Números 6.22-27: DEUS ABENÇOA E GUARDA, COM GRACA E PAZ

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Quando a vida está seca, só o óleo da graça de Deus pode refresca-la.

Quando a vida está enferma, só o remédio da graça de Deus pode cura-la.
Quando a vida está sem sentido, só o sorriso da graça de Deus pode reanima-la.
Quando a vida está só na sua solidão, sem ninguém para um abraço, só a presença da graça de Deus pode lhe fazer companhia.
Quando a vida está cansada de sonhar sem nada de bom acontecer, só a bondade da graça de Deus é bálsamo que faz descansar.
Quando a vida está sem esperança, só a presença da graça de Deus pode ampliar, pela primeira vez ou novamente, os seus horizontes.
Quando a vida se afunda na perplexidade das perguntas, só a sabedoria da graça de Deus pode trazer as respostas que reacendem a vontade de existir.
Quando a vida está prestes a admitir o triunfo definitivo da violência e da injustiça, só a soberania da graça pode intervir e reverter as conseqüências das desgraças.
 
Deus manifesta para conosco a sua graça. Um dos meios que usa para manifestar a sua graça é a vida daqueles que já foram alcançados por sua graça.
Por isto, Ele nos pede para que abençoemos os outros, como lemos em Números 6.22-27.
 
O Senhor disse a Moisés: 
“Diga a Arão e aos seus filhos: Assim vocês abençoarão os israelitas: 
 
‘O Senhor te abençoe e te guarde; 
o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te conceda graça; 
o Senhor volte para ti o seu rosto e te dê paz’. 
 
Assim eles invocarão o meu nome sobre os israelitas, e eu os abençoarei”. 
(Números 6.22-27)
Esta é uma bênção permanente para todos nós, embora ensinada num contexto (antiga aliança) diferente do nosso (nova aliança).
 
1. “Assim vocês [Arão e seus filhos] abençoarão os israelitas” (Números 6.24).
 
Abençoar foi uma tarefa dada por Deus para Arão e seus descendentes, isto é, para os sacerdotes. Os hebreus, embora o tenham ouvido, não entenderam que eram um povo sacerdotal, preferindo ficar com uma classe de sacerdotes. Deus deixou bem claro o seu propósito maior: 
 
“Logo Moisés subiu o monte para encontrar-se com Deus. E o Senhor o chamou do monte, dizendo: 
‘ Diga o seguinte aos descendentes de Jacó e declare aos israelitas: 
Vocês viram o que fiz ao Egito e como os transportei sobre asas de águias e os trouxe para junto de mim. Agora, se me obedecerem fielmente e guardarem a minha aliança, vocês serão o meu tesouro pessoal dentre todas as nações. Embora toda a terra seja minha, vocês serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa. Essas são as palavras que você dirá aos israelitas”. (Êxodo 19.3-6)
 
Assim mesmo um véu separando os crentes em geral dos sacerdotes em particular foi tecido (Êxodo 26.33), até ser rasgado por Jesus na cruz (“E o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo” — Marcos 15.38).
Nós temos melhores possibilidades de o entender porque temos o Novo Testamento, onde também lemos.
 
“Vocês também estão sendo utilizados como pedras vivas na edificação de uma casa espiritual para serem sacerdócio santo, oferecendo sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo” (1Pedro 2.5).
“Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pedro 2.9).
 
Abençoar é para todos os cristãos, porque todos os cristãos somos sacerdotes. Como é difícil nos livrarmos desta herança judeo-católica, para entendermos que somos sacerdotes. Os pastores não são sacerdotes, porque não desenvolvem nenhum ofício que qualquer crente não possa desenvolver. Temos inventado o que Deus não inventou.
Recentemente, em nossa igreja, convidei uma missionária (não pastora) para orar e, em seguida, um pastor para dar a bênção apostólica. Por que a missionária não poderia faze-lo? A tradição que inventamos diz que não poderia. Talvez não o fizesse, mas poderia. Dar a bênção apostólica não é prerrogativa de pastor; é privilégio de todo cristão. Ministrar a Ceia do Senhor não é prerrogativa de um pastor, mas da igreja. Batizar não é prerrogativa de um pastor, mas da igreja. Ela é quem delega.
Insisto neste ponto porque a administração da graça, mesmo a graça mediada pela instituição, não pode ser limitada a uma classe de cristãos, mas para todos os cristãos. Reinsisto neste ponto porque os cristãos acabam achando que não têm o mesmo compromisso de santidade de um pastor, que não precisam viver pela graça (porque isto é para pastor) e que não precisam viver com graça (como se isto fosse para pastor).
Os cristãos somos um povo sacerdotal, chamado a abençoar todos aqueles com os quais convivemos. Todos devemos ser meios de graça para os ainda sem a graça.
Cada um de nós precisa se reavaliar, para responder honestamente se tem sido um meio de graça ou pedra de tropeço.
Há pessoas que desistiram de ser canais de bênção. São aquelas que olham para os seus vícios e desistir de viver livres deles e se condenam a si mesmas e aos outros à desgraça. São aquelas que olham para o seu temperamento e desistem de permitir que o Espírito Santo as controla, tropeçando e fazendo tropeçar. São aquelas que se acham vencidas pela amargura e não permitem que o Espírito Santo sopre a paz nos seus corações. Mesmo aquelas pessoas que lutam com seus vícios (vencendo, perdendo, vencendo), contra seus temperamentos (deixando-se moldar, rebelando em serem moldadas, deixando-se moldar) e contra as rochosas paredes dos seus corações (experimentando a paz, experimentando o ódio, experimentando a paz) podem ser meios de graça.
A instrução bíblica é inspiradora, embora dura: “Abençoem aqueles que os perseguem; abençoem, e não os amaldiçoem” (Romanos 12.14).
 
2. “O Senhor te abençoe e te guarde” (Números 6.25).
Nós abençoamos alguém quando desejamos que Deus o abençoe. Na verdade, só Deus tem o poder de abençoar. Nós temos apenas o privilégio (o que é muito) de desejar esta bênção para o outro.
Nossa sociedade prefere a “sorte” à “bênção” de Deus. Nossa sociedade prefere atribuir todas as coisas boas à força conquistadora do homem. Nossa sociedade crê num grande deus chamado dinheiro, como se tudo pudesse ser comprado, e em sua coadjuvante, a deusa de nome tecnologia, como se ela fosse capaz de nos prover todas as coisas boas.
Somos chamados a receber a bênção de Deus. O que somos é bênção. O que temos é bênção. Nossa saúde é bênção. Nossa doença é bênção. A abundância de bens é bênção. A escassez de coisas é bênção. A fama é bênção. O anonimato é bênção. A força é bênção. A fraqueza é bênção. O Senhor nos abençoa, todos os dias, os dias todos.
Somos chamados a desejar que Deus nos abençoe e abençoe os outros também. Então, penso nos nossos guarda-roupas: quantas camisas (ou vestidos) temos, além das que precisamos. Penso nos nossos sapateiros: quantos sapatos ou sandálias temos, além do que precisamos contar. (Vocês sabiam que existe um software em que as pessoas cadastram suas roupas e sapatos, de tantos que têm, e depois recebem sugestões de como combinar cores e modelos entre si?) Penso nos nossos baús: quantas bonecas bonitas, quantos presentes recebidos e mantidos intatos. Penso nas nossas bibliotecas, cheias de livros que já lemos e que não iremos precisar, mas que poderiam fazer tantas pessoas crescerem no conhecimento e na imaginação.
Por que não abrimos os armários ou aliviamos as estantes e, então, distribuímos coisas boas (livros, camisas, sapatos, toalhas), até mesmo queridas, para abençoarmos outras pessoas?
Tem gente que guarda por décadas presentes de casamento sem os usar, sem os doar, alguns até se estragar. Não abrimos nossos armários para o outro porque não nos abrimos para os outros. Estamos tão fechados quanto nossos guarda-roupas. 
Queremos ser abençoados, mas não abençoar. Deus quer nos abençoar e quer que desejemos a sua bênção, com palavras e com ações, para os outros.
 
