1
Ele aparece ao anônimo e ao pequeno,
até encontrar o querido grupo dianteiro:
até na ressurreição, atua a lógica do Reino:
é primeiro quem é ultimo; é ultimo o primeiro.
2
A ressurreição começou na Páscoa, quando Deus arrancou os hebreus da condição de escravos para o Êxodo da liberdade. A Páscoa, porém, começou quando Deus convidou Abraão a sair da sua casa e a rumar para o Êxodo, numa terra desconhecida, e constituir um novo povo. O convite a Abraão, porém, nasceu do desejo de Deus de ter de novo conectado o homem que voluntariamente dEle se afastou.
3
A ressurreição de Jesus não pode ser separada da sua morte, porque a ressurreição é precisamente isto: ressurreição de entre os mortos.
O apóstolo Paulo nos ensina a ter esta visão, quando fala do poder da ressurreição de Jesus (Filipenses 3.7-11): “Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos”. (Filipenses 3.7-11)
4
Os contemporâneos de Jesus, exceto os saduceus, criam na ressurreição. Herodes, por exemplo, perguntou se João Batista tinha ressuscitado, quando viu Jesus ensinando e curando (Mateus 4.1-2: “Por aquele tempo Herodes, o tetrarca, ouviu os relatos a respeito de Jesus e disse aos que o serviam: “Este é João Batista; ele ressuscitou dos mortos! Por isso estão operando nele poderes miraculosos”).
Os apóstolos ensinaram a ressurreição. Entre os inúmeros textos, citemos dois: “Por seu poder, Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará” (1Coríntios 6.14); “se os mortos não ressuscitam, nem mesmo Cristo ressuscitou” (1Coríntios 15.5). E a ressurreição de Jesus está no centro do Evangelho.
Jesus claramente ensina a ressurreição. Não há sequer uma situação em que Jesus ensine a reencarnação. Todos os que são aventados pelos que crêem nesta idéia não passam de interpretações que a própria Bíblia contradiz. Se aceitamos que a Bíblia é a Palavra de Deus, não temos como aceitar a idéia da reencarnação. Se não aceitamos, a crença é livre.
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Quando a vida Lhe voltou no sepulcro lacrado, Jesus deve ter orado para que a pedra fosse removida. Quando a pedra foi removida e Ele deixou o lençol que o envolvia, Ele pôde ver a vida, particularmente os sofrimentos, da perspectiva da pedra removida, uma perspectiva que o apóstolo Paulo captaria magistralmente: nem a morte nos separa do amor de Deus.
Quando o seu corpo começou a ser puxado para cima pelo sopro poderoso do Pai, o Filho pôde voltar a ver a vida sob a perspectiva do Alto.
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Nossa narrativa acerca da ressurreição não é uma narrativa qualquer: é a narrativa de um fato que pode mudar para sempre (incluindo a eternidade) as vidas das pessoas. Sabemos da ressurreição de Jesus, porque aqueles seguidores e seguidoras não guardaram a informação para si. Temos feito o mesmo?
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Para os leitores da Biblia, ilusão e esperança são realidades bem distintas. Em certo sentido, esperança é a promessa que vem de Deus. Nós a encontramos em sua Palavra. A esperança tem uma garantia; ela se tornou concreta, deixando de ser um sentimento vago. Jesus Cristo é a promessa tornada realidade, começando com sua encarnação (nascimento) e culminando com a sua glorificação (ressurreição).
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A promessa aos discípulos de Jesus em todos os tempos é esta: “Estarei com vocês até o fim da história, da história de vocês ou da história da humanidade” (cf. Mateus 28.20). Deus age não para que tenhamos medo, mas esperança (cf. Mateus 28.5: “Não tenham medo!”)
Às vezes, por causa dos fatos da vida, ficamos perturbados e as dúvidas nos sobem ao coração. Jesus sabia/sabe disto Logo após sua ressurreição, Ele consolou seus seguidores com duas perguntas: “Por que vocês estão perturbados e por que se levantam dúvidas no coração de vocês?” (Lucas 24.38).
Esta é uma promessa a agarrar, não uma dúvida a nos desanimar. Não há nada que possamos fazer para Deus deixar de cumprir esta promessa, que é firme. Como diz o apóstolo Paulo, “fiel é esta palavra: Se já morremos com ele, perseveramos, também com ele reinaremos; se o negamos, ele, por sua vez, nos negará; se somos infieis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo” (2Timóteo 2.11-13).
9
Ter comunhão com os sofrimentos de Jesus é ver as dificuldades na perspectiva da pedra removida e da ascensão realizada.
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Por que somos infelizes sem a Ressurreição?
. Somos infelizes porque cremos numa Bíblia que nos ensina uma farsa e nos faz crer numa lenda ou numa alucinação coletiva, mas acontecia em blocos, porque pessoas isoladas e grupos viram Jesus com o corpo glorificado.
. Somos infelizes porque cremos num Cristianismo, que faz de uma lenda o pilar do seu conteúdo existencial e teológico. Neste caso, somos parte de uma Igreja que se formou a partir de uma alucinação.
. Somos infelizes porque abrimos mão da bênção regeneradora da ressurreição (1Pedro 1.3). Sem a ressurreição, o evangelho está incompleto. Sem a ressurreição não podemos ser salvos. Não há poder na mentira.
. Somos infelizes porque abrimos mão da fé para ficar com a razão, razão que matou Jesus Cristo, razão que foi insuficiente (junto com a Lei) para levar o homem ao reencontro com Deus, razão que não faz nenhum de nós um salvo por Cristo no presente e no futuro. Aliás, o século 20, o século da razão por excelência, é a maior prova da falácia e da insuficiência da razão, pois foi o século com maior número de guerras e de vítimas de toda a história da humanidade.
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O medo nos faz esconder. Os discípulos de Jesus, quando souberam da Sua ressurreição, passaram a se reunir escondidos, também com medo da perseguição que poderia vir. Felizmente o Senhor não levou isto em consideração e foi até ao encontro deles. (João 20.19).
A participação na vida eterna celeste é o cume do processo iniciado na ressurreição de Jesus: a vitória sobre a morte. Depois de ver Jesus reinando nos céus e de nos contemplar ajoelhados diante dEle confessando o Seu senhorio, Paulo pergunta à morte, com ironia:
— Ei, morte, onde está a ponta aguçada de ferro com a qual você flagelava as pessoas? Ei, morte, onde está o seu sorriso de vitória?
Mesmo a morte, este acontecimento definitivo, tornou-se relativa diante do Absoluto dos absolutos. Por isto, podemos cantar que Jesus está vencendo e um dia terminará sua obra.
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Os discípulos de Emaús como o Jacó antigo são:
diante de Jesus e sob as chamas de sua presença,
não reconhecem a razão de tamanha ardência
e precisam esperar mais para ver a ressurreição.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO