
Ruy Castro, jornalista e historiador da música brasileira, escreveu uma crônica (“País sem piano”), que merece leitura, que transcrevo quase na íntegra.
Notícia desta semana alerta para um fato preocupante: a queda a quase zero no interesse pelo piano entre os jovens brasileiros. Em vários Estados, concursos importantes, destinados a formar futuros solistas, deparam com um número insignificante de inscrições. E não se trata de desinteresse pela música -porque outros instrumentos, talvez mais imediatos, continuam prestigiados.
O Brasil e o piano têm uma bela história juntos. Os dois conquistaram seu espaço quase ao mesmo tempo no século 19: o piano, sobre o cravo; o Brasil, sobre a sua condição de colônia. O próprio príncipe dom Pedro era pianista. Em pouco tempo, o piano tornou-se um móvel obrigatório nas nossas casas, tanto quanto o toucador e a escarradeira. Permitiu também que muitos escravos, que o aprenderam, levassem vida melhor.
Desde então, num país em que o violão sempre pareceu onipresente, a grande música, do ponto de vista do compositor, passou decisivamente pelo piano.
Um motivo para o declínio do piano nas casas brasileiras pode ter sido a verticalização das cidades -não é fácil transportar um piano para o 10º andar. Outro pode estar no fato de que leva mais tempo para formar um pianista do que um médico ou engenheiro, sem nenhuma garantia de que um dia ele possa viver das pretinhas. Mas todo estudante de piano precisa chegar a profissional? A educação musical, por si, não deveria ser suficiente?