O Deus que abençoa é o Deus que guarda.
A Bíblia nos garante: “Tu, Senhor, guardarás em perfeita paz aquele cujo propósito está firme, porque em ti confia” (Isaías 26.3). Afinal, Deus “guarda a vereda do justo e protege o caminho de seus fiéis” (Provérbios 2.8).
A promessa é clara: “A paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus” (Filipenses 4.7). Por esta razão, não precisamos andar “ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças”, devemos apresentar nossos “pedidos a Deus” (Filipenses 4.6). 
Precisamos nos lembrar, do amanhecer ao dormir, que “se não é o Senhor que vigia a cidade, será inútil a sentinela montar guarda. (Salmo 127.1). Não se trata de um convite , mas de trabalho e confiança (como está na bandeira do Espírito Santo), embora fosse melhor dizer: confiança e trabalho. Confie e trabalhe, meu irmão, minha irmã.
Deus nos guarda quando nos deixa orientações precisas para a nossa jornada (embora nem sempre prestemos atenção). Deus nos guarda com sabedoria de vida, que nos leva a evitar os perigos desnecessários, sejam pecados ou aventuras. Deus nos guarda quando intervém para que coisas ruins não nos aconteçam (e geralmente não o sabemos)
Somos chamados a crer que Deus nos guarda. Somos chamados a guardar aqueles que podemos, sejam filhos, cônjuges, outros parentes, amigos ou desconhecidos. Neste caso, guardar é cuidar. Somos chamados a cuidar.
 
3. “O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te conceda graça” (Números 6.25).
 
Como Deus faz com o seu rosto resplandeça sobre nós para nos dar graça? Como nos ilumina com Sua presença e nos garante a graça? Como Deus olha para nós?
 
Foi precisamente o que aconteceu com Noé. Deus olhou para ele e lhe mostrou graça (Gênesis 6.8). Penso que foi assim: Deus olhou para Noe, piscou para ele, sorriu-lhe gostosamente e convidou: vamos? Noe ficou encantado e passou a escutar a voz de Deus.
O rosto de Deus resplandeceu sobre Noé (e sobre tantos outros, como Abraão e Moisés, só para nos determos nos dois primeiros livros da Bíblia) e lhe concedeu graça.
Deus faz com que seu rosto brilhe sobre nós, de tal modo que o nosso rosto brilhe também. Receber graça é brilhar, é vibrar. Receber graça é receber um novo ar para respirar; é ter outra atmosfera para viver, não mais a atmosfera pesada, mas leve.
É instrutivo vermos os homens caminhando no espaço, dentro ou fora de uma nave. Como a atmosfera é outra, eles levitam. Seu peso é o mesmo, mas eles tocam no teto quando caminham. Todos nos lembramos de um experimento que David Scott, a bordo da nave Apollo 15, pousada na lua em 1961, fez. Ele segurou um martelo numa mão e uma pena na outra. Depois, jogou os dois objetosao mesmo e eles chegaram ao mesmo tempo no chão. 
Receber a graça é pesar menos, é viver mais leve, é respirar outro ar. Quem tem graça vive assim. A doença pesa, mas pesa menos. A decepção pesa, mas pesa menos. A escassez pesa, mas pesa menos.
 
4. “O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê paz” (Números 6.26). 
 
Como ter paz, se você foi traído?
Como ter paz, se o rancor drenou todo o seu estoque de amor?
Como ter paz, se a injustiça deixou de ser uma palavra para fazer de você uma vítima real?
Como ter paz, se o medo tomou posse do seu coração?
Quando Deus olha para você, e Ele olha, e perdoa você, e Ele perdoa, você se sente amado e perdoado; cresce no seu interior uma paixão: amar e perdoar. Deus não sossegou enquanto não cravou na cruz o perdão dos seus pecados. Você não deve sossegar enquanto não perdoar quem precisa perdoar.
 
