PARA UM DESPERTAMENTO ESPIRITUAL (Joel 2.12-32)

 
Depois de um período que, indevidamente, podemos classificar de apaixonado, muitos cristãos descem as escadas da fé rumo à indiferença e ao desinteresse espiritual.
Há muitos, dentro e fora das igrejas, que querem uma bênção. Deus passa e a deixa. Aprendemos isto em Joel 2.12-32:
 
"’Agora, porém’, declara o Senhor, ‘voltem-se para mim de todo o coração, com jejum, lamento e pranto.
Rasguem o coração, e não as vestes’.
Voltem-se para o Senhor, o seu Deus, pois ele é misericordioso e compassivo, muito paciente e cheio de amor; arrepende-se, e não envia a desgraça.
Talvez ele volte atrás, arrependa-se, e ao passar deixe uma bênção. Assim vocês poderão fazer ofertas de cereal e ofertas derramadas para o Senhor, o seu Deus.
Toquem a trombeta em Sião, decretem jejum santo, convoquem uma assembléia sagrada.
Reúnam o povo, consagrem a assembléia; ajuntem os anciãos, reúnam as crianças, mesmo as que mamam no peito. Até os recém-casados devem deixar os seus aposentos.
Que os sacerdotes, que ministram perante o Senhor, chorem entre o pórtico do templo e o altar, orando: ‘Poupa o teu povo, Senhor. Não faças da tua herança objeto de zombaria e de chacota entre as nações. Por que se haveria de dizer entre os povos: ‘Onde está o Deus deles?’ (…)
‘E, depois disso, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os velhos terão sonhos, os jovens terão visões.
‘Até sobre os servos e as servas derramarei do meu Espírito naqueles dias.
Mostrarei maravilhas no céu e na terra: sangue, fogo e nuvens de fumaça’.
O sol se tornará em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e temível dia do Senhor.
E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo, pois, conforme prometeu o Senhor, no monte Sião e em Jerusalém haverá livramento para os sobreviventes, para aqueles a quem o Senhor chamar".
(Joel 2.12-32)
 
Joel nos propõe um despertamento espiritual.
 
1. ESTAR ESPIRITUALMENTE DESPERTO É TER CONSCIÊNCIA DA PRESENÇA DE DEUS.
A esta consciência precisamos corresponder com um desejo por esta presença.
 
Nossas vidas são reguladas pela agenda do dia, que é muito curto para o que temos que fazer. Se dizemos, por exemplo, que somos pessoas de oração, nossa agenda nos confirma ou nos desmente.
 
Nossas vidas estão reguladas pela agenda do século. O que pensamos vem do que vemos, ouvimos e lemos, avassaladoramente.
 
Deus espera um coração despertado.
Um coração despertado espiritualmente é um coração em que o Espírito de Deus se derrama.
Um coração despertado procura pensar com a cabeça de Deus. Num coração despertado, o céu e a terra fazem parte de uma mesma realidade.
Um coração despertado não ora a um Deus distante, mas a um Deus que está ao lado.
Um coração despertado não vê a sua vida como à parte da vida de Deus.
Um coração despertado vive sua vida no teatro da glória de Deus.
Um coração despertado profetiza a Palavra de Deus, tem sonhos divinos para esta terra, tem visões (Joel 2.28) de quem Deus é: "misericordioso e compassivo, muito paciente e cheio de amor; arrepende-se e não envia a desgraça" (Joel 2.13).
 
(O fato de Deus se arrepender quer dizer que Ele considera as nossas orações para mudar as coisas; não existe destino, mas uma vida dinâmica, escrita a quatro mãos: as nossas duas e as duas de Deus. O fato de Ele não enviar desgraça deve nos lembrar que Deus não é o autor dos problemas que nos acometem em nossas vidas.)
 
A esta altura, você dirá:
— Bem, quero viver na presença de Deus, mas como faço isto?
 
Bem, preciso lhe dizer que estou na mesma caminhada, enfrentando as mesmas dificuldades.
Também separo o mundo de Deus do Deus do mundo. Também tendo a achar que Deus está em alguns lugares e em outros, não. Também sou levado a pensar que há dois planos de mundo: o nosso aqui, embaixo, e o de Deus, lá em cima. Eu leio que "se eu subir aos céus, lá estás; se eu fizer a minha cama na sepultura, também lá estás" (Salmo 139.8), mas minha cabeça ainda não alcança.
Então, vejo televisão sozinho. Leio sozinho. Trabalho sozinho. Caminho sozinho.
 
Quando estou bem, reservo um tempinho para estar na presença de Deus, entendido como um tempo de oração e meditação.
 
