VOVÓ FAIXA BRANCA (Rui Xavier Assunção)

Na Igreja onde congrego, ou na Paróquia como alguns preferem, há simpático casal com o qual  converso.  Ela, sempre sorridente, tem uma mecha de cabelos brancos bem na fronte, que se destaca entre seus cabelos castanhos ou pretos, detalhe que me escapa.
Depois do nascimento da minha neta primogênita aquela senhora, curvando-se, passou a me chamar de honorável vovô,.
Há três ou quatro anos o filho caçula do casal convolou núpcias. A partir desse acontecimento  passei a chamá-la de vovó faixa branca. Ela fazia muxôxo e a sussurrar, esperançosa, exclamava: “ainda não, honorável vovô”!
Num domingo de dezembro ao chegar à Igreja, encontrei-a radiante de felicidade. Curioso perguntei o motivo de tanta alegria. Explicou que na semana anterior, o filho convidara o casal para ir com urgência à  casa dele, pois tinha importante comunicação a fazer e teria de ser naquela noite.
Preocupados para lá se dirigiram e, no trajeto, se puseram a imaginar qual o tipo de problema enfrentado pelo filho, que os queria ver com tanta urgência. Ele e a mulher teriam se desentendido tão sériamente a ponto de pensarem em divorcio?
Apreensivos bateram à porta e, quando esta se abriu,  viram o filho e a nora a segurarem um cartaz dizendo: “Parabéns, vovós!” No fundo da sala divisaram a mãe da nora a chorar de emoção.
“Quase bati no menino,” disse ela. “Para me dar tão boa notícia ele precisava ter me pregado tamanho susto? Logo serei vovó”!
Cumprimentei-a com um sorriso  dizendo seja bem vinda ao clube, vovó faixa branca.
Há poucos dias o marido dela me convidou para participar de uma reunião. Antes de desligar o telefone perguntei-lhe sobre o estado de saúde da nora. “Ela está muito bem. Outro dia ouvi as batidas do coraçãozinho do neném. Ainda não dá para saber o sexo mas eu ouvi o coração do bichinho bater. Essa tecnologia é sensacional!”
A vibração do futuro vovô me fez pensar no maravilhoso mundo tecnológico em que vivemos, sempre em mutação.
A tecnologia alcança todas as atividades humanas: no comércio, na indústria, nas ciências. Na medicina  é simplesmente notável o uso que dela se faz.  Desde ouvir o batimento do coração de um ser ainda em formação,  assim como possibilitar aos médicos cirurgiões a realizarem delicadas intervenções com precisão milimétrica, auxiliados por robôs.  E as tomografias computadorizadas que nada mais são do que radiografias dos órgãos internos do corpo humano, o cérebro, inclusive.
Ao simples toque de alguns botões valores de milhões, e até bilhões, são transferidos de um canto a outro do planeta. E o que dizer dos telefones celulares, essas engenhocas com que se faz quase tudo, até falar com o interlocutor e até ouvi-lo?
Todas estas maravilhas surgiram com o notável e avassalador desenvolvimento da ciência de computação apos o termino da Segunda Grande Guerra, também chamada de Segunda Guerra Mundial. Isso tudo me faz lembrar das palavras de Habacuc, ou Habacuque 1.5:
 
 “Vede entre os gentios e olhai, e maravilhai-vos, e admirai-vos; porque realizarei em vossos dias uma obra que vós não crereis, quando for contada.”
 
Para os coevos do profeta era  dificil entender o que ele queria dizer. E para nós? Lembremo-nos de que a eleticidade, a fôrça dos ventos, a velocidade da luz e a do som, a energia atômica e a nuclear tudo isso existe desde a fundação do mundo mas não eram conhecidas nem nos dias de Habacuque.  Foram sendo descobertas ao longo da história.
Certamente há outras descobertas a serem feitas o que me faz pensar que quando as minhas netas e as da vovó faixa branca tiverem a idade que hoje temos o mundo sera muito diferente, porque o que hoje nos maravilha amanhã será peça de museu.
Hoje é possível trocarmos um aparelho celular por outro sem perdermos os dados guardados no antigo. Basta, apenas, retirarmos o “ chip” de um e colocá-lo no outro.
Novamente me ocorre outra passagem bíblica:
 
“E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome.” (Apocalipse 13:16/17). 
 
Li, há tempos, comentário de um teólogo afirmando existir no hemisfério norte um grupo de cientistas a estudar uma maneira de fazer desaparecer o dinheiro como hoje o conhecemos. Uma das idéuas é a de se implantar um “chip” na testa ou na mão direita  de cada cidadão, por serem as partes mais sensíveis do corpo. Se é verdado ou se deixa de ser, está fora do meu alcance saber.
Voltando aos futuros vovós, pois foram eles que abriram as comportas das minhas turbinas dedutivas, lembro das palavras do sábio rei Salomão:
 
“A coroa dos velhos são os filhos dos filhos; e a glória dos filhos são seus pais.”  (Provérbios 17-6).
 
Alguns traduzem como a alegria dos velhos.  Prefiro esta tradução àquela por motivos óbvios, embora não concorde com a expressão “dos velhos”.
Mas o que fazer? Só nos resta elevar as mãos e os olhos para os céus, agradecer a Deus e dizer ATÉ AQUI NOS AJUDOU O SENHOR. AMÉM.
 
Rui Xavier Assunção