Penso na mãe, como Maria, esperando o seu bebê,
sempre desejado, mesmo quando não planejado,
pois, para um filho, não há hora errada para vir,
não há casa tão pequena que não o possa receber.
Penso na mãe que olha para as histórias do seu nenê,
registradas em álbum, guardadas na palma da mão,
propaladas nas rodas das amigas em pé,
sentidas, como Maria, no segredo do coração.
Penso na mãe, como Maria, vendo o filho crescer,
para, mais rápido que imagina, daqui a pouco partir,
deixando o berço distante e a cama na vacância.
É caminho para ser feito; é caminho para ser sofrido.
Penso na mãe que sabe: o parto é partida, o parto é perda,
o parto é o primeiro nascimento, a perda é o segundo.
O parto é dor; doi a perda, quando a sempre criança
deixa Nazaré, um ventre, para Jerusalém, um mundo.
Penso na mãe, como Maria, vendo o filho sofrer,
cheia de vontade de pegá-lo no colo, sem poder.
Penso na mãe, como Maria, que, sem desistir,
ama o menino e permanece ao seu lado até o fim.
Penso na mãe, como Maria, que, sem duvidar,
crê que seu rebento não usa o revés para recuar.
Penso no filho ("amigo, eis aí a tua mãe, por favor")
provendo o futuro daquela que sempre o amou.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO