
Reproduzo, abaixo, o testemunho do pastor Rivaldo Licar Santana, que pastoreia há vários anos a Igreja Cristã Vida Renovada, no morro do Borel (no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro). Ele tem participado dos esforços para ajudar as vítimas
A chuva que cai no Rio desde a segunda-feira a tarde tem trazido diversos damos às familias.
Aqui no morro, perto das 19hs, na segunda-feira, um barranco caiu e derrubou uma parede da casa da irmã Nevinha. Ao sabermos disso, uns irmãos e eu fomos ajudá-los. Os bombeiros foram acionados e logo chegaram ao local. Gritando para que as pessoas deixassem as suas casas, nós, os bombeiros e alguns moradores, dizíamos que a qualquer momento poderia haver novos deslizamentos de terra. Alguns moradores saíram imediatamente, porém outros diziam que estavamos exagerando.
Enquanto isso, a chuva continuava caindo fortemente. Dois bombeiros, que averiguavam de perto o barranco, gritando, vieram correndo em nossa direção. Nisso, ouvimos um estrondo (parecido com uma bomba estourando). Quando demos conta do que estava acontecendo, vimos uma avalanche de terra que levava tudo que se encontrava em seu caminho. Os dois bombeiros foram soterrados; mais uns 20 moradores, que ajudavam, incluindo nós, fomos parcialmente soterrados. Olhando à nossa volta, vi que cinco casas haviam sido arrastadas. Corremos e ajudamos os bombeiros, que tiveram diversos arranhões pelo corpo. Graças a Deus, eles não morreram, apesar da quantidade de terra sobre eles.
Minha cabeça doía muito, pois, na hora do deslizamento, algo bateu nela com tamanha violência. Parecia que alguém tinha me dado uma paulada. Sentindo tonteira, eu prossegui ajudando a localizar os moradores das casas que foram arrastadas.
Debaixo de uma laje, encontramos um jovem grávida, porém ela estava morta. Mais à frente, os bombeiros encontram uma adolescente, também morta. Graças a Deus, cinco outros morades dessas casas, nós conseguimos tirá-los dos destroços com vida. Em meio àquele caos todos, nós ouvimos um chorro de uma criança. Mais que depressa, corremos para o lugar do choro. Quando tirávamos os destroços, que sufocavam o choro da crianças, um novo deslizamento aconteceu. Em desespero, todos nós saimos correndo. Ninguém foi soterrado, porém todo o destroço soterrou mais ainda a criança.
Como não parava de chover e o perigo de novos deslizamento era real, os bombeiros disseram para sairmos do lugar.
Do outro lado do morro, veio a notícia de famílias soterradas. Corremos para lá e lutamos para tirar as pessoas das garras da morte. A chuva não dava trégua, prosseguia caindo com grande força. Terminavamos de ajudar essas pessoas, fomos informados que uma outra equipa precisava de ajuda. As pessoas dessas aréas de risco foram conduzidas para a associação de moradores, onde havia equipes rebendo donativos e alojando os desabrigados na escola no pé do morro (no “Brizolão”).
Perto das três da manhã, eu corri em casa, pois fui informado que uma casa próximo estava caindo. Com o coração a mil, corrir com todas as forças, pois temia que Eliude e as meninas estivessem soterradas. Graças a Deus, os vizinho conseguiram desviar a água, que desbarrancava a casa vizinha. Deixando as nossas filhas em alerta, pois se ouvissem qualquer barulho, elas poderiam sair ás pressas de casa. Eliude e eu, às quatro e pouca da madruga, fomos ajudar as pessoas que suas casas haviam caido a chegarem até o Brizolão.
Pela manhã, um grupo de irmãs da igreja fez o almoço para os desabrigados com ingredientes doados por moradores e comerciantes próximo ao morro.
Sem forças e com a cabeça doendo muito, eu fui atendido por um bombeiro e fiquei em observação. Depois das duas horas de observação, eu voltei a ajudar as pessoas, pois, como a chuva não dava uma trégua, novos deslizamentos acontecia a todo instante.
Segundo a defesa civil, que foi em todos os pontos de deslizamento, 200 casas estão condenadas. E ainda há mais para entrar nessa lista.
Pedimo-lhe oração para que as chuvas parem, pois assim não há mais deslizamentos. Agora pouco, Eliude e eu viemos da Escola (Brizolão), graças a Deus, as pessoas estão bem abrigadas. A solidariedade de igrejas, entidades e de pessoas tem sido impressionante. Quanto à situação da casa vizinha à nossa, ainda é preocupante, por isso, nós estamos em alerta.
Rivaldo Licar Santana
Veja as fotos feitas por Glauclon, membro da igreja Vida Renovada.