PARA LER O LIVRO DE DEUTERONÔMIO (Roberto Abreu Costa)

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PARA LER O LIVRO DE DEUTERONÔMIO

 
ROBERTO ABREU COSTA
 
Titulo: Deuteronômio
Capítulos: 34
Versículos: 
Tempo aproximado para leitura: 130 minutos
 
A autoria do livro de Deuteronômio é atribuída a Moisés (aproximadamente 1400 a.C.), logo após a saída do Egito com o povo ainda atribulado com a escravidão,  perseguição e a forte influência da cultura religiosa seguida pelos egípcios.
O livro procura mostrar as bênçãos da obediência e as conseqüências da desobediência. Podemos afirmar se tratar de m livro de recordações e acima de tudo de exortação.
 
ESTRUTURA
 
I. O primeiro discurso de Moisés 1.1-4.43
Introdução 1.1-5
O passado recordado 1.6-3.29
Um chamado à obediência 4.1-40
Cidades de refúgio nomeadas 4.41-43
 
II. O segundo discurso de Moisés 4.44-26.19
Exposição dos Dez Mandamentos 4.44- 11.32
Exposição das leis cerimoniais 12.1-16.17
Exposição da lei civil 16.18-18.22
Exposição das leis criminais 19.1-21.9
Exposição das leis sociais 21.10- 26.19
 
III. O terceiro discurso de Moisés 27.1- 30.20
Cerimônia de retificação 27.1-26
Sanções do concerto 28.1-68
O juramento do concerto 29.1-30.20
 
IV. As palavras finais e a morte de Moisés 31.1- 34.12
Perpetuação do concerto 31.1-29
O cântico do testemunho 31.30-32.47
A bênção de Moisés sobre Israel 32.48-33.29
A Morte e a sucessão de Moisés 34.1-12
 
SÍNTESE TEOLÓGICA
Moisés prepara o seu discurso ao povo israelita como forma de despedida. Para tanto, procura resgatar a história, os acontecimentos passados e, principalmente, dar uma visão futura do quanto Deus ainda poderia fazer por aquela nação. 
A abrangência vai do humano ao divino. Acompanha o passado e o futuro. Futuro este sem a sua participação ou orientações. Moisés aproveita, para de uma forma amena, se despedir do seu rebanho. Haveria necessidade de prepará-los e acima de tudo, deixá-los conscientes de que o homem partiria. Contudo, Deus haveria de estar com eles em todos os momentos
Moisés se preocupou também em alertar o povo a não se esquecer das leis deixadas por Deus, tanto é que o significado de Deuteronômio é   “segunda lei”. Moises sabia com quem estava lidando. Talvez tenha pensado ao escrever estas recomendações o que aconteceu quando teve que se ausentar por algum tempo. O seu povo, simplesmente esqueceu-se de tudo e passaram a adorar outros deuses. 
Deus havia feito de tudo para salva-los e o que eles estariam dispostos a fazer para Deus, para servir a Deus sem se desviar dos seus ensinamentos.
Moises dá inicio, então, a uma preparação para aqueles que entrariam na terra prometida. Deveriam ser fiéis, sobre tudo, terem consciência de que não mais teriam o seu líder, contudo o Líder Maior estaria presente, sempre pronto para guiá-los e protegê-los. 
 
PARA LER DEVAGAR
O texto de Deuteronômio reflete um olhar divino. É Deus mandando o povo seguir exatamente aquilo que Ele queria que fizesse. Podemos verificar sua vontade nitidamente no capítulo primeiro, não só em um versículo, mas em todo o capítulo. Destaco, portanto, o seguinte:
“E sucedeu que, no ano quadragésimo, no mês undécimo, no primeiro dia do mês, Moises falou aos filhos de Israel, conforme tudo o que o Senhor lhes mandara acerca deles.” (Deuteronômio 1:2).
Portanto, é Deus mandando! Moisés tinha esta consciência e deveria passar ao povo exatamente o que nascia no coração de Deus para o coração daquela nação.
O verbo mandar expressa a vontade soberana de Deus, mas o mandar, como forma de ser obedecido, nada mais é do que uma forma de amor e principalmente de cuidado, pois, fazendo a vontade de Deus, estaria preservando as suas próprias vidas e existência.
 