Quero me livrar deste equívoco, e espero que o queira também. Espero que, como eu, queira Deus como Ele é: 100% presente nas nossas vidas. Acordemos com Ele. Almocemos com Ele. Trabalhemos com Ele. Peguemos o ônibus com Ele.
 
Quando me assento para estudar e escrever, sobretudo sermões, posso pesquisar, posso raciocinar, posso brincar com as palavras, posso alcançar os efeitos literários ou retóricos que imagino. Quando termino, posso até agradecer a Deus pelo resultado.
 
Mas isto é pouco. Quero um Deus ao meu lado, embora invisível e até mesmo insentível. Este Deus me inspira a produzir frases que nunca imaginei, a interpretar textos com idéias que nunca tive, a corrigir meus erros, a fazer com que um texto árido fique cheio de vida, para mim e para os que alcanço.
Isto não quer dizer que não devemos reservar um tempo específico para a oração e para a meditação, mas não tempo para a presença de Deus. Ele está sempre presente. Sua presença não é a exceção, mas a regra.
 
Precisamos de uma teologia sobre Deus, que não o ponha num cercadinho das coisas religiosas. Deus fala, se ouvimos. Deus ouve, se falamos. Deus se manifesta, se queremos.
 
Não podemos nos esconder dEle, mas achamos que podemos. Ele está no nosso trabalho, mas achamos que pode não estar. Ele está na praia, mas achamos que pode não estar. Ele está na sala de aula, mas achamos que pode não estar. Ele está no laboratório de pesquisa, mas achamos que pode não estar. Ele esta no consultório onde recebemos ou damos consulta, mas achamos que ele pode não estar. Pensamos em Deus como transcendente, e Ele o é, mas o que Ele é mesmo é onipresente, docemente.
 
"Que medo!" Poderá dizer alguém. Não: não se tem medo de quem ama. Queremos estar ao lado de quem amamos. Deus quer estar ao nosso lado, por puro prazer, porque Ele nos ama.
 
Nós podemos perder o prazer da presença dEle conosco à mesa, mas Ele está lá. Podemos perder o prazer da presença dEle conosco enquanto assistimos televisão, seja um jogo ou uma novela, mas Ele está ali. Podemos perder o prazer da presença dEle conosco enquanto nos divertimos ou aprendemos na internet, mas Ele está ali. Como agiríamos diferente se a nossa teologia incluísse Deus na vida, nas coisas da vida!
 
Essa presença nos ajuda a não pecar. Quando pecamos, nós O entristecemos. É clara a recomendação bíblica: "Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, com o qual vocês foram selados para o dia da redenção" (Efésios 4.30).
 
Essa presença nos ajuda a ter sabedoria e força para viver. Não nos consola saber que um amigo se importa conosco? Hoje recebi um telefonema de Cabinda, Angola, em que um irmão em Cristo me perguntava como eu estava, como estava a minha família, como estava a minha igreja. Só isto. De igual modo, é consolador saber que Deus se importa conosco e sofre conosco. Há algum tempo, tendo escrito que Deus chora conosco, alguém me pediu uma prova bíblica. Acho que encontrei agora. Está em Isaías 63.9: "Em toda a aflição do seu povo ele também se afligiu e o anjo da sua presença os salvou". Deus não só está presente conosco; Ele se aflige conosco. Pensamos em Deus como Todopoderoso, e Ele o é, mas o que Ele é mesmo é um Deus sensível, como se tivesse rosto humano.
 
Então, você dirá:
— Tudo bem. Esta é também a minha teologia, mas como faço para experimentar esta presença.
 
Repito: estou na mesma caminhada. Às vezes, sinto; às vezes, não sinto.
 
. Sinto que sinto esta presença quando, além de uma boa teologia, eu tomo decisões boas. O texto de Joel grita: "Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo" (Joel 2.32). Preciso invocar o nome de Deus, proferir o nome de Deus. Preciso ter o nome de Deus nos meus lábios.
 
. Sinto que sinto esta presença se torna sensível quando desenvolvo bons hábitos que ajudam a cultivar esta presença.
 
.. Quando nos levantamos pela manhã, precisamos começar praticando esta presença, reconhecendo aquele dia como um dia que Deus fez. Como lemos, cada manhã "é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos, e alegremo-nos nele" (Salmo 118.24). Agradeçamos. Intercedamos pelo nosso dia. Votemos viver na consciência da presença de Deus o resto do dia.
 
.. Precisamos logo de manhã reservar uns minutos para, além do café e do jornal, nos alimentar da Palavra de Deus. Para alguns, isto implicará em acordar alguns minutos mais cedo. Quem sabe um belo versículo nos acompanhe o dia todo e até nos ajuda numa hora difícil.
 
