EPIDEMIA DE PREGUIÇA! (Lécio Dornas)


“Preguiçoso, aprenda uma lição com as formigas!  Elas não têm líder, nem chefe, nem governador,  mas guardam comida no verão, preparando-se para o inverno. Preguiçoso, até quando você vai ficar deitado? Quando vai se levantar? Então o preguiçoso diz: “Eu vou dormir somente um pouquinho, vou cruzar os braços e descansar mais um pouco.” Mas, enquanto ele dorme, a pobreza o atacará como um ladrão armado.”  
( Provérbios 6.6-11 – NTLH )

 

Quanto mais eu trabalho, me esforço, viajo, estudo, prego, aconselho, visito, dirijo reuniões ,  vou dormir cada noite com o desejo que o dia tivesse mais horas; mais eu encontro gente que, como se diz, “não quer  nada  com a hora do Brasil”.

Gente que consegue fazer a mesma coisa todos os dias e nunca a faz melhor; pessoas que pegam um trabalho já iniciado e sequer se esforçam por completá-lo; gente que não limpa ou melhora o próprio local de trabalho, que não se importa o mínimo quando algo se quebra ou estraga, que prefere colecionar objetos estragados a consertá-los, opta por usar mais um copo limpo a lavar um para tomar água.

O fato se dá com funcionários de aeroportos, hotéis, repartições públicas, agências bancárias, consultórios etc. Quando a gente menos espera ( e as vezes quando mais precisa ), fica de frente com um desses calaceiros.

Recentemente deixei o carro no estacionamento de um aeroporto para uma viagem rápida. Ao retornar, verifiquei que, por ter esquecido o farol ligado, a bateria estava descarregada. Imaginei que eu não deveria ser o primeiro a sofrer este tipo de infortúnio e voltei ao terminal, fui orientado pelo setor de informações a procurar uma das muitas pessoas que transitavam no saguão com um colete exibindo a seguinte frase: “Posso ajudar?”. Ao compartilhar meu problema ele me disse: “Aqui no aeroporto o senhor não vai encontrar solução, vai ter que chamar ajuda de fora, não posso ajudar em nada”. Observei que ele se afastou e se encostou num balcão e ali ficou. Comecei andar e procurar algum setor que fosse util e achei outra pessoa com o mesmo colete. Arrisquei e expliquei também a ele minha situação. O senhor me conduziu até o local apropriado no próprio saguão, não muito longe de onde estávamos, lá eu obtive ajuda e, em poucos minutos, eu já estava saindo do estacionamento no meu carro com a bateria já funcionando. Dois funcionários com o mesmo colete, desempenhando a mesma função, no mesmo horário: Um mandrião e o outro um trabalhador honesto e digno.

No contexto empresarial, nas empresas de todos os portes, o fato também ocorre. Às é empresário, o executivo, o diretor ou o gerente,  que se debruça em planilhas e resultados pretéritos e fica no escritório ao telefone, na Internet ou só de papo com algum colega, esquecendo-se de que sua empresa confia nele e o remunera para dedicar tempo e potencial em favor de seu crescimento.

Diretorias inteiras de empresas, optando por caminhos aparentemente mais curtos e fáceis de serem percorridos, acabam perdendo sua posição no mercado e, não poucas vezes, tendo até que deixá-lo.

A razão de tudo: Preguiça, muita preguiça!

Há uma epidemia de preguiça na sociedade contemporânea!

A preguiça faz a pessoa escolher sempre o caminho mais fácil, o que dá menos trabalho, mesmo que não assegure resultados compensadores. A preguiça faz a pessoa criticar o que seu antecessor fazia, simplesmente para justificar sua inação. A preguiça leva a pessoa a abandonar projetos e caminhos já iniciados, apenas para não ter que enfrentar o desafio de aprender e crescer. Afinal de contas, é bem mais fácil e cômodo parar com um projeto cuja continuidade coloca o líder na contingência de desenvolver novas competências, do que encarar a própria limitação, assumindo-a e agindo na direção de desenvolver novas habilidades para o bem da empresa ou da corporação. A preguiça faz a pessoa estagnar e sua obra definhar! A preguiça, por fim, emburrece.

Se na sociedade como um todo, e no mundo corporativo em particular, a preguiça é devastadora, na igreja e na obra do Reino de Deus, é fatal.

São pastores de tempo integral que só começam preparar o sermão no dia anterior ao da pregação; líderes de ministérios que nunca reúnem seus liderados, nunca planejam e, quando dão por si, o ano acabou e nada foi feito.

Lembro-me de uma igreja onde fui membro que, no momento da eleição da nova diretoria, reelegeu como diretor de evangelismo, um irmão que não havia feito absolutamente nada no ano anterior. A justificativa foi a de dar a ele a oportunidade para fazer algo, já que no ano anterior ele não conseguiu fazer nada. Resultado: Mais um ano sem evangelismo na igreja.

O mesmo se verifica em instituições do Reino, que patinam sem sair do lugar há anos, unicamente pelo comodismo, falta de visão e preguiça daqueles que as lideram. Perdem-se dinheiro, desperdiçam-se oportunidades, frustram-se pessoas de alto potencial, enfim, o Reino perde, perde e perde.

Uma das coisas que alimenta a preguiça é a ilusão quanto à durabilidade dos efeitos de vitórias no passado. A pessoa tem uma vitória em um determinado tempo e fica o resto da vida querendo viver à sua sombra. A preguiça tende a se instalar logo após um grande triunfo e, quando se instala, impede que novas conquistas aconteçam.