Ouvi, entre lágrimas, minhas e da senhora que conversava comigo, a história que reconto, devidamente autorizado e estimulado pela protagonista.
A vida era dura, com os filhos para criar, o mínimo faltando, as dificuldades aumentando, a pressão crescendo em direção ao insuportável.
Atrás da porta havia um fio de geladeira, para ser usado nas costas e nas pernas das crianças que merecessem.
Um dia, as emoções extravasaram. A mãe tomou a menina de oito anos e lhe deu uma imensa surra com o temido fio de geladeira, uma surra totalmente desproporcional.
Aquilo doeu. Nas duas.
Décadas depois, a filha nos seus quarenta e poucos anos, as duas combinaram um passeio. A mãe lhe pediu para não chegar atrasada. A filha “brincou”:
— Se eu me atrasar, a senhora não vai me bater com o fio de geladeira, vai?
A mãe engoliu e durante meses não mais dormiu sem chorar todas as lágrimas possíveis. Seu moto perpétuo era: “preciso pedir perdão para a minha filha”.
Um dia, esse dia chegou.
— Minha filha: eu quero lhe pedir perdão por aquela surra com fio de geladeira que eu lhe dei. Eu errei. Peço o seu perdão.
— Mamãe, eu já a perdoei, mas, se quer ouvir, repito: “mamãe, a senhora está perdoada”.
Então, as noites daquela mãe se tornaram apenas noites em que, após uma oração de gratidão pela graça, se pode dormir em paz.
 
Pedir perdão não está em nós. É preciso que Deus volte o seu rosto para nós.
Perdoar não está em nós. É preciso que Deus volte o seu rosto para nós.
Lembrei recentemente, em outro contexto, uma história ocorrida num campo de futebol. O jogador Zinedine Zidane ficou conhecido por seu belo futebol e também pelo seu último lance no esporte, quando, na final da Copa do Mundo de 2006, deu uma cabeçada no italiano Materazzi. Segundo seu próprio relato, ele entrou no vestiário e disse aos seus companheiros da seleção francesa:
— Perdoem-me. Isso não muda nada. Mas perdão a todos.
Em 2010, o atleta expôs seu sentimento em relação ao adversário:
— Não posso perdoá-lo. Nunca, nunca. Sería desonrar-me. Prefiro morrer. Se digo perdão, também estaria admitindo que o que ele fez foi normal. E para mim não foi. No campo muita coisa acontece. E me aconteceram muitas vezes. Mas ali não pude agüentar. Porque além disso, e não é uma desculpa, minha mãe estava doente. Estava no hospital. Isso as pessoas não sabiam. Mais de uma vez insultaram minha mãe e nunca respondi. Mas ali… Se peço perdão, desrespeitaria a mim mesmo e a todos que quero bem.
É muito fácil reprovar o jogador e dizer o que ele deve fazer. Temos Jesus a nos encaminhar, tantas vezes, pelo caminho do perdão, não trilhado por Zidane.
No fundo, talvez aplaudamos o ex-goleador francês, achando que ele está certo e que não deve mesmo perdoar seu ofensor.
Você perdoaria Materazzi?
 
Alguém me devolveu a pergunta e eu respondi: “Eu pediria a Deus que me ajudasse a perdoar Materazzi, mesmo que unilateralmente. Não sei se conseguiria, mas pediria a Deus para conseguir”.
Se Deus me abençoasse e virasse o seu rosto para mim, vindo ao meu encontro e me abençoando, eu perdoaria.
 
5. “Assim eles invocarão o meu nome sobre os israelitas, e eu os abençoarei” (Números 6.27). 
A palavra de Jesus que mais se aproxima desta palavra do Pai é esta promessa: “O que vocês pedirem em meu nome, eu farei” (João 14.14). Por isto oramos em nome de Jesus.
Não temos poder para abençoar, mas temos a permissão para desejar que Deus abençoe. Quando desejamos que Deus abençoe, Ele abençoa. Só Ele pode realmente abençoar. Nós podemos desejar.
Invocar o nome de Deus é chamar pelo seu nome. Ele ouve quando o chamamos (Salmo 4.3). 
Invocar o nome de Deus é anunciar a sua graça aos outros. Por isto, o apóstolo Paulo como que grita: “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue?” (Romanos 10.14)
Como seu filho ouvirá sobre a graça, se você não lhe pregar? Como seu cônjuge escutará, se você não lhe anunciar o amor de Deus? Como seu vizinho será salvo, se você não lhe comunicar as boas notícias da salvação?
Como Deus abençoará, se não desejarmos que Ele abençoe?
 
