O CONHECIMENTO QUE REALMENTE IMPORTA
(Oseias 4.1-6 e 6.1-6)
Precisamos ser Oseias.
Selecionei alguns versículos do seu livro.
Leiamos com atenção (Oséias 4.1-6 e 6.1-6):
Israelitas, ouçam a palavra do Senhor, porque o Senhor tem uma acusação contra vocês que vivem nesta terra:
“A fidelidade e o amor desapareceram desta terra, como também o conhecimento de Deus.
Só se vêem maldição, mentira e assassinatos, roubo e mais roubo, adultério e mais adultério; ultrapassam todos os limites! E o derramamento de sangue é constante. Por isso a terra pranteia, e todos os seus habitantes desfalecem; os animais do campo, as aves do céu e os peixes do mar estão morrendo.
Mas, que ninguém discuta, que ninguém faça acusação, pois sou eu quem acusa os sacerdotes. Vocês tropeçam dia e noite, e os profetas tropeçam com vocês. Por isso destruirei sua mãe.
Meu povo foi destruído por falta de conhecimento. Uma vez que vocês rejeitaram o conhecimento, eu também os rejeito como meus sacerdotes; uma vez que vocês ignoraram a lei do seu Deus, eu também ignorarei seus filhos". (Oseias 4.1-6)
Venham, voltemos para o Senhor. Ele nos despedaçou, mas nos trará cura; ele nos feriu, mas sarará nossas feridas.
Depois de dois dias ele nos dará vida novamente; ao terceiro dia nos restaurará para que vivamos em sua presença.
Conheçamos o Senhor; esforcemo-nos por conhecê-lo. Tão certo como nasce o sol, ele aparecerá; virá para nós como as chuvas de inverno, como as chuvas de primavera que regam a terra.
"Que posso fazer com você, Efraim? Que posso fazer com você, Judá? Seu amor é como a neblina da manhã, como o primeiro orvalho que logo evapora.
Por isso eu os despedacei por meio dos meus profetas, eu os matei com as palavras da minha boca; os meus juízos reluziram como relâmpagos sobre vocês.
Pois desejo misericórdia, e não sacrifícios; conhecimento de Deus em vez de holocaustos". (Oseias 6.1-6)
A palavra-chave destes dois textos é: conhecimento.
Ciência é conhecimento. Religião é conhecimento.
Estudo resulta em conhecimento. Fé resulta em conhecimento.
Ambos atendem às duas grandes dimensões da humanidade.
Precisamos valorizar estas duas dimensões, sem reducionismo (isto é: sem reduzir as dimensões todas da vida a uma só, no caso, a minha, seja ela científica ou religiosa).
Ciência e religião devem produzir felicidades, mas felicidades diferentes.
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Ciência e religião tratam do conhecimento.
Uma pessoa de ciência conhece. Uma pessoa de fé conhece.
Há pontos de semelhança e de distância entre esses dois modos de conhecer.
A ciência pesquisa a realidade que pode ser toda conhecida. Pelo menos: esta é a meta. A fé conhece Deus, que não pode apreendido do mesmo modo que a ciência conhece. Deus não pode ser conhecido de modo total, mas o que conhecemos vai nos saciando.
O conhecimento científico começa com a dúvida e muitas vezes produz certezas, que são logo postas em dúvida. O conhecimento de Deus começa com a fé, que pode conhecer a dúvida, mas a dúvida não é a sua essência.
O conhecimento de Deus inclui a pesquisa, para saber mais, mas uma pessoa pode crer nEle sabendo pouco sobre Ele. O conhecimento de Deus não depende da pesquisa, mas da experiência.
A experiência na revisão bibliográfica, na observação no campo ou no laboratório da fé é diferente da experiência no campo da ciência. Na ciência, a experiência é feita com outras vidas. Na fé, a experiência é feita com a própria vida. Na ciência, a experiência é algo profissional, embora muito importante. Na fé, a experiência é algo vital, como uma questão de vida e morte… para nós.
A atitude também é diferente. Quase sempre a descoberta de um cientista é uma afirmação da glória do ser humano e resulta em fama para o pesquisador ou pensador. O conhecimento de Deus é uma afirmação da glória de Deus.
O conhecimento que importa é o conhecimento de Deus. Seu valor é eterno.
