PARA LER O PROFETA OSEIAS (José Mauricio Cunha do Amaral)

Título: OSEIAS

Total de capítulos: 14

Total de versículos: 197

Tempo aproximado de leitura: 45 minutos

INTRODUÇÃO

O profeta Oseias era natural do reino de Israel ou Efraim, como se costumava chamar. Profetizou sob  o reinado de Jeroboão II e de seu sucessor, a partir da queda de Samaria e de todo o reino (721 a.C). O seu nome quer dizer “ Javé salva”, o que significa que frequentemente acontece nos livros proféticos, do nome do autor combinar perfeitamente com a sua mensagem. O livro de Oseias começa com a fórmula profética tradicional, cuja função é indicar que a mensagem recebida do profeta é inspirada e não vem dele, mas do Senhor (1.1) Ele escreveu no oitavo século a.C (segundo as datas dos reis mencionados logo no início do cap. 1.1), durante a mesma época do trabalho de Amos (1.1), Isaías (1.1) e Miqueias , (1.1). Ele fala de um povo próspero, mas que estava apodrecendo na idolatria, na imoralidade de na injustiça. Um quadro bem parecido com aquele retratado por Amos. Destes quatro, Amos e Oseias profetizaram principalmente para Israel, já Isaías e Miqueias, pregaram mais para Judá.[1] Ele viveu os últimos dias do reino de Israel, que em decorrência a séculos de pecado, havia chegado ao fundo do poço. A infidelidade espiritual do povo  é comparada ao adultério pelo Senhor “…porque a nação é culpada do mais vergonhoso adultério por afastar-se do Senhor” (Oseias 1.2). Para conhecer melhor esse período recomendo a releitura de 2Reis 14-19 e 2Crônicas 26-29.

A FAMÍLIA DE OSEAS

Dentro ainda do pano de fundo, é interessante a ordem de Deus sobre a família de Oseias: “Quando o Senhor começou a falar por meio de Oseias, disse-lhe: Vá, tome uma mulher adúltera e filhos da infidelidade, porque a nação é culpada do mais vergonhoso adultério por afastar-se do Senhor” (Oseias 1.2). Não há um consenso entre os comentaristas sobre o casamento de Oseias com uma meretriz. Teria de fato Deus ordenado a Oseias tomar como esposa uma prostituta? Alguns consideram ofensiva a ideia de o profeta ter-se casado com uma prostituta e insistem que se trata apenas de uma alegoria. Outros argumentam da impossibilidade em favor de Gômer ser uma prostituta quando Oseias se casou com ela.[2] Não deixa de ser uma ordem escandalizante! Desta relação nascem três filhos cujos nomes também são determinados pelo Senhor: Jezreel (ou Megido, foi lugar de decisivas batalhas, cf. Juízes 4-7; 2Reis 23.28-30), Lo-Ruama (em algumas traduções significa “não-amada”) e Lo-Ami (significa “não meu povo”) todos com o significado das sanções que Deus aplicaria ao seu povo. Mas o que precisamos considerar neste contexto, é que a vida pessoal e familiar de Oseias está intimamente ligada à vida do povo de Deus.  A ideia retratada  o texto, é que, mesmo sendo uma alegoria ou não, a família de Oseias se tornaria o  protótipo de como o povo estava se comportamento e como Deus os visitaria. O povo estava adulterando na sua relação com o Senhor, e  a obediência do profeta a Deus naquele momento, se torna ainda mais impressionante.     

 

SUA PREGAÇÃO

 

