João 6.1-12: A TAREFA É NOSSA

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A TAREFA É NOSSA

João 6.1-12
 
Um dos aspectos notáveis do episódio em que uma procuradora aposentada acabou presa acusada de maltratar uma filha adotiva foi o número de famílias que se apresentou para cuidar da criança.
Esta menininha tipifica um tipo de marginalidade, formada por aquelas pessoas que estão à margem do afeto. Quando pensamos em marginalidade, tendemos a coloca-la no campo social e econômico, esquecidos que a primeira escassez é a escassez de afeto.
 
1
PRECISAMOS NOS IMPORTAR
Quando Jesus atravessou o mar da Galiléia, na margem estava uma multidão faminta (verso 1). Nela, alguns o tinham seguido. Outros eram dali mesmo. Eles seguiam a Jesus porque estavam à margem da atenção, até que surgiu Jesus Cristo que se importava com eles. Estavam na margem, mas Jesus se importava com eles.
Quem se importa com os que estão à margem?
Jesus se importou. Nós também devemos nos importar.
O programa de televisão “A Liga” fez com que repórteres conhecidos se disfarçassem de mendigos para viver anonimamente nas ruas em condições reais. Eles observaram indiferença, desinteresse e violência contra essas pessoas. Na verdade, temos medo dessas pessoas. Quando não temos medo, não os vemos como iguais, mas como diferentes. Aprendemos a achar que estão aquilo porque merecem estar.
Talvez quando Jesus se interessou pela multidão faminta, ali à margem, alguns os criticaram como imprevidentes e até os xingaram como preguiçosos.
Podemos, em nossa defesa, dizer que a situação é complexa, que não sabemos se devemos ajudar ou não, se é seguro ajudar ou não, mas a situação não era menos complexa que no tempo de Jesus. O que importava é que as pessoas estavam com fome. Talvez devessem ter levado alimento, mas não levaram e estavam com fome; não podiam ser simplesmente despedida.
Precisamos nos interessar pelos que vivem à margem.
Há vários tipos de marginalidade. Pode ser de alimento, pode ser de afeto, pode ser de respeito. Se nos importarmos, saberemos.
Jesus não evitou a margem. Jesus foi para o centro da margem e descobriu que o problema, naquele caso, era a fome.
O problema também era espiritual. Aquelas pessoas não estavam ali pelo motivo certo: elas não queriam conhecer a Jesus. Elas queriam ver a Jesus. Elas queriam ver a Jesus operando milagres. Estavam atrás de sinais miraculosos de Deus (verso 2). Nem esta motivação afastou Jesus dos que estavam à margem. Talvez não soubessem agradecer, mas Jesus os alimentou. Talvez quisessem um espetáculo, mas Jesus percebeu abaixo da superfície e viu fome de Deus e buscou satisfazer a multidão.
 
2
PRECISAMOS SUBIR O MONTE
Interessado pelas pessoas, Jesus subiu o monte (verso 3).
Talvez tenha subido para observar melhor as pessoas se dispersando pelas empoeiradas sendas da Palestina antiga. Talvez tenha subido para orar, porque esta era sua pratica. 
Não subiu sozinho. Subiu com seus discípulos.
Na Bíblia, subir o monte é buscar a Deus. Subir o monte é adorar. Subir o monte é estar em comunhão. Jesus subiu o monte.
Nós precisamos subir o monte.
Mas eis o que Jesus fez: subiu o monte e olhou para cima. Subiu o monte e olhou para baixo.
Uma religião do alto do monte não provoca impacto na sociedade. Não cumpre a sua missão.
No momento seguinte à oração, depois de olhar para baixo e ver a multidão faminta, Jesus desce para um nível mais baixo e se preocupa.
Começa uma linda história. Todas as vezes que nos preocupamos tem início uma linda história.
Nossa presença no monte (em adoração) é para nos capacitar para o serviço. E servir começa com olhar para o outro (verso 5). Jesus viu a multidão.
 