Como adquirimos este conhecimento?
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Quero sugerir alguns passos.
1. O primeiro passo é o da fé mesmo, que se manifesta na admissão de que Deus existe e atua na história e na vida das pessoas. Esta atuação de Deus encontra seu ponto máximo na entrega de seu Filho, Jesus Cristo, para, morrendo em nosso lugar, nos redimir de nós mesmos, isto é, de nossos pecados, e restabelecer a paz entre nós e Deus.
Esse passo só se dá com a negação de nossa auto-suficiência nas questões que realmente importam. Não podemos nos salvar a nós mesmos, por mais que conheçamos acerca da realidade.
A dificuldade, no caminho da fé, consiste em apenas fazer perguntas, sem prestar atenção nas respostas. Deus nos responde, do seu jeito, que é o melhor. Ouvi-lo exige atenção.
2. O segundo passo é a reverência diante de Deus. Reverenciar Deus é prostrar-se (encurvar-se, humilhar-se) diante de Deus.
Esta reverência se mostra na contemplação. Esta contemplação implica numa decisão de gastar tempo de qualidade diante de Deus. Amo aquela expressão do poeta Davi:
"Sempre tenho o Senhor diante de mim".
(Salmo 16.8)
Esta contemplação se evidencia no silêncio diante de Deus, na oração contemplativa (aquela que nada pede, apenas se apresenta diante de Deus) e na leitura da Bíblia.
(Talvez alguns tenha dificuldade de ler, não só a Bilbia, mas qualquer texto. Hoje esta dificuldade pode ser superada, porque há o recurso do audiolivro, com a Bíblia toda disponível para ser ouvida.)
Tudo isto demanda a mesma renúncia à auto-suficiência e a decisão de gastar tempo com Deus, sobretudo tempo de qualidade, aquele que permite estarmos "sempre" diante de Deus.
A dificuldade para reverenciar a Deus é imensa porque a tentação de sermos nosso próprio Deus é imensa, às vezes, maior que Deus mesmo na prática.
3. O terceiro passo é participar de uma comunidade, ela que nos lembra quem é Deus e nos ajuda a aprender quem é Ele.
Podemos criticar a comunidade, mas não a idéia de comunidade, que é de Deus, como nos ensina o apóstolo Paulo:
"Deus colocou todas as coisas debaixo de seu pés [isto é: dos pés de Jesus Cristo] e o designou cabeça de todas as coisas para a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer circunstância" (Efésios 1.22-23).
As dificuldades são as pessoas, como se fosse viver com as pessoas sem as pessoas, em comunidade mas sem comunidade. As pessoas são, por vezes, um convite à nossa auto-suficiência, como se pudessem experimentar a fé apenas no silêncio.
Nossa fé precisa da comunidade de fé.
Nossa fé precisa se exercitar. Este exercício se realiza com o uso dos dons que o Espírito Santo nos concedeu. Dom sem uso não é dom. Sem dom a fé não cresce. Sem comunidade o dom se desenvolve. Igreja é envolvimento. Para que o conheçamos, Deus nos reúne numa igreja. Ali ele nos fala através da adoração, seja no cântico ou na leitura e exposição da Sua Palavra.
Toda palavra humana deve ser ouvida criticamente. Leitura crítica é leitura consciente, conferindo o que se escuta com a Palavra divina.
Um bom recurso é anotar o que se ouve.
Anote. Faça perguntas. Discuta. Pegue o que ouviu e torne seu.
4. O quarto passo é continuar dando os passos.
Além do envolvimento na igreja, sugiro a experiência da mentoria.
Procure um mentor ou discipulador: alguém mais experiente, que ajude você no conhecimento de Deus.
Se não for possível, participe de um grupo de mentoria, sob a liderança de um líder mais experiente.
Há também a automentoria através da leitura enriquecedora de livros que nos confrontem e nos ajudem em nossa caminhada no conhecimento de Deus.
É bom saber o que pensaram e experimentaram os homens e mulheres de fé que vieram antes de nós. Recomendo os seguintes títulos, entre outros:
1. As cartas do apóstolo Paulo, por razões óbvias, nesta ordem (numa sequência totalmente pessoal, minha): Tessalonicenses (1 e 2), Filemon, Corintios (1 e 2), Gálatas, Romanos, Efésios, Colossenses, Tito e Timóteo (1 e 2).