.. Precisamos encontrar tempo para ler bons livros, livros que nos ajudem a entender a vida, livros que nos apóiem em nossa compreensão da Bíblia, livros que nos estimulem a amar a Deus, que nos ajudem a conhecermo-nos a nós mesmos, livros que nos impulsionem a amar o próximo.
Se gostamos de música, devemos desenvolver o hábito de ouvir melodias bonitas, que nos ajudem a respirar a atmosfera de Deus. Se gostamos de cantar, cantemos, cantarolemos, assobiemos.
 
. Sinto que sinto a presença de Deus quando me importo com as pessoas. Como eu fui abençoado um dia destes! Acompanho uma família em que um deles está gravemente enfermo. Num dia em que tive notícias pouco animadoras, fiquei angustiado. O dia seguinte se prenunciava especialmente difícil. Tentei dormir, mas não consegui. Até que me veio um versículo à mente: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou". Peguei meu telefone e li o texto todo. Dormi. Quando o dia amanheceu, transmiti (por MSN) os versículos para a família, que depois me disse que foi abençoada pela Palavra de Deus, como eu o fora. Eu consegui dormir porque Deus estava presente e eu senti o seu cuidado, ao me dar aquele versículo. Por meu intermédio, o mesmo cuidado alcançou outras pessoas. O amor a Deus é sempre prático.
 
2. ESTAR ESPIRITUALMENTE DESPERTO É TER CONSCIÊNCIA DO PECADO, DO NOSSO PECADO.
A esta consciência precisamos corresponder com o desejo de não mais pecar.
Diante do pecado, podemos rasgar as vestes ou rasgar os corações.
O profeta clama: "Rasguem o coração, e não as vestes. Voltem-se para o Senhor, o seu Deus" (Joel 2.13).
Rasgar o coração é para quem, diante do próprio pecado, berra, desesperado, como Acã (“É verdade que pequei contra o Senhor, o Deus de Israel. O que fiz foi o seguinte:… " — Josué 7.20) ou arrependido como Davi (“Fui eu que pequei e cometi iniqüidade — 2Samuel 24.17; "Misericórdia, Senhor, cura-me, pois pequei contra ti" — Salmo 41.4; "Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua sentença e tens razão em condenar-me" (Salmo 51.4) ou esperançoso com o filho pródigo da parábola ("Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho" — Lucas 15:21.
Na antiguidade, o arrependimento precisava ser público, demandando, então, que se rasgassem as próprias roupas em sinal de arrependimento, num gesto que seria visto pelos outros. Era ao mesmo tempo confissão e compromisso. Que fazíamos nós, naquele tempo? Só rasgávamos as vestes. Todos achavam que tínhamos nos arrependido, e continuávamos no pecado.
Que fazemos, nos dias de hoje? Fazemos coisas, como se fossem penitências (atos exteriores que nos garantem a absolvição) ou prendas que pagamos (como nos jogos infanto-juvenis). E continuamos pecando. Nossa lista de autocastigos pode ser bastante criativa, para que que não tenhamos que rasgar o coração.
 
3. ESTAR ESPIRITUALMENTE DESPERTO É TER CONSCIÊNCIA DO DESEJO DE DEUS PARA NÓS.
A esta consciência precisamos corresponder com o desejo de amar a Deus
 
Escolhi para nos inspirar ao desejo de amar a Deus um testemunho do pastor Elben César, que agora reflete sobre uma experiência da sua juventude. Prestemos atenção.
 