O TEXTO QUE MAIS TOCOU O MEU CORAÇÃO
Embora se trate de um livro ao qual poderíamos chamar de Código de Normas ou Comportamentos, notamos a sua preciosidade no cuidado que o autor teve em colocar embutido nas entrelinhas a manifestação de amor para com o ser humano. Jesus, por diversas vezes, cita o livro de Deuteronômio para expressar a autoridade de Deus e, acima de tudo, o cuidado de Deus para com os seus filhos.
Gostaria de destacar dois capítulos entre tantos lidos que ressalta exatamente este cuidado. Em primeiro lugar, o capítulo 22.1-4. Aqui, o autor é categórico em afirmar a importância do amor para com o seu próximo e também deixa uma coisa bem clara: o que é seu é seu e o que não for seu deverá ser cuidado como se seu fosse. Todos são tratados com igualdade e com amor. Poderíamos dizer que o Preâmbulo da Constituição Brasileira reflete exatamente o que Deus desejava e deseja ainda hoje para o seu povo: IGUALDADE!
O outro texto que gostaria de destacar é o do capítulo 30.1-10. Nele, encontramos uma declaração de amor, uma poesia, uma afirmativa da misericórdia de Deus para todo aquele que se arrepender dos seus pecados. Não dá para ler este capítulo sem se emocionar ou sentir o quanto Deus é misericordioso, principalmente quando observamos o verso 9 que diz: “E o Senhor teu Deus te fará prosperar em toda a obra das tuas mãos, no fruto do teu ventre, e no fruto dos teus animais, e no fruto da tua terra para o teu bem; porquanto o Senhor tornará a alegrar-se em ti para te fazer bem, como se alegrou em teus pais.” 
Impressionante é que Deus, além de perdoar e restituir o que o homem havia perdido, passa a se alegrar com aquele antigo desmerecedor de suas benesses e, então, se sente bem ao ver o homem transformado. Acho que este texto reflete a grandeza de Deus  no passado e ainda hoje perante nós.
 
TEXTOS DIFICEIS
Eu diria que relacionar um ou dois capítulos difíceis de compreensão seria um tanto deselegante com os demais capítulos, pois o livro é para ser lido no contexto daquela época. Devemos procurar  entende-lo ou aplicá-lo aos nossos dias de forma a tirarmos ensinamentos que possam ser aplicados ás nossas vidas em conformidade com o aprendido no Novo Testamento. Desta forma procurarei  mostrar o grau de dificuldade não somente no aspecto rigoroso encontrado em diversos capítulos e sim uma tentativa na visão do autor e na sua frustração por não atingir o seu objetivo humano que era entrar na Terra Prometida.
Vemos no capítulo 3:23-29 inicialmente a compreensão de Moisés em relação ao que estava por vir, ou seja, Moisés tinha noção do que estava por vir, sabia que Deus aplicaria novamente a sua justiça e não pouparia ninguém. No inicio do verso 25, ele apela para que Deus o deixe entrar na Terra Prometida e o desfecho foi um não aterrorizador. Talvez estivesse passando pela cabeça daquele homem que Deus aplicaria sua justiça para todo o povo e que ele seria poupado e conclui no verso 29 com a seguinte manifestação: “Assim ficamos neste vale, defronte de Bete-Peor.”
O capítulo é difícil, não pelo aspecto teológico, mas por mostrar ao homem Moisés que a justiça de Deus é para todos, e mesmo que o lider dos hebreus tenha mantido um relacionamento mais direto com Deus, deveria ser aplicada a ele também. Na realidade, o texto nos faz refletir sobre a necessidade de igualdade, pois Deus nos olha com um único olhar. Colocando-me no lugar de Moisés, fico imaginando como seria a minha reação mediante tamanha negação por parte do Pai. Deus sabia o que estava fazendo e Moisés foi humilde o suficiente para ouvir e obedecer ao querer de Deus sem questionar. Neste caso, a dificuldade se baseia exatamente neste ponto, ou seja, a obediência. 
Passada esta experiência, o líder começa a orientar aqueles que deveriam atravessar o Jordão: os justos. 
Moisés conhecia bem o seu povo e sabia perfeitamente que se tratava de gente desobediente e de fácil envolvimento com outras culturas. Mais uma vez no capítulo 4 posso imaginar o sofrimento daquele líder e provavelmente a sua preocupação, Moisés deveria estar vivendo um grande dilema, talvez se perguntasse se tudo aquilo daria certo, se o seu companheiro (Josué) de longas caminhadas conseguiria conduzir tamanho rebanho. É fácil olhar com os nossos olhos, contudo, creio que para Moisés tenha sido muito difícil passar por tantas transformações ao longo dos anos.
 
