O remanescente estava em condições lastimáveis: aflito, manco e disperso (3.19b) como nos diz Sofonias, mas o Senhor os recolherá. A promessa de restauração deve servir de encorajamento e consolo ao povo de Deus, pois o Senhor trabalhará a nosso favor e nos dará alegria.
O AUTOR
Sofonias, nome comum em seu tempo, cujo significado é "Javé escondeu ou protegeu" era de linhagem piedosa. Descendente da quarta geração do rei Ezequias era uma exceção. Dezoito dos dezesseis profetas escritores não conhecemos sequer o nome do pai. Singular dentre todos, sua árvore genealógica prolonga a cadeia ascendente até ao trisavô, chamado Ezequias (1.1). Foi profeta durante o reinado de Josias, décimo sexto rei de Judá (640 – 609 a.C).
CONTEXTO HISTÓRICO
O período entre os reinados de Ezequias e Josias foi marcado pela decadência religiosa. A verdadeira adoração a Javé foi corrompida na época do perverso Manassés (695 – 642 a.C) e seu filho Amon que durante seus reinados incentivaram a idolatria, tolerando o sacrifício de crianças, a feitiçaria e a prostituição cultual (cf. 2Reis 21). O período em que aconteceram as profecias de Sofonias tem sido alvo de debate. Alguns estudiosos sugerem uma data anterior à restauração do javenismo por Josias. Mas foi somente sob a liderança de Josias que a visão do javenismo foi retomada, isto é, uma volta aos princípios de lealdade e obediência firmada pela povo de Deus no monte Sinai (cf. Êxodo 19 – 24). Embora oficialmente proibidas por Josias, as práticas pagãs continuaram acontecendo no meio do povo.
Na sua profecia, várias nações são mencionadas nos cap. 2 – 3, como por exemplo, Nínive, capital da Assíria que seria destruída (2.13). Entre outras nações estão a Filístia (2.4-7), Moabe, Amon (2.8-11) e Cuxe, também chamada de Etiópia (2.12).
SUA MENSAGEM
O juízo é o tema teológico que dá unidade ao livro. A denúncia de Sofonias quanto à depravação moral e religiosa e seus pedidos urgentes de "Buscai ao Senhor" podem ter lançado as fundações do grande avivamento que aconteceu mais tarde no tempo de Josias. Um outro fato a ser destacado é em relação a uma mensagem de Sofonias, especialmente no cap. 3.14-20. Para muitos estudiosos, é bastante questionável o fato de uma nação transgressora, que enfrentava o o juízo e estava sendo advertida a arrepender-se, receber uma mensagem de esperança como a que se encontra no texto. Essa construção aparentemente lógica contraria o Antigo Testamento como um todo, onde justiça divina e amor compassivo são aspectos distintos. Como parte integrante da aliança estavam, tanto a bênção pela obediência (cf. Deuteronômio 28.1-14), quanto a maldição pela desobediência (cf. Deuteronômio 28.15-68).
ESBOÇO DO LIVRO
1.1 Epígrafe
1.2 – 2.18 A vinda do Dia do Senhor
1.2 – 3 O julgamento universal
1.4 – 6 O julgamento de Judá e Jerusalém
1.7 – 13 Descrição do julgamento de Jesrusalém
1.14 – 18 O grande Dia do Senhor
2.1 – 3.20 Arrependam-se e busquem a salvação de Deus!
2.1 – 3 Sofonias estimula o povo a buscar a Deus
2.4 – 15 O julgamento de Deus sobre as nações
3.1 – 8 O julgamento de Deus sobre Judá
3.9 – 20 Deus promete salvação a judeus e gentios
3.9 – 10 As nações voltarão para Deus
3.11 – 13 Salvação e transformação do remanescente de Israel
3.14 – 17 A alegria do remanescente
3.18 – 20 Vindicação e restauração do remanescente
O TEXTO MAIS DIFÍCIL
A descrição de Sofonias como o "Grande Dia do Senhor" me fez refletir sobre o juízo de Deus. Joel e Amós também falam desse tempo (Joel 2.11; Amós 5.18-20;).O texto declara que não será um dia de alegria, pois o Senhor virá guerrear contra a humanidade (1.14-15).
Esse tema não é empolgante, pois a maioria de nós cristãos, prefere pensar nele como um tempo muito distante. Afinal, estamos tão ocupados com os nossos afazeres que esse assunto pode ficar para depois, não é mesmo? Mas a Bíblia nos adverte que ele está bem próximo. Mais próximo do que podemos imaginar. A parusia, expressão grega usada no Novo Testamento para designar a segunda vinda de Cristo, nos aponta para a sua volta iminente (2Tessalonicenses 2.1-2).
Os horrores do Dia do Senhor mencionados pelo profeta estão além da imaginação. Será um tempo de tamanha angústia em que todos como cegos andarão tropeçando e caindo na escuridão de sua própria desobediência: "Trarei aflição aos homens; andarão como se fossem cegos, porque pecaram contra o Senhor. O sangue deles será derramado como poeira, e suas entranhas como lixo" (Sofonias 2.17).
Fico pensando na nossa tremenda responsabilidade em pregar o evangelho avisando às pessoas que se elas não se arrependerem de seus pecados irão para o inferno. Responsabilidade minha e sua da qual daremos conta, como nos diz o poeta sacro num de seus hinos: "Não me falaram de Cristo! Tantos vi que salvou, mas ninguém se importou de falar-me da graça de Cristo" [Nunca ouvir de Cristo – Pitrowsky / Gabriel]. Você já parou para pensar nisso?
O TEXTO QUE MAIS TOCOU O MEU CORAÇÃO
Como é bom saber que o Deus de Israel do passado é o nosso Deus. Sofonias convida seu povo a se alegrar: "Cante, ó cidade de Sião; exulte, ó Israel! Alegre-se, regozije-se de todo o coração ó cidade de Jerusalém! O Senhor anulou a sentença contra você, ele fez retroceder os seus inimigos. O Senhor, o Rei de Israel, está em seu meio; nunca mais você temerá perigo algum" (Sofonias 3.14-15). Gosto dessa parte da profecia porque ela fala do remanescente. O Deus criador de todas as pessoas reserva para si um remanescente dentre todos os povos, e isto nos inclui. As estes, Deus promete presença, encorajamento, prazer, tranquilidade, alegria, livramento e honra (3.14-20). Quando olhamos para o Deus do Antigo Testamento, austero e vingador, temos a impressão de que não é o mesmo Deus a quem servimos hoje. Mas o desejo de Deus é abençoar e não amaldiçoar; curar e não matar. Um Deus sempre perdoador, cujo braço compassivo, continua estendido em nossa direção sempre pronto a nos acolher. Não há mais dívida a ser paga. Ele já pagou o valor do resgate:" Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus" (Romanos 8.1). Aleluia!
JOSÉ MAURICIO CUNHA DO AMARAL