CREDO APOSTÓLICO, O CREDO CRISTÃO, 3 – Creio em Deus

CREIO EM DEUS PAI, TODO-PODEROSO, CRIADOR DOS CÉUS E DA TERRA

Romanos 8.14-17

O Credo dos Apóstolos nos convida a fé, nos seguintes termos:

Creio em Deus Pai, Todo-poderoso,
Criador dos Céus e da terra.

 

O TODO-PODEROSO CRIADOR DOS CÉUS E DA TERRA

Estamos diante de três títulos para Deus: Pai, Todo-poderoso e Criador dos céus e da terra.
Esses títulos são cunhados na Bíblia. O Credo dos Apóstolos coincidentemente os usa do mais citado para o menos.

A expressão “Criador dos céus e da terra” só aparece duas vezes, ambas no Antigo Testamento, embora o título “Criador” ocorram 26 vezes, a maioria (22) no Antigo Testamento.
Afirmar que Deus é o “Criador dos céus e da terra” implica em aceitar, pela fé, que Deus existe e Sua obra criada no-lo mostra. Afirmar que Deus é o “Criador dos céus e da terra”, o que inclui os seres humanos, põe em destaque que a criação não é obra do acaso, mas de um plano amoroso. Afirmar que Deus é o “Criador dos céus e da terra” pressupõe a convicção que o Criador e a criação são seres diferentes; o Criador não faz parte, como ensinam os panteístas, da natureza, já que esta foi criada.

Quanto a “Todo-poderoso”, 16 vezes a Bíblia assim se refere a Deus: 7 no Antigo Testamento e 9 no Novo.
Dizer que Deus é “Todo-poderoso” significa dizer que é impossível que Ele esteja ausente no mundo, [BALTHASAR, Hans Urs von. Meditaciones sobre el credo apostólico. Salamanca: Sígueme, 1991, p. 33.] o que deve nos soar como uma palavra de consolo, sobretudo na hora do sofrimento próprio ou dos outros. Crer que Deus é “Todo-poderoso” quer dizer que Ele não precisa agir de modo arbitrário ou com violência, o que devemos receber com alegria diante da Sua forma amorosa de nos conduzir em direção ao Seu amor. Dizer Deus é “Todo-poderoso” implica admitir que nós não somos todo-poderosos e que, tendo nós algum poder sobre outras pessoas, devemos trata-las amorosamente, como Deus nos trata.

 

ABA, PAI

Dos títulos, o mais citado mesmo é o de “Pai”.
No Antigo Testamento, por sete vezes Deus é chamado de Pai. Leiamos algumas delas:

“Pai para os órfãos e defensor das viúvas é Deus em sua santa habitação”. (Salmo 68.5)
“Ele me dirá: ‘Tu és o meu Pai, o meu Deus, a Rocha que me salva’”. (Salmo 89.26)
“Entretanto, tu és o nosso Pai. Abraão não nos conhece e Israel nos ignora; tu, Senhor, és o nosso Pai, e desde a antiguidade te chamas nosso Redentor”. (Isaías 63.16)
“Contudo, Senhor, tu és o nosso Pai. Nós somos o barro; tu és o oleiro. Todos nós somos obra das tuas mãos”. (Isaías 64.8)

Não temos como ler as menções no Novo Testamento pela profusão delas: o título “Pai” para Deus aparece em 238 capítulos, a maioria nos Evangelhos, sobretudo em João (100 vezes), quase todas na boca de Jesus, o que nos ensina que, quando chamamos a Deus de “Pai”, nós O estamos vendo pelos olhos do Seu Filho Jesus.
Leiamos algumas das passagens em que Deus é tratado como “Pai”:

“Para nós, porém, há um único Deus, o Pai, de quem vêm todas as coisas e para quem vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem vieram todas as coisas e por meio de quem vivemos”. (1Coríntios 8.6)
“Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes”. (Tiago 1.17)
“Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu. sermos chamados filhos de Deus, o que de fato somos! Por isso o mundo não nos conhece, porque não o conheceu”. (1João 3.1)

Várias vezes Deus é exaltado como o Pai de Jesus Cristo:

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação”. (2Coríntios 1.3)
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo”. (Efésios 1.3)
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Conforme a sua grande misericórdia, ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos”. (1Pedro 1.3)

Dentre tantos textos, vamos nos aproximar de um deles (Romanos 8.14-17), por

“Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
Pois vocês não receberam um espírito que os escravize para novamente temerem, mas receberam o Espírito que os torna filhos por adoção, por meio do qual clamamos: ‘Aba, Pai’.
O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus.
Se somos filhos, então somos herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, se de fato participamos dos seus sofrimentos, para que também participemos da sua glória”.
(Romanos 8.14-17)

 

O apóstolo Paulo usa a mesma ideia em Gálatas 4.6, quando afirma, mais sinteticamente:

“E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho ao coração de vocês, e ele clama: ‘Aba, Pai'”. (Gálatas 4:6)

A expressão conjunta “Aba” (no aramaico) e “Pai” (a partir do grego, “pater”), que Paulo ecoa, foi usada para Jesus em uma de suas orações. Na verdade, Jesus só orava a Deus como “Pai”.

