REFÉNS DA COMPLEXIDADE E DO PESO DA MÁQUINA: A IMPOTÊNCIA DE ALGUMAS LIDERANÇAS EVANGÉLICAS NO BRASIL (Altair Germano)

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“Ao menos metade deles eram retos, piedosos, e desejavam dar uma liderança digna à cristandade. A maioria deles foi capaz e diversos lutaram para reformar a Igreja. […] Todavia, o sistema era demasiado para os papas. Diversos deles sucubiram, ao menos a ponto de colocar seus parentes em postos lucrativos e importantes. A real complexidade e o peso da máquina, que fora construída com a prosperidade da cristandade e dos milhões de indivíduos que constituíam sua população como seu propósito, acarretavam abusos que mesmo os mais fortes e os de mente mais elevada dos pontífices de Avinhão não podiam eliminar e, raramente, impediam. O papado pagava o preço de ter utilizado a espécie de poder que parecia essencial à realização de seus objetivos, mas que acarretava contradições com a ética cristã e com os princípios espirituais”.
(kenneth Scott Latourette)
 
O quadro narrado acima diz respeito a realidade da igreja no século XIV, nos anos que antecederam a Reforma Protestante. Mais uma vez a história nos alerta para alguns males que se observam na atualidade evangélica brasileira.
 
Ao contrário dos que muitos pensam, alguns Papas assumiram suas funções bem intencionados. Acontece que a igreja, em decorrência das transformações ocorridas ao longo dos anos para dar sustenção ao seu poderio espiritual e secular, se transformou numa grande máquina cujas engrenagens estavam demasiadamente firmadas.
 
O sistema politico eclesiástico estava apodrecido por corrupções, compra e venda de cargos eclesiásticos, partidos internos, nepotismo, pompa e luxo, imoralidade sexual e etc. A máquina eclesiástica estava tão engrenada, que por bem intencionado e íntegro que fosse, o Papa ao assumir a “Cadeira de Pedro” não conseguia mudar o sistema, pelo contrário, acabava se tornando refém do modelo construido inicialmente nos anos do Imperador Constantino.
 
Por essa época (Séc. XIV), os cardeias ganharam força e passaram a tirar e colocar Papas de acordo com os benefícios que isso lhes dariam. A confusão foi tanta em tornos de interesses pessoais, que no ano de 1309 foi dado início ao que se designou de “O Cativeiro Babilônico da Igreja“, período em que os papas governavam a igreja a partir de Avinhão.
 
No ano de 1378 o quadro se agravou. A corrupção e os interesses dentro da “máquina” fizeram com que dois papas governassem simultaneamente a igreja, um em Roma (Urbano VI) e o outro em Avinhão (Clemente VII), dando início ao Grande Cisma. Cada um deles reivindicava a legitimadade de seu cargo e abominava o outro. Parte da Europa seguiu o papa romano (A Itália central e norte, a maior parte da Alemanha, Inglaterra, Escandinávia, Boêmia, Polônia, Flandes, e Portugal), enquanto a outra parte seguiu o papa de Avinhão (Espanha, França, Escócia e parte da Alemanha).
 
Em 1409 aconteceu o mais absurdo. Após o tumultuado Concílio de Pisa, que tentou acabar com o Grande Cisma, três papas passaram a governar a igreja ao mesmo tempo: Gregório XII, Bento XIII e Alexandre V. O Cisma papal só acabou em 1417 com a eleição do Papa Martinho V no Concílio de Constança.
 
Hoje, no Brasil, em muitas denominações evangélicas, lamentavelmente a história se repete. O desejo pelo poder, associado aos interesses pessoais de muitos, produziram cismas nas mais sérias igrejas no Brasil. Não são poucas as que já possuem dois “Papas”(Líder Nacional), sendo que algumas já caminham para o que chamo de “Crise de Pisa”, ou seja, uma terceira (ou quarta, quinta…) grande divisão, com o surgimento de um terceiro Papa nacional.
 
Bons presidentes de igrejas e convenções, capazes, bem intencionados, íntegros e piedosos, acabam se tornando reféns das “máquinas modernas” e dos atuais “cardeais de terno e gravata”. Pensam em tentar mudar o sistema, mas, por alguma razão se percebem impotentes ou impossibilitados.
 
Da história podemos tirar boas lições e maravilhosos aprendizados, ou podemos repetir tragicamente e obstinadamente os seus grandes erros.
 
A decisão está com cada um de nós!
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