PARA LER O PROFETA MIQUEIAS (José Mauricio Cunha do Amaral)


INTRODUÇÃO

O nome Miqueias vem, provavelmente, de uma palavra cujo significado é “Quem é semelhante a Jeová?”. Ele era morastita, ou seja, originário de Moresete-Gate (Miqueias 1.1,14), um povoado localizado a cerca de trinta de cinco quilômetros a sudoeste de Jerusalém. Era uma cidade conectada a uma rede de fortalezas militares distribuídas ao longo da extremidade das colinas.

Diferentemente de outros profetas como Isaías, Jeremias e Ezequiel, Miqueias não descreve como se deu seu chamamento inicial para o ministério. O primeiro versículo do seu livro menciona apenas: “A palavra do Senhor veio a Miqueias…” em forma de visão, isto é, uma manifestação sobrenatural, fazendo dele um mensageiro do Senhor. Em seu livro, o Deus invisível se torna audível.

 

CONTEXTO HISTÓRICO

Miqueias profetizou principalmente no Reino do Sul durante os reinados de Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá, tendo sido contemporâneo de Isaías. Seu ministério floresceu entre 738 – 722 a.C., num período em que o Império Neoassírio estava surgindo como uma grande potência sob o comando de Tiglate-Pileser III, lançando a Assíria numa ambiciosa política de expansão imperial.[1]

Mais um vez vamos encontrar a injustiça social sendo combatida na mensagem profética. No tempo de Miqueias riqueza e poder andavam lado a lado, concentrando-se, como sempre, nas mãos de uns poucos.  A cobiça e a corrupção corriam soltas, bem como falsos profetas, que viviam enganando o povo. Assim sendo, o povo julgava-se no direito de receber as bênçãos e a proteção de Deus. 

Assim como Isaías, Oseias e Amós, Miqueias enfatiza que a fé verdadeira produz justiça social e santidade prática. Dentre outras coisas, profetizou sobre o exílio na Babilônia (4.10), o regresso do cativeiro e a futura paz e supremacia do povo remanescente de Deus (4.1-8, 13; 7.11, 14-17), mas como um dos profetas messiânicos, prenunciou o nascimento de Rei Jesus em Belém: “Mas tu, Belém-Efrata, embora pequena entre os clãs de Judá, de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. Suas origens estão no passado distante, em tempos antigos” (Miqueias 5.2).


ESBOÇO DO LIVRO

Sua profecia pode ser dividida em três blocos, ou três sermões. Em primeiro lugar ele descreve a aproximação dos dois reinos, particularmente várias cidades e vilas da sua própria própria vizinhança. Na segunda parte ele passa a revelar os futuros e melhores destinos do povo, demorando-se em considerações sobre felicidade e a glória da igreja no reinado do Messias e voltando depois à libertação mais próxima dos judeus e a destruição do poder assírio. Finalmente, apresenta a pureza, a justiça e a racionalidade das recomendações divinas, fazendo contraste com a ingratidão, a injustiça e a superstição que causaram a ruína do povo[2]

1.1           Epígrafe

1.2 – 2.13 Primeiro sermão

 1.2 – 16   Denúncia de Samaria e Jerusalém

 1.3 – 7      Julgamento vindouro sobre Samaria

 1.8 – 16   Lamentação julgamento vindouro sobre Judá

2.1 – 11    Motivos do julgamento      

 2.1 – 5      Cobiça

 2.6 – 11    Falsos profetas

 2.12 – 13  Uma mensagem de esperança

 

3.1 – 5.15 Segundo sermão

 3.1 – 12    Denúncia de pecaminosidade do povo

 3.1 – 4      Acusação contra os líderes

 3.5 – 8      Acusação contra os falsos profetas

 3.9 – 12    Destruição de Jerusalém

4.1 – 13     Promessa de restauração

 4.1 – 8     O monte do Senhor

 4.9 – 13    O remanescente será salvo

5.1 – 15     Um novo rei e um novo reino

 5.1 – 4      O Messias

 5.5 – 6      Seu reinado de paz

 5.7 – 9      O remanescente reinará com o Messias

 5.10 – 15  A remoção da idolatria

 

6.1 – 7.20 Terceiro sermão

 6.1 – 16    A queixa de Deus contra o seu povo

 6.1 – 8      A ira de Deus

 6.9 – 16   Motivos para o julgamento divino

7.1 – 20     Lamentações e promessas

 7.1 – 6      A lamentação do profeta

 7.7 – 10    A promessa de salvação

 7.11 – 20  A graça gloriosa de Deus

 