“E [Jesus] dizia: ‘Aba, Pai, tudo te é possível. Afasta de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu queres'”. (Marcos 14.36)

 

A BÊNÇÃO DO PAI

Concentremo-nos em Romanos 8.14-17.

“Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
Pois vocês não receberam um espírito que os escravize para novamente temerem, mas receberam o Espírito que os torna filhos por adoção, por meio do qual clamamos: ‘Aba, Pai’.
O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus.
Se somos filhos, então somos herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, se de fato participamos dos seus sofrimentos, para que também participemos da sua glória”.
(Romanos 8.14-17)

1. Quem tem a Deus como Pai é guiado por Ele na vida.
(“todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” — verso 14).

Somos guiados por idéias. Somos guiados por ideais. Somos guiados por valores nos quais acreditamos.
Somos guiados por tradições. Somos guiados pelas crenças de nossas famílias. Somos guiados até sem saber que somos guiados.
Somos guiados por instintos. Somos guiados por desejos. Somos guiados por medos. Somos guiados pela coragem.
Somos guiados por pessoas.
Se temos a Deus como o nosso Pai, somos guiados por Ele.
Max Lucado conta uma história vivida com sua filha adolescente. Escreveu ele:
“Minha filha Jenna e eu passamos vários dias na velha cidade de Jerusalém. (Eu prometera levar cada uma de minhas filhas a Jerusalém, quando completassem doze anos.) Uma tarde, quando saíamos pelo portão Jafa, vimo-nos atrás de uma família de judeus ortodoxos — um pai e suas três filhinhas. Uma das garotas, talvez com quatro ou cinco anos, ficou alguns passos atrás, e não pôde enxergar o pai. “Aba!”, chamou ela. Ele parou e olhou. Só então compreendeu que se afastara de sua filha. “Aba!”, chamou ela, novamente. Ele a localizou e imediatamente estendeu-lhe a mão. Ela a segurou, e eu, mentalmente, tomei nota enquanto eles prosseguiam. Eu queria ver as ações de um aba.
Ele segurou firmemente a mão da filha, enquanto desciam a rampa. Quando ele parou numa rua movimentada, ela caminhou pelo meio-fio, e ele a puxou de volta. Quando o semáforo abriu, ele guiou-a juntamente com suas irmãs através da interseção. No meio da rua, ele abaixou-se, tomou-a nos braços, e continuou a jornada”.
Lucado, então, conclui:

“Não é disso que todos precisamos? Um aba que ouve quando chamamos? Que segura nossa mão, quando estamos fracos? Que nos guia através das interseções agitadas da vida? Não carecemos todos de um aba que nos tome nos braços, e nos carregue para casa? Todos precisamos de um pai”. [LUCADO, Max Lucado. A Grande Casa de Deus. Citado em

2. Quem tem a Deus como Pai não tem medo.
(“Vocês não receberam um espírito que os escravize para novamente temerem” — verso 15a)

Quando chama a Deus de Pai, Jesus revela como se relacionava com o Criador. Ele falava com Deus como uma criança fala com o seu pai: “cheio de confiança e sentindo-se acolhido e, ao mesmo tempo, respeitoso e pronto à obediência”. [JEREMIAS, Joachim. Teologia do Novo Testsmento. São Paulo: Paulinas, 1977, p. 108.]
Quando Paulo adverte contra um sentimento de medo diante de Deus, tem em mente a religião judaica, que propunha uma relação de terror, em que a aparição de Deus a uma pessoa era temida, como se a morte fosse certa. Os judeus antigos não oravam a Deus como Pai. É Jesus que introduz esta possibilidade. Não podemos voltar a um relacionamento que não seja aquele inspirado pelo ensino e exemplo de Jesus.
Precisamos banir, para sempre,  canções como esta:

“Cuidado olhinho o que vê!
Cuidado olhinho o que vê!
O Salvador do céu está olhando pra você!
Cuidado olhinho o que vê!

Cuidado boquinha o que fala!
Cuidado boquinha o que fala!
O Salvador do céu está olhando pra você!
Cuidado boquinha o que fala!

Cuidado mãozinha o que pega!
Cuidado mãozinha o que pega!
O Salvador do céu está olhando pra você!
Cuidado mãozinha o que pega!

Cuidado pezinho onde pisa!
Cuidado pezinho onde pisa!
O Salvador do céu está olhando pra você!
Cuidando pezinho onde pisa!
Cuidado olho, boca, mão e pé!
Cuidado olho, boca, mão e pé!
O Salvador do céu está olhando pra você!
Cuidado olho, boca, mão e pé!”
(Cuidado olho o que vê)

Quem ama a Deus não tem medo de Deus. Quem ama a Deus se relaciona com Ele como os seres humanos se relacionam com pais amigos e bons. Infelizmente, nem sempre isto acontece. Ainda há pais que impõem medo, por abusarem moralmente de seus filhos. Então, se seu pai lhe impõe medo, pense num Deus radicalmente diferente. Se seu pai é legal, pense num Deus infinitamente melhor pai, perfeito. Pense nEle como o poeta bíblico pensavam: “O Senhor é a minha luz e a minha salvação; de quem terei temor? O Senhor é o meu forte refúgio; de quem terei medo?” (Salmo 27.1).
A mensagem dEle é a mesma dada aos pastores no natal de Jesus: Não tenham medo. O negócio de Deus é a alegria. O negócio de Jesus é alegria, que se expressa em termos de paz; disse Ele: “Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo (João 14.27).

