BOM DIA: Há gestos que não esquecemos

Quando meu pai morreu, levamos seu corpo do Rio de Janeiro para Vitória, para ser enterrado ao lado da minha mãe, que partira alguns dias antes.
Eu me lembro de pouca coisa. Do que disseram (ou do que eu disse, se é que disse) no culto de gratidão por sua extraordinária vida, nada retive. Exceto um gesto.
O gesto foi, enquanto a cerimônia era celebrada numa sala apertada, um abraço que um amigo me deu.
Anos depois, este amigo passou por um momento dramático em sua saúde, que culminou num transplante raro. Sua recuperação foi em outra cidade. Demorei um pouco, à espera do melhor momento, para visita-lo. Na verdade, não devia ter demorado. Fui e conversamos longamente. Não viajei para encontra-lo por me achar devedor. Amor não se deve.
O que importa mesmo é que hoje, quando a memória revive aqueles momentos de pesadas perdas, tem lugar no pódio da gratidão a ternura, talvez sem palavras, do meu amigo.
Não deixe de chorar com quem chora.
Não deixe de abraçar um órfão, seja de pai, de filho, de cônjuge ou de outra pessoa querida.
Seu gesto não será esquecido


ISRAEL BELO DE AZEVEDO.

(BOM DIA 416)