A MORTE DE MOISÉS — Moisés morreu aos 120 anos. Em Deuteronômio 34:5-12 encontramos o relato de sua morte o local do enterro e um breve relato de sua grandeza como homem e servo de Deus.
“É claro que Moisés, não podendo prever o tempo de sua morte, não redigiu o relato da mesma. O último capítulo deste livro é um obituário escrito por algum amigo próximo de Moisés divinamente inspirado, provavelmente Josué (34.9).”  (Bíblia Apologética)
 
VIVENDO OS ENSINOS
Encontramos no livro de Deuteronômio os seguintes ensinamentos: 
O povo começa a compreender a vontade de Deus: (6:4).
No capítulo 6 há um ensaio do que me arrisco a dizer ser o início de um longo caminho de ensinamentos e ordenanças a serem seguidas, arriscaria também a dizer que daí para frente com exceção de poucos capítulos nos esbarraremos em muitos de difícil compreensão, principalmente pela dureza das leis impostas, sendo que como dito anteriormente, devemos olhar tais leis com um olhar do que aquela nação precisava saber e viver e não com um olhar julgador,  não tentando fazer um paralelo dos direitos que hoje nós conhecemos, se bem que muitas ordenanças, acompanham os nossos Códigos e servem de base para novas Leis.  
 
Sem medo de continuar (3.25) — Moisés era destemido. Ddesde o inicio de seu ministério, passou por diversas dificuldades e viveu momentos de grandes desilusões com aquele povo teimoso e sem nenhuma responsabilidade ou temor a Deus. As pessoas olhavam para Deus quando estavam precisando, Deus as atendia e davam novamente as costas para Ele. 
De qualquer forma, Moisés seguia o seu caminho traçado por Deus, deveria continuar aquela jornada não por ele, mas para fazer a vontade de Deus. Moisés continuou até o final e ousou a passar a sua tarefa a outra pessoa quando não mais daria para prosseguir, não teve medo, pois confiava em deus e sabia que aquela tarefa era na verdade uma tarefa divina.
Estava velho, contudo não estava morto. Se Deus permitisse, com certeza continuaria a jornada. Moisés também era determinado, lutador e sobrevivente. O velho homem com coração de jovem nos dá uma aula de como confiar em Deus e seguir adiante sem temer o que está por vir. Ele confiou em Deus e passou a sua tarefa final para outra pessoa sem temer ou desconfiar, pois ambos estavam lá para fazer a vontade do Deus Poderoso.
 
Moisés se contentou com o que viu (34:1-4) — Ele olhou para o vale e pode observar a terra que Deus havia prometido e que não mais poderia adentrar. Todavia, o seu coração se contentou com o que viu, sabia que a nova geração seria abençoada pela graça de Deus em lhe dar uma terra onde brotava leite e mel. Para isto, bastava seguir os mandamentos e sobre tudo amar e temer o Deus de Israel. Moisés contemplou aquela paisagem e se satisfez em vê-la. 
Às vezes, contemplamos, porém, não é o suficiente para nos satisfazer, temos que ver mais, temos que tocar, para só então nos maravilharmos. Agimos de forma tão pequena, quando na realidade nos bastaria apenas observar.  
 
A Lei não poderia ser esquecida (31.10-11) — Por fim, Moisés ainda fez questão de demonstrar a sua preocupação com o seu povo ao lhes ordenar que não se apartassem da lei, dizendo: “ordeno-lhes que ao fim de cada sete anos, no tempo determinado do ano da remissão, na festa dos tabernáculos, quando todo o Israel vier a comparecer perante o Senhor teu Deus, no lugar que Ele escolher, lerás esta lei diante de todo o Israel aos seus ouvidos.” (31:10-11).
 
PARA MEMORIZAR:
“Todos os mandamentos que hoje vos ordeno guardareis para os cumprir; para que vivais, e vos multipliqueis, e entreis e possuais a terra  que o Senhor jurou a vossos pais”. (8.1).
“Pois o Senhor vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensas”. (10.17).
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Mears, Henrietta C. Estudo Panorâmico da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 2003.
Crusemann, Frank. A Torá – Teologia e história social da lei do Antigo Testamento. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
Biblia Apologética de Estudo. ICP. Jundiaí/SP, 2007.