"Eu tinha acabado de sair da adolescência e era um rapaz saudável de 19 anos. Já levava a sério minha devoção diária, com orações e leitura da Bíblia e de livros devocionais. Por meio dessas práticas, procurava aumentar cada vez mais minha comunhão com Deus e me proteger dos impulsos pecaminosos, dentre eles a impudícícia.
Nascido em lar cristão e instruído no temor do Senhor, eu sabia que qualquer relacionamento sexual vulgar, desconectado do amor e dos laços conjugais, não me seria saudável nem permitido. Meu problema não era a ignorância do fato, mas a dificuldade de me conservar com pureza. Temia o possível fracasso.
Por causa dessa tensão, resolvi buscar mais intensamente o Senhor para obter socorro. Não me lembro o dia nem o mês, mas naquele ano peguei uma sacola, coloquei nela minha Bíblia, o devocionário ‘Ouro, Incenso e Mirra’, que eu estava lendo, e o hinário. Fui sozinho, de manhã bem cedo, para um lugar deserto, onde havia uma pequena cachoeira. Ali eu faria o mesmo que Jacó fez perto do vau de Jaboque: lutaria com Deus até ver o céu aberto (Gênesis 32.22-32).
De um lado estava o anseio de fazer a vontade de Deus; de outro, a vontade, igualmente forte, de satisfazer os desejos da carne. Eu já havia memorizado a frase de Rosalee Appleby, autora de “Ouro, Incenso e Mirra”: “A pureza é o par de asas da alma que esvoaça e canta, destemida e alegremente. Esta magna questão está diante da mocidade. Urge um avanço e uma subida, porém, a juventude não poderá fazê-la com as asas quebradas”. Na mesma caderneta na qual transcrevia as frases mais bonitas dos livros lidos, achava-se escrito este pensamento do formidável Stanley Jones: “Eu sou puro? Essa questão de pureza é fundamental. É em relação ao sexo que a batalha da vida será mais acirrada: se nossa vida deixa a desejar nesse quesito, provavelmente toda ela anda mal”.
Embora sentisse a mesma dificuldade apontada por Lutero, eu não conhecia a célebre declaração do reformador de que “a castidade não é tão fácil quanto calçar e descalçar os sapatos”. Ele se referia à tentação da impureza como “furiosos impulsos da libido”, cujo furor é indômito. Anos depois eu leria algo parecido, escrito por Leonardo Boff: “A sexualidade possui um vigor vulcânico”. Além de desejar muito, eu precisava dominar os “furiosos impulsos” e o “vigor vulcânico” da sexualidade fora do tempo e do lugar certos. Por essa razão eu estava ali, junto à cachoeira, sozinho, intercalando leituras bíblicas e orações. Passei o dia inteiro naquele lugar. Só mais tarde, quando o sol começava a declinar e eu precisava voltar para casa, é que Deus me ouviu e me acalmou, por meio da última passagem lida: ‘O Senhor é meu pastor; nada me faltará’ (Salmo 23.1).
Embora seja um dos versos mais conhecidos da Bíblia, ele me fez entender que a vitória que eu queria alcançar viria por meio do cuidado pastoral de Deus, não do meu próprio esforço, vergonhosamente precário, tímido e insuficiente. E a vitória seria diária, não por atacado. A emoção foi enorme. Chorei e cantei, e vi o céu aberto. Passados cerca de sessenta anos, considero essa experiência com Deus a mais importante de todas". (CÉSAR, Elben. O dia em que vi o céu aberto. Ultimato, 329.)
 
Este jovem aprendeu a verdade bíblica: "A vontade de Deus é que vocês sejam santificados: abstenham-se da imoralidade sexual" (1Tessalonicenses 4.3). Ele não obedeceu aos seus impulsos, mas buscou obedecer a Palavra de Deus. Ele não foi na onda do seu tempo, mas ficou firme na Palavra de Deus. Como é bom saber que "Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade" (1Tessalonicenses 4.7)
 
Amar a Deus, portanto, tem conseqüências: no caso, só boas conseqüências.
Tudo começa com o nosso desejo. Tudo começa com a oração que fazemos, tornando objetivo este desejo.
 
1. Precisamos pedir a Deus forças para que nosso amor a Ele seja de todo o coração (Joel 2.12). 
Com esforço próprio, o máximo que conseguimos é amar a Deus pela metade, como Salomão, cujo coração não estava todo com Deus, porque parte do seu coração estava com as mulheres que amou pecaminosamente ao longo da vida, contra a vontade expressa de Deus.
O texto (1Reis 1.1-10) que narra os últimos dias de Salomão soa como um epitáfio lamentável:
 
"O rei Salomão amou muitas mulheres estrangeiras, além da filha do faraó. Eram mulheres moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hititas. 
Elas eram das nações a respeito das quais o Senhor tinha dito aos israelitas: “Vocês não poderão tomar mulheres dentre essas nações, porque elas os farão desviar-se para seguir os seus deuses”. No entanto, Salomão apegou-se amorosamente a elas. 
Casou com 700 princesas e 300 concubinas, e as suas mulheres o levaram a desviar-se. À medida que Salomão foi envelhecendo, suas mulheres o induziram a voltar-se para outros deuses, e o seu coração já não era totalmente dedicado ao Senhor, o seu Deus, como fora o coração do seu pai Davi. 
Ele seguiu Astarote, a deusa dos sidônios, e Moloque, o repugnante deus dos amonitas". ("Salomão virou devoto de Astarote, a deusa dos sidônios, e de Moloque, o abominável deus dos amonitas" — A Mensagem, de Eugene Peterson). 
(1Reis 11.6-10)
 