2. "Confissões" (editora Martins Claret), de Agostinho, que diz, por exemplo: “Onde conheceram essa felicidade, se não onde conheceram a verdade? Se de fato não querem ser enganados, é porque amam também a verdade. E já que amam a felicidade que nada mais é que a alegria oriunda da verdade, amam certamente também a verdade. No entanto, não amariam se dela não tivessem alguma noção na memória”.
3. "Os irmãos Karamazov" (editora 34), o painel da alma humano como traçado por Fiodor Dostoievski.
4. "Cristo e cultura" (Paz e Terra, esgotado), um paralelo elaborado por H. Richard Niebuhr, sobre as escolhas dos cristãos em relação à sociedade ao longo da história. Leia aqui.
5. "Alma sobrevivente" (editora Mundo Cristão), em que Philip Yancey traça as trajetórias de homens como o pastor Martin Luther King Jr., o escritor G.K. Chesterton, o medico Paul Brand, o ativista Mahatma Gandhi, o poeta John Donne e o teólogo Henri Nouwen, entre outros.
6. "Resistência e submissão" (editora Sinodal), em que Dietrich Bonhoeffer, preso sob Hitler, fala, em escritos esparsos, de sua firmíssima fé em Cristo.
7. "Cristianismo puro e simples" (editora LMF Martins Fontes), a síntese da teologia cristã preparada por C.S. Lewis.
8. "Ouça o Espírito, ouça o mundo" (editora ABU), sobre as tarefas dos cristãos, na visão amplamente bíblica de John Stott.
9. "Ponha em ordem seu mundo interior" (editora Betânia), de Gordon MacDonald, sobre o diálogo com nossas tendências e emoções.
10. "Transpondo muralhas" (editora Habacuc), de Eugene Petterson, que nos conduz pelos caminhos difíceis de Davi até se tornar rei, depois de ungido como tal.
11. "O impostor que vive em mim" (editora Mundo Cristão), em que Brennam "Evangelho Maltrapilho" Manning fala de como podemos nos enganar a nós mesmos contra a perfeita graça de Deus.
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Estes livros nos ajudarão na crítica de nossa própria maneira de expressar a fé, a crítica contundente que faz o profeta Oseias no oitavo século antes de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.
O profeta nos convida ao conhecimento de Deus. Ele nos ensina que, para conhecermos Deus, precisamos:
. ouvir a Palavra de Deus, mesmo que ela nos confronte (Oseias 4.1);
. cuidar para que o nosso conhecimento de Deus não se torne ralo ou inexistente (Oseias 4.2);
. saber que o retrato do mundo em que vivemos (e do qual não gostamos) é um retrato de um mundo sem o conhecimento de Deus (Oseias 4.2-5);
. reconhecer que a falta do conhecimento de Deus nos destrói (Oseias 4.6).
Devemos, portanto, nos voltar para o Senhor, conhecendo-o cada vez mais, como o anseio profundo de nossas vidas (Oseias 6.1)
Deus nos dá vida de novo, quando somos destruídos. Oseias nos diz que "ao terceiro dia nos restaurará para que vivamos em sua presença" (Oseias 6.2). O terceiro dia é o dia da ressurreição de Jesus Cristo, em cujo poder somos chamados a viver (Filipenses 3.10).
O convite é claro: Conheçamos o Senhor; esforcemo-nos por conhecê-lo" (Oseias 6.3).
Conhecer Deus é amar Deus. E nosso amor por Deus não pode ser "como a neblina da manhã, como o primeiro orvalho que logo evapora" (Oseias 6.4).
Deus não quer de nós rituais que nada signifiquem. Deus não se compraz em rotinas religiosas áridas. Deus não tem interesse em sacrifícios que façamos na tentativa de O agradar. Deus quer que vivamos pela fé em Jesus Cristo, demonstrada no conhecimento de Deus e numa vida coerente com este conhecimento. É o que deixa claro, quando faz o profeta sussurrar aos nossos ouvidos: "Pois desejo misericórdia, e não sacrifícios; conhecimento de Deus em vez de holocaustos".
ISRAEL BELO DE AZEVEDO