3
PRECISAMOS USAR OS RECURSOS QUE DEUS NOS DEU PARA AMAR
Nesta história aprendemos que sempre temos recursos.
Se não temos milhões, temos milhares; se não temos milhares, temos, pelo menos centavos, que podemos considerar como pertencentes a Deus, para Ele usar.
Temos recursos financeiros, por poucos que sejam, que podemos usar.
Quando olhamos a história, vemos que os discípulos tinham recursos; cinco pães e dois peixes não eram suficientes, em condições normais, mas eram recursos. Eles puseram seus recursos à disposição de Jesus. Não acontece assim com os recursos que devolvemos a Deus na hora da contribuição nos cultos?
Vendo ainda a história, observamos que os discípulos tinham outro tipo de recurso: o recurso intelectual. Eles usaram este recurso para compreender o que estava acontecendo. Fizeram — diríamos nós hoje — uma leitura do cenário. A leitura foi correta: muita gente com fome e poucos recursos para atender a todos.
Deve ser contínua em nós a disposição de colocar os “nossos” recursos à disposição de Deus. Não podemos desperdiçar os recursos que Deus nos põe a mão. Aprendemos isto com o final da história, quando Jesus instrui os seus discípulos: “Ajuntem os pedaços que sobraram. Que nada seja desperdiçado”. Outras pessoas ainda poderiam ser alimentadas.
Será que Jesus não sabe contar e fez mais comida do que o necessário? 
Penso que Jesus multiplicou em excesso para mostrar Quem Ele é. Ele não supre com o suficiente. Ele supre com mais do que o suficiente.
Penso que Jesus multiplicar em excesso para colocar de novo as pessoas (os discípulos e a multidão) à prova. Não receberam de graça? Poderiam deixar pelo chão e partir, correndo, para contar a novidade do milagre. Não: não deviam sair correndo. Deviam recolher as sobras para, em tempo oportuno, reparti-las com outros necessitados. O milagre do céu tinha ocorrido: os pães e peixes foram multiplicados. O milagre da terra precisava ocorrer: pães e peixes seriam compartilhados com outras pessoas.
Era como se Jesus dissesse a todos: olhem para as suas mãos e vejam que há mais recursos do que vocês precisam.
 
4
PRECISAMOS NOS LEMBRAR QUE A RELIGIÃO DE JESUS É ESPAÇO ONDE O PODER DE DEUS ATUA
Deus pode fazer sem nós o que quiser, mas nos põe a prova, para que possamos fazer o que nos cabe.
Neste caso, Jesus queria saber o que fariam os seus discípulos (verso 6). Apenas fariam a leitura do cenário, talvez com uma dura crítica ao sistema ou se disporiam a entregar o pouco que tinham para Jesus fazer o que quisesse?
Quando Jesus pôs os discípulos à prova, também queria saber se eles capazes  de saber do que Ele era capaz. Criam eles no poder de Deus?
O desenrolar da história mostra que, diante das instruções (aparentemente absurdas de Jesus), eles não fizeram o mínimo questionamento. Talvez não entendessem o que Jesus estava fazendo, mas obedeceram. Quando Jesus pediu ao povo para se assentar, os discípulos certamente correram para passar, de boca em boca, as instruções. Eles supervisionaram as providências preliminares ao milagre. Era preciso que todos estivessem assentados, para que não houvesse tumulto e a distribuição dos alimentos se desse sem precipitações.
O Deus todopoderoso podia mostrar o seu poder a partir do nada, mas Ele precisou dos pães e peixes. Então, o milagre se fez.
O Deus todopoderoso podia fazer sozinho o milagre da multiplicação, mas Ele precisou da ajuda dos seus discípulos.
O poder de Deus aconteceu quando os discípulos se mostraram solidários e entraram com o que tinham.
O poder de Deus aconteceu quando os discípulos confiaram — e vemos isto por suas atitudes — no Deus que manifesta o seu poder, sem alarde (Jesus sequer anunciou que faria o milagre; apenas o fez).
O texto começa condenando a busca por milagres de Deus, mas o texto termina exaltando o Deus dos milagres. Deus não precisa fazer milagres para mostrar que é Deus, mas Deus os faz e, quando os faz, demonstra seu amor para conosco. Não precisamos ser solitários para que Deus nos veja, mas quando O vemos nós somos solidários.

 

 

ISRAEL BELO DE AZEVEDO

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