Segundo a sabedoria de Provérbios, supramencionada, o preguiçoso…

·        Não é pró-ativo ( “… Elas não têm líder, nem chefe, nem governado…” );

·       Não é previdente ( “… mas guardam comida no verão, preparando-se para o inverno…” );

Não tem prontidão em agir
( “…vPreguiçoso, até quando você vai ficar deitado? Quando vai se levantar? ); 

·    Vive perdendo oportunidades ( “…o preguiçoso diz: “Eu vou dormir somente um pouquinho, vou cruzar os braços e descansar mais um pouco.” ).

 

Diz ainda que o preguiçoso, vítima da própria preguiça, sem perceber…

·        Acaba em ruínas (…”Mas, enquanto ele dorme, a pobreza o atacará como um ladrão

armado.” ).

Ao que parece, o preguiçoso está muito em desvantagem em nosso tempo. Tanto o competitivo mundo corporativo, quanto as organizações públicas e também as do chamado terceiro setor, elencam competências que o desclassificam com facilidade.

Mesmo na igreja e nas agências do Reino, onde a carga de misericórdia e a disposição em 
dar mais uma chance ao desleixado e mandrião, é sempre grande; mesmo aí decresce a tolerância com os que só fazem peso e, como já disse, “não querem nada com a hora do Brasil”.

Não é raro vermos gente com este perfil zopeiro dando entrada no seguro desemprego e 
depois, amargando temporadas sem encontrar espaço no mercado de trabalho.

O oposto do preguiçoso é o laboriso, o
devotado ao trabalho, que trabalha duramente  e esforçado. Estes saem na frente e acabam conquistando os melhores espaços.

Em nossas igrejas, instituições cristãs, agências missionárias, colégios e faculdade 
evangélicos, hospitais e projetos sociais cristãos, precisamos empreender uma luta contra o ostracismo, a tendência à mesmice e à retaguarda, bem como à estagnação e ausência de progresso, tudo isso provocado pela preguiça daqueles que as lideram ou nelas estão alocados, especialmente em funções de nível gerencial, de direção e supervisão.

Não podemos mais tolerar em nossas organizações e nas estruturas de nossas igrejas, 
pessoas que não querem crescer e, por isso, não cooperam para que a Obra cresça. Gente enferma que não aceita remédio e tratamento.  Pessoas  cheias de inveja, marcadas por vaidade, despidas de humildade e contaminadas pelas tiranias da competição e do estrelato; que lutam por cargos, mas não aceitam a missão; que brigam pelo que querem fazer, mas não vibra  com o que já foi feito por outros; que zelam por sua posição mas não se dobram perante a Cruz do nosso Senhor. Gente que está mas não é; que aparenta mas não tem; que fala mas não faz; que julga os outros mas não cresce.

Precisamos encontrar gente que de fato queira fazer o trabalho, inová-lo, aprimorá-lo, ampliar 
seu escopo e sua abrangência; gente que se realize no trabalho e não apenas com os proventos e benefícios dele advindos; gente que, por trabalhar em agências do Reino, tem a visão de ministério e, portanto, de excelência.

Gente que busca a sabedoria do alto, que sabe discernir entre o ótimo e o excelente, que é digno do Evangelho, que se apresenta a Deus aprovado, sem ter de que se envergonhar, que milita na medida exata das suas forças, que não enterra talentos nem se vende por moedas de prata; gente que se ajoelha para orar sem temer editais profanos, que cumpre a missão sem medo de ser lançado no poço, que segue o modelo de Cristo sem receio de ser rejeitado pelos homens.

É de gente assim que precisamos em nossas agências cristãs e em nossas igrejas. Gente
que não receia ter que encarar tribunais iníquos, adversários medíocres, sistemas contaminados, soldados inimigos ainda que vestindo a mesma farda, falsos profetas, pseudo-apóstolos. Precisamos de gente pronta para caminhar de dia e de noite, no vale e na montanha, no meio das massas ou solitariamente, gente apta para obedecer a Deus crendo no incrível, vendo o invisível e ousando o impossível.

É de gente assim, sem preguiça e pronta para trabalhar em favor do crescimento do Reino, 
sem trégua e sem comodismos, que a Obra de Deus precisa.

E vale lembrar a promessa do Senhor para os que não cruzam os braços e não se 
acomodam, antes  se esforçam e dão o máximo de si para que o trabalho seja realizado com êxito e excelência:

 

(“E o lavrador que trabalha no pesado deve ser o primeiro a receber a sua parte na colheita.”  — II Timóteo 2.6 – NTLH )

 

Agora, quando a preguiça prevalece… A ruína logo baterá à porta. Faço eco com a Versão Revisada da Imprensa Bíblica Brasileira (de acordo com os melhores textos em hebraico e grego – 1986 ): 

                       

“Vá ter com a formiga, ó preguiçoso,

considera os seus caminhos, e sê sábio.”

( Provérbios 6.6 )

 

 

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Lécio Dornas é teólogo, educador, autor com 19 livros publicados nas áreas de Educação Cristã,

Liderança, Estudo Bíblico, Vida Cristã e Infantil. Palestrante e Conferencista internacional, atua na

formação de líderes e de docentes em vários países. É membro da Diretoria da Convenção Batista

Brasileira e da Sociedade Bíblica do Brasil, Docente Nacional do Instituto Haggai do Brasil e Pastor da

Igreja Batista do Fonseca, em Niterói, RJ.