens expressas do Senhor através de Samuel para ferir e destruir Amaleque, e tudo que tiver. Após convocar o povo para a ação, investir e dominar os amalequitas, diz a Bíblia que:
 
“E Saul e o povo pouparam Agague, e o melhor das ovelhas e dos bois, e os animais gordos, e os cordeiros, e o melhor que havia e não os quiseram destruir totalmente; porém toda coisa vil e desprezível destruíram.” (1 Sm 15.9)
 
Diante do fato, a palavra do Senhor veio a Samuel lhe falando sobre a desobediência de Saul. Indo ao encontro de Saul, Samuel foi informado que no Carmelo Saul tinha levantado para si um monumento (1 Sm 15.12). Percebam que o monumento não fora levantado para o Senhor. Este ato de Saul, fruto de sua desobediência, loucura, prepotência, arrogância e vaidade, nos lembra alguns erros gravíssimos expostos na narrativa bíblica:
 
“Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo topo chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra.” (Gn 11.4)
 
“Ora, Absalão, quando ainda vivia, levantara para si uma coluna, que está no vale do Rei, porque dizia: Filho nenhum tenho para conservar a memória do meu nome; e deu o seu próprio nome à coluna; pelo que até hoje se chama o Monumento de Absalão. “ (2 Sm 18.18)
 
“falou o rei e disse: Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com o meu grandioso poder e para glória da minha majestade?” (Dn 4.30)
 
Há algo nas pessoas envolvidas nos episódios acima descritos, que faltou em Saul, e falta em muitos líderes na atualidade: sinceridade. Apesar do grande erro em suas intenções e ações, os protagonistas destas cenas e atos foram claros e sinceros ao manifestarem suas reais intenções. Ao longo da história e nos dias atuais, milhares de momunentos (templos, hospitais, escolas, abrigos, praças e outros) são erguidos “supostamente” para a glória de Deus, quando na realidade, no íntimo de seus planejadores e executores está a louca intenção de manifestação de poder, de glória pessoal e da perpetuação de seus nomes.
 
Inquirido por Samuel acerca de não ter obedecido ao Senhor, Saul argumenta:
 
“De Amaleque os trouxeram; porque o povo poupou o melhor das ovelhas e dos bois, para os sacrificar ao SENHOR, teu Deus; o resto porém, destruímos totalmente.” (1 Sm 15.15)
 
Assim como tantos outros, Saul, diante do seu erro, tenta transferir as suas responsabilidades.
Mesmo repreendido por Samuel (1 Sm 15.16-19), Saul insiste em sua tola e covarde defesa:
 
“Então, disse Saul a Samuel: Pelo contrário, dei ouvidos à voz do SENHOR e segui o caminho pelo qual o SENHOR me enviou; e trouxe a Agague, rei de Amaleque, e os amalequitas, os destruí totalmente; mas o povo tomou do despojo ovelhas e bois, o melhor do designado à destruição para oferecer ao SENHOR, teu Deus, em Gilgal.” (1 Sm 15.20-21)
 
As palavras de Samuel, diante do que escuta da parte de Saul, se tornam mais duras, e logo é anunciado que o Senhor já havia o rejeitado como rei. Eis a oportunidade para de uma vez por todas, Saul assumir sua responsabilidade como líder, mas, o que Saul diz?
 
“Então, disse Saul a Samuel: Pequei, pois transgredi o mandamento do SENHOR e as tuas palavras; porque temi o povo e dei ouvidos à sua voz. Agora, pois, te rogo, perdoa-me o meu pecado e volta comigo, para que adore o SENHOR.” (1 Sm 15.24-25)
 
Pobre Saul. Como a estratégia de transferir a culpa para o povo não funcionou, apelou para a alegação de medo. Em seguida veio o pedido de perdão. Mas, como poderia Saul ser perdoado, quando não assumiu o seu pecado? Como ser purificado e limpo, quando não confessou que estava “sujo”? Como ser objeto da graça e da misericórdia do Senhor, quando não se humilhou em sua presença?
 
Samuel reforçou a sentença do Senhor, e virando-se para ir embora, teve o seu manto rasgado por Saul, numa tentativa desesperada de restauração:
 
“Virando-se Samuel para se ir, Saul o segurou pela orla do manto, e este se rasgou. Então, Samuel lhe disse: O SENHOR rasgou, hoje, de ti o reino de Israel e o deu ao teu próximo, que é melhor do que tu.” (1 Sm 15. 27-28)
 
Samuel afirmou que o sucessor de Saul seria melhor do que ele, mas, como, se seria tão humano quanto Saul? Ser melhor, não e uma questão de ser perfeito, é algo que tem haver como a nossa disposição e sinceridade de coração em relação a Deus.
 
Na última fala de Saul, ele diz: “Pequei”. Acontece que esta suposta confissão vem acompanhada de um pedido inusitado: “honra-me, porém, agora, diante dos anciãos do meu povo e diante de Israel; e volta comigo, para que adore o Senhor, teu Deus” (1 Sm 15.30).
 
Toda a preocupação de Saul estava com a sua reputação diante dos anciãos e do povo. Há outra coisa na fala de Saul é digna de atenção. Por três vezes, nos versos 15, 21 e 30, ele se refere ao Senhor como “teu Deus”, em vez de “meu Deus”. Saul não cresceu em intimidade com o Senhor.
Penalizado (1 Sm 15.11, 35), Samuel seguiu a Saul, e diz a Bíblia que este adorou o Senhor.
                Assuma as responsabilidades!