SER COMO UMA CRIANÇA! (Dercinei Figueiredo)

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O Mestre estabelece como condição para ver, receber e/ou entrar no Reino1ser como uma criança. Não é ser uma criança. Não é sofrer de infantilismo. Não é ser um infantilóide que vê em Deus “uma imagem magnificada do Pai” (Freud). E, definitivamente, não é ser um indivíduo cujo desenvolvimento intelectual, emocional, relacional ou espiritual é inferior a um grau considerado mínimo para sua “idade”.

ser como uma criança não é apenas para entrar, também é para permanecer e para aproveitar o Reino2. Certas características infantis, não importando minha idade, meu tamanho ou minha experiência, precisam ser preservadas ou reavivadas. Afinal, sempre serei uma criança aos olhos do Eterno.

O que Jesus quis dizer com “Se […] não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino […]”3? Como as crianças hierosolimitanas contemporâneas de Jesus, preciso ser vulnerável. Abraçar minha fraqueza, finitude e fugacidade. Insignificar-me. Substituir autonomia por liberdade em uma temporária, e depois voluntária (mas sempre saudável e amorosa), dependência do Pai, que me alimenta, protege, cuida, ensina e acarinha.

Para receber o Reino preciso manter o encanto. Exultar com o ordinário, o comum e o simples a ponto de, como uma criança, maravilhar-me até com a repetição. Por que valorizo tanto o complexo? Por que o especial me atrai tanto? Por que a busca pelo extraordinário me monopoliza?

Tenho que parar de me levar tão a sério, reconhecer que sou ridículo e aprender a rir de mim mesmo (antes que outros o façam; e se isso acontecer, rir com eles). Por que confundo distimia com seriedade? Como uma criança, preciso ter como meu principal ofício – se pretendo ver o Reino – a brincadeira.

Tomei minha parte. Gastei. Bem ou mal, não importa. A verdade é que não tenho mais nada. Exceto vergonha. E certeza de que preciso voltar ao Reino. Em minhas empoeiradas memórias lembro-me de ouvir que, se tudo desse errado e nada mais tivesse, ninguém e nem aonde ir, sempre poderia tomar o caminho de volta.

Como uma criança, vejo meu pai ao longe. Será que todos os dias ele ficou me esperando no portão? Ele corre em minha direção… Sem castigo, só abraço; sem repreensão, só beijo; no lugar de cobrança, presentes: coloca um anel caro no meu dedo, sapatos novos nos meus pés e uma linda roupa no lugar dos meus andrajos.

Meu pai, mais feliz por me receber de volta que eu por voltar, decide me dar uma festa de boas-vindas! “Meu filho estava morto e reviveu!”4. É isso que ele canta aos quatro cantos da terra! O constrangimento da vergonha dá lugar ao constrangimento da graça. É bom entrar no Reino, estar novamente em casa, ao lado do meu pai, o Rei.

Amplexus et Osculus | D. Figueiredo | dercinei@email.com

João 3.3; Marcos 10.15; Luc 18.17; Mateus 18.3; João 3.5.

Mateus 18.1-5.

Mateus 18.3.

Lucas 15.11-32.