Duas palavras marcaram a profecia de Oseias: “retornar” e “conhecer”, significando que o afastamento do Senhor era o problema fundamental de Israel. O retorno ao Senhor precisa ser genuíno. Deus não se agrada daqueles que o buscam de uma forma superficial, nem tão pouco cerimonial: “Pois desejo misericórdia, e não sacrifícios; conhecimento de Deus em vez de holocaustos” (Oseias 6.6). O conhecimento do Senhor é, em primeiro lugar e acima de tudo, relacional. Significa ter um relacionamento espiritual ativo, vital, saudável e pleno com Deus. É conhecer Deus com o coração. Mas o conhecimento de Deus não consiste apenas em um relacionamento emocional. Possui também uma dimensão intelectual e cognitiva, pois implica em estudar e lembrar-se da lei divina, bem como das histórias e tradições que relatam a fidelidade do Senhor no passado.[3] Esse parece ser todo o problema enfrentado por Israel. Problema que se repete também em nossos dias. Muitos de nós conhece o Senhor de longe. O conhecimento do Senhor também resulta em integridade no modo de agir e conduz a um relacionamento saudável com outras pessoas: “Conheçamos o Senhor; esforcemo-nos por conhecê-lo. Tão certo como nasce o sol, ele aparecerá, virá para nós como as chuvas de inverno, como as chuvas de primavera que regam a terra” (Oseias 6.3).   

 

ESBOÇO DO LIVRO

1.1 Introdução

1.2 – 3.5 A família de Oseias

    1.2 – 2.1 A ordem de Deus e atitude Oseias

    1.2-3 O casamento com Gômer

    1.4-9 Os nomes dos filhos de Gômer

    1.10-2.1 A promessa de Deus  

2.2–23 O relacionamento de Deus com Israel

    2.2-5 O casamento destruído

    2.6-13 Marido irado

    2.14-23 Relacionamento restaurado

    3.1-5 Amor renovado

4.1 – 14.9 A infidelidade de Israel

    4.1-19 A acusação de Deus contra Israel

    4.1-9 Fracasso em obter conhecimento

    4.10-15 Fracasso moral

    4.16-19 Fracasso emocional

5.1-15 O julgamento divino

    5.1-4 O julgamento das ações

    5.5-7 Julgamento das atitudes

    5.8-12 O julgamento da injustiça

    5.13- Deus se retira

6.1-11 Arrependimento superficial

    6.1-3 Chamado ao arrependimento

    6.4-11 A resposta do Senhor

7.1-16 Pecado paralisante

    7.1-7 Engano e intrigas

    7.8-16 Alianças políticas inúteis

8.1-14 A certeza do julgamento

    8.1-3 A rebelião de Israel

    8.4-6 A corrupção da realeza e do culto

    8.7-10 Alianças políticas perigosas

    8.11-14 A deturpação da religião

9.1-17 O terror do julgamento

    9.1-4 A ameaça do exílio

    9.5-17 Três lições históricas

10.1-15 Ilustrações do campo

    10.1-8 A vide e a erva venenosa

    10.9-15 A bezerra dornada

11.1-11 Um Deus que não desiste

    11.1-4 Um Deus de amor e graça

    11.5-7 Um Deus de justiça

    11.8-11 Um Deus de justiça redentora

11.12 – 12.14 A volta para o Senhor

    11.12 – 12.6 O exemplo de Jacó

    12.7-14 Injustiça, orgulho e destruição

13.1-16 A loucura da ingratidão

    13.1-8 O Senhor: leão, leopardo e urso

    13.9-16 Último anúncio de julgamento

14.1-9 Israel será um jardim

    14.1-3 Exortação final

    14.4-8 O Senhor será “como orvalho”

    14.9 Conclusão

 

UM TEXTO PARA PENSAR

Sinceramente, um texto que me fez refletir bastante é o texto do casamento de Oseias (cap.2.2-3). É no mínimo inquietante, pelo menos para mim, que Deus possa ter usado deste expediente para demonstrar sua indignação com o pecado do povo. Se foi uma metáfora ou alegoria, como queiram, isto não importa,  mas tenho dificuldades em admitir que tal fato tenho acontecido. Entretanto, se para nós muitas vezes, Deus é um Deus de absurdos, como entender então a ordem dada a Abraão para que ele deixasse sua terra e fosse para uma terra desconhecida (estranha como trazem algumas traduções) que lhe seria indicada, e ainda por cima, se tornaria pai de muitas nações através de uma mulher estéril e de avançada idade? Puro absurdo! Mas tudo isso se cumpriu na vida de Abraão! Se o casamento de Oseias com Gômer foi o meio usado por Deus para demonstrar  sua indignação com a prostituição espiritual do povo, Deus sabia porque usar desse método, meso que nos pareça um absurdo. Mas o que mais me encanta no texto é a obediência do profeta. Apesar da indignação do marido traído que demonstra seu pleito para  o  rompimento dessa união (cf. Cap. 2.2-5), segundo alguns comentaristas, ele procura um tribunal para conseguir o divórcio. Para todos os efeitos a relação conjugal morreu. Por isso, os filhos desse casamento recebem a instrução: “Repreendei vossa mãe” (2.2.a). O marido divino fala à sua família e não a um tribunal de justiça. É Deus demonstrando sua indignação pela infidelidade.          


