Diante da crueldade do mundo, experimentamos muitos sentimentos, como indiferença, indignação e medo. Depois de uma extraordinária sucessão de vitórias, o profeta Elias viu o mundo desabar, quando o poder governamental se pôs a persegui-lo ferozmente. Ele ficou com medo.
Como Elias, podemos ficar com medo diante do que nos pode acontecer. Todos podemos ter esta experiência. Em lugar de se voltar para Deus, Elias saiu em busca de soluções próprias, correndo de um lado para o outro. Ele fugiu para bem longe do problema, como se isto fosse resolver. Fugir jamais resolve.
Além de medo, Elias sentiu pena de si mesmo. Em sua autocomiseração, passou a se achar perseguido, o que era verdade, e a se sentir sozinho, o que não era verdade. Havia Obadias. Havia Eliseu. Era sete mil a minoria dos que estavam ao seu lado.
Em seu desespero, Elias achou que Deus também não estava ao seu lado. Eram outras as evidências, mas o medo o impediu de ver a ação de Deus. Quando um mensageiro divino o animou e lhe indicou o alimento que lhe traria forças para continuar caminhando e vivendo, Elias não atribuiu o fato à providência de Deus. Apenas se levantou, comeu e voltou a andar, como um andarilho. Deus nunca está silencioso, embora possa até não falar. Um pão aparece no meio da selva. Quem o mandou, senão Deus?
Elias chega a uma caverna, um lugar de descanso e de refúgio, como um esconderijo. A policia podia estar por perto. Na escuridão da caverna, Elias imagina o fim, na verdade, Elias almeja o fim. Chega de fugir. Chega do silêncio de Deus. Chega de injustiça.
Deus, então, fala, agora de modo mais claro.
Deus diz a Elias que ele não precisava fugir.
Deus diz a Elias que ele não era o único que o levava a sério. Havia muitos outros também, alguns também escondidos.
Deus diz a Elias que que ele poderia ser encontrado em qualque lugar, e não apenas no monte onde se encontrara com Moisés tantos séculos antes. Todo lugar é sagrado porque Deus está em todos os lugares. Não é preciso subir montes, com pesos às costas, para se encontrar com Deus. Ele está nos montes, nos vales, nas cavernas. Ele está onde é procurado.
Deus diz a Elias que não se importava com as queixas, embora impróprias, de Elias. Deus toma queixas, mesmo as impróprias, interpreta e intervém. As queixas de Elias era um pedido de socorro. Há pedidos de socorro bem formulados e há pedidos equivocados, mas são o que são: pedidos de socorro. Ouvi de um pastor a seguinte história: uma senhora, membro da igreja e afastada por algum tempo das reuniões, escreveu uma carta pedindo em caráter irrevogável sua saída (exclusão) da Igreja. Segundo as práticas previstas, reunida em assembléia, a igreja atendeu o pedido. Alguns dias depois, o pastor ligou para a senhora:
— Irmã, estou lhe ligando para dizer que seu pedido, como era em caráter irrevogável, foi atendido pela assembléia da igreja.
A resposta foi:
— Ô, pastor, o senhor não entendeu nada. Aquela carta era um pedido de ajuda.
Deus não é como pastores equivocados. Ele conhece o que vai dentro de nós, mesmo que não saibamos comunicar a nossa dor.
Deus fala. E não fala necessariamente como imaginamos que fale. Ele não falou no furacão. Não falou no terremoto. Não falou no fogo. Deus não precisou de nada fabuloso e sensacional. Sua voz não precisa disto. Ele falou no silêncio. Depois daqueles fenômenos, aconteceu outro: um cicio (brisa) suave e tranqüilo. Furacão, terremoto e fogo impõem medo. Deus não impõe medo. A brisa comunica o fim dos problemas e das dificuldades. Brisa é bonança, após a tempestade. Então, e só então, Deus falou.
E quando falou, Deus mostrou a Elias que ele era amado e que que a sua vida seria ainda muito relevante, dando-lhe uma série de importantíssimas tarefas.
Deus fala!
ISRAEL BELO DE AZEVEDO