E aqui temos que fazer uma pausa na leitura. Como pode acontecer uma coisa dessas a um homem que começou a sua carreira de modo bem diferente?
Recordemos o início de sua trajetória, segundo o cronista (2Crônicas 1.6-12):
 
"Salomão ofereceu ao Senhor mil holocaustos sobre o altar de bronze, na Tenda do Encontro. 
Naquela noite Deus apareceu a Salomão e lhe disse:
— Peça-me o que quiser, e eu lhe darei. 
Salomão respondeu:
— Tu foste muito bondoso para com meu pai Davi e me fizeste rei em seu lugar. Agora, Senhor Deus, que se confirme a tua promessa a meu pai Davi, pois me fizeste rei sobre um povo tão numeroso quanto o pó da terra. Dá-me sabedoria e conhecimento, para que eu possa liderar esta nação, pois quem pode governar este teu grande povo?
Deus disse a Salomão:
— Já que este é o desejo de seu coração e você não pediu riquezas, nem bens, nem honra, nem a morte dos seus inimigos, nem vida longa, mas sabedoria e conhecimento para governar o meu povo, sobre o qual o fiz rei, você receberá o que pediu, mas também lhe darei riquezas, bens e honra, como nenhum rei antes de você teve e nenhum depois de você terá". 
(2Crônicas 1.6-12)
 
 
Depois disto, Salomão se dedicou a construir um templo para adoração a Deus. Concluída a obra, ele dedicou o templo ao Senhor e
 
"Assim que Salomão acabou de orar, desceu fogo do céu e consumiu o holocausto e os sacrifícios, e a glória do Senhor encheu o templo. 
Os sacerdotes não conseguiam entrar no templo do Senhor, porque a glória do Senhor o enchia.
Quando todos os israelitas viram o fogo descendo e a glória do Senhor sobre o templo, ajoelharam-se no pavimento com o rosto em terra, adoraram e deram graças ao Senhor, dizendo: “Ele é bom; o seu amor dura para sempre”. 
Então, o rei e todo o Israel ofereceram sacrifícios ao Senhor". 
(2Crônicas 7.1-4)
 
Então, voltamos ao fim:
 
"Dessa forma, Salomão fez o que o Senhor reprova (ou "Salomão desprezou abertamente o Eterno" — A Mensagem, de Eugene Peterson); não seguiu completamente o Senhor, como o seu pai Davi. 
No monte que fica a leste de Jerusalém, Salomão construiu um altar para Camos, o repugnante deus de Moabe, e para Moloque, o repugnante deus dos amonitas. Também fez altares para os deuses de todas as suas outras mulheres estrangeiras, que queimavam incenso e ofereciam sacrifícios a eles. 
O Senhor irou-se contra Salomão por ter se desviado do Senhor, o Deus de Israel, que lhe havia aparecido duas vezes. Embora ele tivesse proibido Salomão de seguir outros deuses, Salomão não lhe obedeceu". 
(1Reis 11.6-10)
 
Algum dia Salomão amou a Deus de todo o coração? Nunca saberemos. Mas sabemos que, ao final de sua vida, ainda amava a Deus, mas não de todo o coração. Ele amava mais a mulheres que a Deus.
Sua história encontra exemplos até hoje, infelizmente.
Pouco antes de ser preso, acusado de ataque sexual a uma camareira de Deus, o então diretor geral do Fundo Monetário Internacional, Domique Straus-Kahn, declarou que via três desafios caso viesse a concorrer à presidência da França e que o maior deles eram as mulheres: "Sim, eu amo as mulheres…e daí?"
O jogador Muller, atacante do São Paulo e da seleção brasileira e que chegou a ter 20 automóveis, mora hoje de favor, sem carro algum ou mesmo um plano de saúde. Sua explicação é simples: “Gastei com mulheres, com carros e etc. gastei com vaidades pessoais. Gastei dinheiro com amigos, entre aspas. Amigos de ocasião".
 
Não são apenas mulheres (ou homens, nos casos delas) que nos afastam de Deus. Cada um de nós precisa analisar o(s) perigo(s) que ronda(m) a sua vida. Cada um de nós precisa olhar para dentro do seu coração para ver o altar nele erigido e notar se nele há alguém mais ou algo mais além de Deus.
Como tem amado a Deus? De todo o coração?
Pedro amava a Jesus, mas não de todo o coração. Por isto, enquanto teve os olhos fixados em Jesus, caminhou sobre as águas; quando reparou no vento, afundou (Mateus 14.28-31). Pedro queria amar a Jesus e ao vento ao mesmo tempo. Por isto, quando estava com Jesus, declarava que ele era o próprio Filho do Deus vivo (Mateus 16.16). Quando estava com seus amigos, não conhecia a Jesus, traindo-o vergonhosamente (Mateus 26.75). Quando se dispôs a amar a Jesus de todo coração ("amas-me?", "amas-me?", "amas-me?" — uma pergunta feita três vezes feita por Jesus, para indicar se Pedro o amava de todo o coração), Jesus lhe confiou a tarefa de pastorear seu rebanho.
 