3. Ter a Deus como Pai não é um direito natural, mas uma bênção espiritual.
“[Vocês] receberam o Espírito que os torna filhos por adoção, por meio do qual clamamos: ‘Aba, Pai’. O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus” — versos 15b e 16).

Um dia destes um pastor orava na televisão, pedindo os telespectadores colocassem a palma da sua mão na mão dele: “eu ordeno que a doença desta pessoa o abandone”. É como se Ele tivesse esse direito, direito que conquistou, para ordenar qualquer coisa, como se ordenasse a Deus. Não temos poder algum, senão o poder de pedir, mas este é um poder imenso porque dirigido a um Pai imensamente amoroso.
Um dia desses, numa reportagem na televisão, uma mulher com mais de 65 anos dizia que viajar de graça nos ônibus era um direito que ela conquistou. O discurso é bonito, mas é falso: ela não conquistou nada. Ela apenas usava uma lei que lhe dava este direito.
Uso estes exemplos porque está disseminada uma cultura dos direitos, que as pessoas acham que podem transplantar para o território da fé. Então, vamos la. A graça de Deus não é uma conquista; não fizemos nada para recebe-la, embora tendamos a nos achar melhores do que os outros porque recebemos de graça a graça.Nós não conquistamos o direitos de sermos filhos de Deus; foi Jesus que, com a sua morte, conquistou-a para nós. Na cruz, fomos todos adotados como filhos de Deus, se aceitamos a cruz por nós. Adotados, podemos orar: “Aba, Pai”. Adotados, somos lembrados pelo Espírito Santo que somos filhos de Deus.
Deus espera que o chamemos de Pai, como Jesus o chamava (Mateus 11.25, Mateus 26.42, Lucas 23.34, João 5.17, João 5.43, João 10.17, João 11.41, João 14.11, João 17.25, entre dezenas de textos). Jesus nos ensina a orar assim “Pai nosso, que estás nos céus!” (Mateus 6.9).
A maior bênção que uma pessoa pode receber é ser filho de Deus. O resto é secundário.

4. Quem tem a Deus como Pai é irmão de Jesus Cristo.
“Se somos filhos, então somos herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, se de fato participamos dos seus sofrimentos, para que também participemos da sua glória” — verso 17).

Deus tem um Filho primogênito, e seu nome é Jesus (“Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito sobre toda a criação” — Colossenses 1.15; Jesus “é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia” — Colossenses 1.18; Jesus “é a testemunha fiel, o primogênito dentre os mortos e o soberano dos reis da terra. Ele nos ama e nos libertou dos nossos pecados por meio do seu sangue” (Apocalipse 1.5). Este filho primogênito é o herdeiro de Deus Pai.
Nós, a partir da cruz, fomos adotados como filhos de Deus. Então, somos irmãos de Jesus. Ele mesmo chamou seus discípulos (que o somos também) de irmãos. “Jesus disse: ‘Não me segure, pois ainda não voltei para o Pai. Vá, porém, a meus irmãos e diga-lhes: Estou voltando para meu Pai e Pai de vocês, para meu Deus e Deus de vocês’” (João 20.17). O autor aos Hebreus explica por que: “Ora, tanto o que santifica quanto os que são santificados provêm de um só. Por isso Jesus não se envergonha de chamá-los irmãos” (Hebreus 2.11).
Ás vezes, brincamos que vamos deixar apenas dívidas para os nossos herdeiros. Bem, Jesus também nos deixou uma dívida: seu sofrimento. Quando somos irmãos completos de Jesus, sofremos com ele, que disse:

  • “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (Mateus 10.38).
  • “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. (Marcos 8.34).
  • “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lucas 9.23).
  • “Aquele que não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo” (Lucas 14.27)

 

Discípulo de Jesus é quem carrega a cruz, a cruz da vergonha (porque seus amigos rirão de sua escolha), a cruz do companheirismo (porque, carregando a cruz, identificamo-nos com Jesus, que carregou a nossa cruz), a cruz da obediência (ao fazer o que Jesus nos determina). Somos chamados para sofrer e morrer. Jesus disse, referindo-se a si mesmo: “se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará muito fruto” (João 12.24). Somos filhos de Deus porque o Filho de Deus morreu.
Então, somos tornados co-herdeiros com Jesus, agora na sua glória. O apóstolo Paulo nos instrui neste paradoxo: “Se dessa forma fomos unidos a ele [Jesus] na semelhança da sua morte, certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição” (Romanos 6.5). Portanto, quando participamos da sua morte (na cruz), conhecemos “o poder da sua ressurreição” (Filipenses 3.10a).

 


Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, 
Criador dos Céus e da terra.

Esta deve ser a nossa confissão.

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