PARA PRATICAR A BÊNÇÃO
Nossa oração deve ser a do salmista: 
 
“Conceda-me o Senhor o seu fiel amor de dia;
de noite esteja comigo a sua canção. 
É a minha oração ao Deus que me dá vida”.
(Salmo 42.8).
 
Que Deus nos ajude para que:
 
1. Aprendamos a viver NA graça.
Quando eu era bem menino, meu pai me colocou nos seus braços, num rio que não sei o nome, lá em Santo Onofre (no nordeste do Espírito Santo), mas eu não aprendi. O medo venceu. 
Não deixemos que o medo vença a graça.
Viver na graça é viver amado, é viver perdoado por Deus através de Jesus na cruz.
Viver na graça é viver respirando um ar leve.
 
2. Aprendamos a viver DA graça
Viver da graça é saber que “Deus é poderoso para fazer que lhes seja acrescentada toda a graça, para que em todas as coisas, em todo o tempo, tendo tudo o que é necessário, vocês transbordem em toda boa obra” (2Coríntios 9.8).
Viver da graça é ter certeza que “o Deus de toda a graça, que os chamou para a sua glória eterna em Cristo Jesus, depois de terem sofrido durante um pouco de tempo, os restaurará, os confirmará, lhes dará forças e os porá sobre firmes alicerces” (1Pedro 5.10)
Abandone-se à graça, sem desejo de a controlar.
 
3. Aprender a viver COM graça
Viver com graça é olhar o outro em suas qualidades, não em seus defeitos. Se nos ativermos rigorosamente a todas as marcas de uma pessoa, veremos, se não tivermos graça, que ela tem mais defeitos que virtudes. Se formos rigorosos, não sobrará ninguém.
Viver com graça é parar de disputar, de competir, de buscar os próprios interesses. Não interessa o que o outro tenha; não precisa ser invejado ou imitado.
Viver com graça é pedir perdão, é oferecer perdão. Não deixemos que sequer um vírgula nos separe das pessoas. É como na gramática: o sujeito não pode ser separado do objeto.
Viver com graça é não dar o troco da ofensa, mesmo que “merecida”. A palavra de Deus é incisiva: “Não procurem vingança, nem guardem rancor contra alguém do seu povo, mas ame cada um o seu próximo como a si mesmo. Eu sou o Senhor” (Levítico 19.18).
Viver com graça é imitar aquele empresário que contratou empregados para diversas atividades, pagando-os todo dia às cinco da tarde. Uns chegaram às 5 da manhã, outro às seis e outros às sete, mas um chegou às quatro da tarde. Ele trabalhou apenas uma hora e recebeu o mesmo salário dos demais. Todos protestaram. Eu também protestaria. Se eu estivesse próximo da cruz e ouvisse Jesus prometer que o ladrão ao seu lado iria para o céu ao morrer, eu sussurraria aos ouvidos do agonizante mestre: “Não, Senhor, este ainda não foi batizado” ou: “Senhor, o cara é bandido”. Não houve tempo para batiza-lo, mas era um arrependido. Quem perdoou o ladrão na cruz foi Jesus. Quando contou a história do empresario “injusto”, Jesus o elogiou. Foi como se quisesse nos ajudar a renunciar à idéia de justiça, que sufoca e mata.
Viver com graça e anunciar a graça. Quando eu era menino, nós ganhamos bolas, roupas e, os mais aquinhoados, velocípedes. E o que fazíamos no mesmo dia? Saiamos para mostrar o que tínhamos recebido. Fazemos o mesmo com a maravilhosa graça de Jesus? 
 
Desejar viver com graça é para poucos. Seremos alguns desses poucos?
ISRAEL BELO DE AZEVEDO
 
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