Precisamos pedir a Deus forças para que nosso amor a Ele seja de todo o coração. 
 
2. Precisamos pedir a Deus forças para rasgarmos nossos corações e não nossas vestes (Joel 2.13).
Rasgar as roupas era um costume dos hebreus para expressar tristeza diante da morte ou de alguma calamidade. Rubem, quando viu que José tinha desaparecido do poço onde fora colocado, rasgou as suas vestes (Gênesis 37.29), mesmo gesto do seu pai, quando informado falsamente da morte do filho (Gênesis 37.34). Era também uma expressão de indignação, como no caso do sumo-sacerdote ao acusar Jesus de blasfêmia (Mateus 26.65). O gesto acabou incorporado na tradição rabínica posterior para o funeral, como obrigatório após a morte de um parente próximo.
Ao longo do Antigo Testamento, rasgar as vestes representava uma forma dramática de adoração a Deus, como fizeram Josué e Calebe depois de espionarem a terra (Números 14.6). Por isto, Josué, diante da arca, rasgou as vestes e se postrou diante de Deus (Josué 7.6). Jó, num momento de arrependimento, rasgou as suas vestes (Jó 1.20).
Com  o passar do tempo, rasgar as vestes se tornou apenas um gesto exterior, sem que fosse uma decorrência de uma atitude interior. Ao tempo de Joel, as pessoas não tinham dificuldade em rasgar as suas roupas, em sinal externo de arrependimento, não acompanhado de uma disposição interna de arrependimento. 
Hoje os cristãos não somos chamados a rasgar literalmente suas vestes, mas somos convidados a fazê-lo simbolicamente.
Rasgar as vestes é relacionar-se com Deus de maneira superficial, apenas com manifestações exteriores e visíveis. 
Rasgar as vestes é ater-se às práticas de uma igreja (como o batismo, o dízimo), até os mais pesados (inventados pelos homens), achando que se está adorando a Deus, mas sem os fazer como atos de amor a Deus por causa do amor de Deus.
Rasgar as vestes é cantar (num coro ou congregação) mas sem desejar viver a letra da melodia.
Rasgar as vestes é participar das "mais diversas e minuciosas normas de cerimônias religiosas que são agradáveis à carne", uma vez que "a verdadeira fé é bastante humilhante, perscrutadora e completa, e não atrai o gosto carnal dos homens. Alguns preferem algo mais ostentoso, superficial e mundano". (SPURGEON, C.H. Rasgai o coração.)
Rasgar as vestes é autoflagelar-se (impor-se um castigo, pela culpa imaginada ou assumida), vivendo uma religião soturna, autoacusatória e acusatória, mas sem se arrepender. Arrepender-se implica cortar na própria carne, no próprio coração, porque inclui indispensavelmente não desejar pecar mais.
Somos capazes disto? Somos!
Uma situação real nos ajuda a perceber do que somos capazes: sei de uma pessoa que tem um comportamento pecaminoso em várias áreas, agindo de modo corrupto nos seus negócios e mantendo várias amantes. Todavia, é alguém que investe generosamente (sem fazer conta dos gastos) na obra missionária nacional e internacional em sua denominação. Este homem, para ser um cristão de fato, precisa rasgar o  seu próprio coração, deixando de amar o dinheiro e as mulheres, para amar somente a Deus.
Somos chamados a rasgar o coração, que é outra coisa.
Rasgar o coração é relacionar-se com Deus de maneira profunda, a começar com uma leitura apaixonada da Bíblia. 
Rasgar o coração é até participar das práticas de uma igreja, mas participar com o coração, de todo o coração.
Rasgar o coração é cortar o próprio pecado, mesmo que faça nosso desejo sangrar. Quem rasga o seu coração peca, mas não gosta de pecar. Quem rasga o coração não se acostuma com o seu próprio pecado, mas se indigna diante dele. Quando rasga o coração, o cristão não diz "gosto de mulheres… e daí?" (como o ex-chefão do FMI), mas se dispõe a mudar de vida. 
Como escreveu um autor no século 19, "o rasgar do coração é uma obra realizada por Deus e experimentada com solenidade. É uma tristeza secreta experimentada pessoalmente, não como um ritual, e sim como uma obra profunda e constrangedora da alma, por parte do Espírito Santo, no coração de todo crente. (…) O rasgar do coração é poderosamente humilhante e completamente purificador do pecado; mas, depois, é docemente preparatório para as consolações graciosas que espíritos orgulhosos não podem receber". (SPURGEON, C.H. Rasgai o coração.)
Como podemos rasgar o nosso coração? Melhor corrigirmos: como podemos ter rasgado o nosso coração? Nossa tarefa é "levar nosso coração até ao Calvário. A voz de um Salvador quase morto rasgou as rochas naquela ocasião e continua tão poderosa agora como o foi naquele dia", para rasgar o nosso coração. Se ouvirmos "os clamores de morte do Senhor Jesus", o "nosso coração será rasgado, à semelhança de homens que rasgavam suas vestes no dia de lamentação" na antiguidade. (SPURGEON, C.H. Rasgai o coração.)
 