O TEXTO MAIS DIFÍCIL

O texto que mais chamou a minha atenção foi o relato do profeta, quando diz: “Por causa disso chorarei e lamentarei; andarei descalço e nu. Uivarei como um chacal e gemerei como um filhote de coruja. Pois a ferida de Samaria é incurável e chegou a Judá. O flagelo alcançou até mesmo a porta do meu povo, até a própria Jerusalém” (Miqueias 1.8-9). Você é capaz de imaginar um profeta andando pelas ruas nu e descalço, uivando como um chacal, anunciando o juízo de Deus? Pois bem, essa foi a forma de protesto encontrada por Miqueias para demonstrar a indignação de Deus e também a sua em relação ao pecado do povo.  Os indivíduos eram perversos e tramavam o mal. Agiam sem escrúpulos cobiçando campos, terras e casas, tomando para si, mesmo que tivessem que defraudar outros. Os falsos profetas proclamavam mensagens de acordo com as propinas que recebiam dos interessados e se opuseram aos prenúncios de julgamento de Miqueias impedindo-o de profetizar. Só para se ter uma ideia, além dos pecados mais comuns como a  rebelião e a idolatria, Samaria imitou seus vizinhos perversos e permitiu a prostituição que fazia parte do culto a certas divindades. As ofertas deixadas no templo eram preço da prostituição, ou seja, pagamento pelos serviços de prostitutas:”Todas as suas imagens esculpidas serão despedaçadas e todos os seus ganhos imorais serão consumidos pelo fogo; destruirei todas as suas imagens. Visto que o ela ajuntou [Samaria] foi como ganho da prostituição, como salário de prostituição tornará a ser usado” (Miqueias 1.7). Deus estava furioso!

 

O TEXTO QUE MAIS TOCOU O MEU CORAÇÃO 

Impressiona-me a bondade e a misericórdia de Deus para conosco. Viver pela graça e da graça, é saber que apesar de nós, as misericórdias do Senhor se renovam sobre as nossas vidas todos os dias como nos diz Jeremias (Lamentações 3.22-23). 

O juízo e o castigo de Deus são inevitáveis, mas ele sempre está pronto a nos estender o seu perdão. A prova disso é que apesar de toda a idolatria, rebeldia, prostituição, cometida pelo povo, o perdão veio: “Quem é comparável a ti, ó Deus, que perdoas o pecado e esqueces a transgressão do remanescente da sua herança? Tu que não permaneces irado para sempre, mas tem prazer em mostrar amor” (Miqueias 7.18). Interessante notar que Miqueias fala do remanescente, isto é, aquele que depois de sofrer o castigo pelo seu pecado é alcançado pela misericórdia de Deus. 

Por outro lado, o remanescente entre as nações é como um leão entre os animais das selvas (cf.5.7) (isto é, alguém que supera a todos em orgulho coragem e bravura). É como um leãozinho à procura de caça entre os rebanhos de ovelhas (isto é, o qual, se passar, as pisará e despedaçará, sem que haja quem as livre). Essa profecia é cumprida na igreja. Entre aqueles que serão salvos, o povo de Deus é como o aroma de vida, mas entre aqueles que perecerão, ele é o cheiro da morte (cf. 2Corintios 2.14-16)[3].    


CONCLUSÃO

O livro de Miqueias se baseia no seu desfecho na esperança messiânica. Somente o reino do Messias permanecerá para sempre, e somente aqueles que recebem o Messias e vivem em santidade e piedade terão parte nesse reino. Aqueles que continuam a rejeitar o Messias precisam estar cientes de que sofrerão o mesmo destino das nações inimigas. Sua mensagem é uma mensagem de esperança e ao mesmo tempo de juízo. Quando o povo de Deus confessar seus pecados, o Senhor terá compaixão deles, apesar de não merecerem: “De novo terás compaixão de nós; pisarás as nossas maldades e atirarás todos os nossos pecados nas profundezas do mar” (Miqueias 7.19).

 

Referências Bibliográficas:

 

A BÍBLIA SAGRADA, trad. da Vulgata pelo Pe. Matos Soares, 34a. Edição, São Paulo: Edições Paulinas, 1977.

 

Angus, Joseph. História, Doutrina e Interpretação da Bíblia. São Paulo: Agnos,

2003.

 

Comentário Bíblico Africano / editor geral Tokunboh Adeyemo – São Paulo: Mundo Cristão, 2010.

 

Comentário Bíblico: Vida Nova / D.A Carson… [et.al.] – São Paulo: Vida Nova, 2009.

JOSÉ MAURÍCIO CUNHA DO AMARAL

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1]    Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2009. p.1238

[2]    Angus, Joseph. História, Doutrina e Interpretação da Bíblia. São Paulo: Agnos, 2003. p.485

[3]    Op. Cit.

José Mauricio Cunha do Amaral