REINO DE SERVOS (Oswaldo Jacob)

Gosto muito da postura de Jesus diante do pedido da mãe de Tiago e João, Seus discípulos, para que estes ocupassem lugares à direita e à esquerda do Seu Reino (Mc 10.35-45; Mt 20.20-28). Este fato nos leva a pensar que quando o nosso ego assume o centro da vida é nisto que dá: pede-se mal. Temos esta tendência da vantagem, do pódio ou topo. Na verdade, somos especialistas em buscar reconhecimento, louros e elogios ou bajulação. O reino deste mundo tem estas marcas, mas o Reino de Deus é um reino de pessoas que um dia foram crucificadas, mortas e ressurretas com Cristo para viverem a vida dEle diariamente. Tentamos transformar o Reino de Deus em reino de senhores quando, na verdade, é de servos ou servidores. Jesus mesmo disse: “Bem-aventurados os humildes de espírito porque deles é o Reino dos céus” (Mt 5.3).

            Os servidores do Reino de Deus não postulam pódio, mas o lugar mais baixo. Não usam tablados, mas o chão. Não querem andar acima do povo, mas no meio dele. Não têm prazer em reconhecimento, mas têm deleite na exaltação de Cristo. Paulo nos ensina que devemos ter o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus – humildade, submissão, serviço e reconhecimento da autoridade do Pai. Assim devemos ser. Jesus é o nosso referencial de servo que se deu a Si mesmo para nos resgatar das garras de Satanás e de nós mesmos para sermos dEle, e vivermos para o louvor da glória do Pai. Ser servo é servir em amor e compaixão; humildade e dependência; alegria e paz; harmonia e sinergia; prazer e dedicação. Sim, o servo não quer aparecer, mas vive para que o seu Senhor apareça. João Batista era um servo-precursor de Jesus, pois ele mesmo disse em relação a Jesus Cristo: “Importa que Ele cresça e eu diminua” e “ele é mais poderoso do que eu e não sou digno nem de carregar suas sandálias” (Mt 3.11).

            Tiago e João estavam contaminados pela grandeza pessoal a partir da sua natureza humana cujo coração é enganoso (Jr 17.9,10). É impressionante essa tendência em nós. Como eles eram diferentes de José! Este tinha o sonho da parte de Deus. Aqueles, tinham sonho a partir de si mesmos, a partir do trono de sua arrogância e do pódio da sua insensatez. Então, José tinha um sonho da parte de Deus e Tiago e João de si mesmos, da sua mera natureza humana e inclinada aos títulos e louros dos seus próprios ‘méritos’.

            Muitos desejam a coroa antes da cruz, aliás, de preferência sem a cruz. Jesus disse: “Servo bom e fiel, foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei. Entra no gozo do teu Senhor” (Mt 25.23). Após uma noite de Ceia, uma jovem senhora que ajudou a servi-la me disse: “Pastor, muito obrigada pela experiência de servir a Ceia”. Senti que havia brilho nos seus olhos. O brilho da serva, do serviço. É preciso servir com alegria e singeleza de coração como nos ensina o salmista: “Servi o Senhor com alegria e apresentai-vos a Ele com cântico” (Sl 100.2).

A Igreja é uma comunidade de escravos lavados, remidos no sangue de Jesus, dos que servem em amor não para a sua glória, mas a glória de Deus (1 Co 10.31). Num tempo de tanto egoísmo e busca pelo poder, uma vida de vaidade, há uma necessidade muito grande de pessoas que sirvam com o amor de Cristo. A Igreja de Jesus não é de senhores, mas de servos. O único Senhor no Reino é o Rei, o Monarca, o Soberano Deus. Pedro aprendeu com o Mestre que servir é o verbo operacional da vida do discípulo ao ensinar aos cristãos dispersos: “Servi uns aos outros conforme o dom que cada um recebeu, como bons administradores da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale como comunica as palavras de Deus; se alguém serve, sirva segundo a força que Deus concede, para que em tudo Deus seja glorificado por meio de Jesus Cristo, a quem pertencem a glória e o domínio para todo o sempre. Amém.” (1 Pe 4.10,11). O Senhor Jesus, nosso modelo, disse: O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos (Mt 20.28). Jesus deu-se a Si mesmo morrendo numa cruz para não mais pertencermos ao inimigo e a nós mesmos, mas a Ele. Somos do Senhor por direito de Criação e de Redenção! É o que Paulo ensina: “Pois, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De modo que, quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor” (Rm 14.8). Somos um Reino de servos liderados pelo Servo-Sofredor, o nosso Redentor!