Precisamos, portanto, pedir a Deus forças para rasgarmos nossos corações e não nossas vestes.
 
3. Precisamos pedir a Deus forças para termos uma fé que vá além das bênçãos (Joel 2.14).
O versículo 14 merece ser também lido com vagar:
 
"Talvez ele [Deus] volte atrás, arrependa-se e, ao passar, deixe uma bênção. Assim vocês poderão fazer ofertas de cereal e ofertas derramadas para o Senhor, o seu Deus" (Joel 2.14).
 
O verso começa de modo angustiante. 
 
"Talvez ele volte atrás, arrependa-se e, ao passar, deixe uma bênção" (Joel 2.14a).
 
Todos nós andamos atrás das bênçãos de Deus, venham numa embalagem material ou espiritual. 
Deus, para muitos de nós, é apenas uma caixa de bênçãos. Deus, para muitos de nós, não espera santidade dos Seus filhos. Muitos de nós achamos que podemos viver como quisermos e ainda seremos abençoados por Deus.
Deus é bom porque nos abençoa. Deus é bom enquanto nos estiver abençoando. Estamos viciados em bênçãos. Vem o poeta e diz: "talvez, Deus nos deixe uma bênção". Não tenhamos tanta certeza de que sempre seremos abençoados. Os contemporâneos de Jesus lhe pediram um milagre e ele disse: "não, só depois que se arrependerem" (Mateus 12.39).
Queremos cura e não há nada de errado neste anelo, estando doentes, nós ou alguém por quem intercedemos. Queremos prosperidade e não há nada de errado em desejar mais recursos financeiros para nós e nossa família. Queremos paz interior e não nada de errado em querer viver de modo sereno.
Tudo isto, no entanto, nos pode vir sem Deus. Há pessoas que não crêem em Deus e têm tudo isto.
Deus não pode ser medido por aquilo que nos dá ou eventualmente não nos dá.
Deus não pode ser procurado por aquilo que pode nos conceder.
Deus não pode ser amado como se fosse um mecenas que distribui dinheiro a quem lhe agrada.
Penso que este é o sentido deste "talvez". "Talvez ele volte atrás". Talvez Deus volte atrás.
Na verdade, com o pecado nós lhe demos as costas. Quando nos arrependemos, nós nos voltamos para Ele e Ele está onde sempre esteve: em frente a nós.
Então, arrependidos, nós nos voltamos. Como conseqüência, "talvez ele se volte". Difícil este texto.
Joel quer nos dizer que não podemos manipular Deus.
Não há uma fórmula mágica que desperte a vontade de Deus guardada (como se estivesse adormecida) dentro dele, para então no-la liberar. "Talvez".
Não devemos fazer nada para Deus por causa daquilo que nos vai dar. "Talvez".
"Talvez" Deus se volte para nós. "Talvez" Deus se arrependa. Isto quer dizer que, se mudarmos o nosso coração, pode ser que Deus mude o seu coração. A incerteza é importante, para que não confiemos em nós mesmos, mas confiemos em Deus. Nos o amamos mesmo que as coisas não corram como queremos. "Talvez". Não devemos nos arrepender para que Ele se arrependa.
"Talvez", ao passar, deixe uma bênção. É claro que por onde Ele passa a bênção fica. Jesus passou por Zaqueu e o abençoou. Jesus passou por Bartimeu e o abençoou. Deus é bênção. "Talvez". A bênção não é automática. Não basta mandar o currículo para ser contratado. Deus verá o coração antes de abençoar. Ele não quer ser enganado por vestes rasgadas. Ele quer corações rasgados.
Bênção não é um negócio. Deus não está neste balcão.
Bênção é algo que se vai, como o pão de cada dia, como a saúde, o emprego, essas coisas de que precisamos e pedimos a Deus. Assim mesmo, nós as queremos, como se fossem mais do que são. Jesus mesmo enfrentou esta humana disposição. A leitura deste conflito (João 6) dos homens com Ele nos ensina a crer:
 