UM DEUS QUE NÃO DESISTE

Se nos três primeiros capítulos do seu livro Oseias empregou a metáfora do casamento para descrever o relacionamento de Israel com Deus, agora, o profeta se vale de outra imagem do cotidiano em família para descrever o Deus que não será infiel às promessas de sua aliança e que não desistirá do seu povo. A ideia inicial na descrição de Gômer como uma mulher, amada de seu amigo e adúltera (Oseias 3.1a) sugere desde o capítulo 1, que ela não apenas teve uma relação extraconjugal, mas que também saiu de casa para viver com outro homem, agora, dá lugar a um relacionamento restaurado, a esposa não mais chamará seu marido de meu Baal, o termo hebraico para “senhor” (Oseias 2.16.17). Antes o chamará carinhosamente de meu marido. Essa sessão  culmina com a renovação completa de um relacionamento expressa na declaração do Senhor: “Eu me casarei com você com fidelidade,  e você reconhecerá o Senhor” (Oseias 2.20). A restauração prometida será abrangente e completa e envolverá até animais e o meio ambiente, significando uma aliança completa com Senhor, que não admite mais traições. Infelizmente, os capítulos de 4 até o 13 focalizam Israel e seu relacionamento, ou a ausência de relacionamento, com o Senhor. As dificuldades do relacionamentos pessoais do profeta dão lugar às dificuldades do relacionamento entre Deus e Israel. É impossível existir um relacionamento verdadeiro quando não há fidelidade. Mas Deus nunca desiste de nós. O capitulo final do seu livro nos mostra um Deus amoroso convidando o seu povo a voltar a se relacionar outras vez com ele: “Volte, ó Israel,para o Senhor, o seu Deus, seus pecados causaram sua queda” (Oseias 14.1). O perdão de Deus é restaurador: “Serei como orvalho para Israel” (Oseias 14.5a). A ideia é de um jardim aprazível, o povo restaurado como uma árvore bem regada, vicejante e cheia de frutos (cf. Jeremias 17.8) 

CONCLUSÃO

O  profeta termina o seu livro com uma advertência não apenas a Israel, mas a todos que ao longo das eras lerão essas palavras  e desejarão seguir ao Senhor. O leitor e ouvinte contemporâneo é desafiado e estimulado a fazer um pacto de fidelidade ao Senhor. Os desafios de Deus não foram somente para o passado, mas para todas as épocas. A contemporaneidade da mensagem de Oseias pode ser vista nas palavras de Deus ao seu companheiro Isaías quando diz: “Que o ímpio abandone o seu caminho, e o homem mau, os seus pensamentos. Volte-se para o Senhor, que terá misericórdia dele; volte-se para o nosso Deus, pois ele dá de bom grado o seu perdão” (Isaías 55.7).

 

Referências Bibliográficas:

A BÍBLIA SAGRADA, trad. da Vulgata pelo Pe. Matos Soares, 34a. Edição, São Paulo: Edições Paulinas, 1977.

COMENTÁRIO BÍBLICO AFRICANO / editor geral Tokunboh Adeyemo. – São Paulo: Mundo Cristão, 2010.

Disponível em http:www.estudosdabiblia.net/oseias. 

 

[1]    Disponível em http://www.estudosdabiblia.net/oseias.htm

[2]    COMENTÁRIO BÍBLICO AFRICANO. São Paulo: Mundo Cristão. 2010. p.1042

[3]              Op. Cit. p.1041