"Quando o encontraram do outro lado do mar, perguntaram-lhe:
— Mestre, quando chegaste aqui? 
Jesus respondeu:
— A verdade é que vocês estão me procurando, não porque viram os sinais milagrosos, mas porque comeram os pães e ficaram satisfeitos. Não trabalhem pela comida que se estraga, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem lhes dará. Deus, o Pai, nele colocou o seu selo de aprovação. 
Então lhe perguntaram:
— O que precisamos fazer para realizar as obras que Deus requer? 
Jesus respondeu:
— A obra de Deus é esta: crer naquele que ele enviou. 
Então lhe perguntaram:
— Que sinal milagroso mostrarás para que o vejamos e creiamos em ti? Que farás? 
Declarou-lhes Jesus:
— Digo-lhes a verdade: Não foi Moisés quem lhes deu pão do céu, mas é meu Pai quem lhes dá o verdadeiro pão do céu. Pois o pão de Deus é aquele que desceu do céu e dá vida ao mundo. 
Disseram eles:
— Senhor, dá-nos sempre desse pão!
Então Jesus declarou:
— Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede". 
(João 6.25-35)
 
Esta é a bênção que vale a pena: o pão completo chamado Jesus Cristo. 
 
Continuemos lendo:
 
"Assim vocês poderão fazer ofertas de cereal e ofertas derramadas para o Senhor, o seu Deus" (Joel 2.14b).
 
Abençoar faz parte do caráter de Deus.
E a maior bênção que nos dá é quando nos ensina a reconhecer que "fazer ofertas de cereal e ofertas derramadas para o Senhor, o seu Deus" é o resultado das ações de Deus em nossas vidas.
O que temos vem de Deus. Só podemos dar o dízimo porque Deus nos abençoou antes. Esta é a ordem das coisas. Conscientes da presença de Deus, nós damos as costas para o pecado e ficamos de frente para Ele. De frente para Ele, deixamos que Ele aja. Diante de nos, Ele nos abençoa. Então, nós oferecemos nossas ofertas e nossos dízimos para Ele.
Oferecer a Deus nossas vidas, talentos e recursos financeiros, deve fazer parte do nosso caráter.
 
Para que nossa caráter seja assim, precisamos pedir a Deus forças para termos uma fé que vá além das bênçãos.
 
4. Precisamos pedir a Deus forças para vivermos de modo santo (Joel 2.15-17).
Então, chegamos ao principal: Deus espera que sejamos santos.
Por intermédio de Joel, Ele pede:
 
"Toquem a trombeta em Sião, decretem jejum santo, convoquem uma assembléia sagrada. Reúnam o povo, consagrem a assembléia; ajuntem os anciãos, reúnam as crianças, mesmo as que mamam no peito. Até os recém-casados devem deixar os seus aposentos. Que os sacerdotes, que ministram perante o Senhor, chorem entre o pórtico do templo e o altar, orando". (Joel 2.15-17)
 
. "Toquem a trombeta". A trombeta, no antigo Israel, era tocada geralmente para convocar para a guerra ou até para desbaratar o inimigo, inclusive muralhas, como no caso de Jericó.
"Toquem a trombeta". A trombeta devia ser tocada em Sião, convocando para o arrependimento. Sião somos nós. Os nossos maiores inimigos somos nós mesmos, quando o pecado se agarra ao nosso corpo, como se fosse parte de nós mesmos. A reforma tem que começar em nós. O nosso maior problema não são os adversários que nos cercam, mas o nosso pecado. 
"Toquem a trombeta". É convocação para a guerra contra o pecado, porque "o pecado é pior do que a fraqueza, do que a pobreza, do que a solidão, do que a doença, do que a fome e do que a própria morte. Todos estes males, por mais aviltantes, não podem nos separar de Deus, mas o pecado nos afasta de Deus agora e para toda a eternidade", se não nos arrependermos. (LOPES, Hernandes Dias. Joel. São Paulo: Hagnos, 2009, p. 77). "Toquem a trombeta".
 
. "Decretem jejum santo". Jejuar de modo santo é cultivar uma espiritualidade santa. Que expressão estranha. Sim: assim como pode haver jejum que não é santo, pode haver espiritualidade que não é santa". 
Jejum santo é aquele que ninguém vê, porque se dá a portas fechadas e o rosto aberto (Mateus 6.16).
Jejum santo é aquele que rasga o coração e não as vestes. Espiritualidade santa é aquela que não se contenta com culto; inclui-o, com toda a vibração, mas prossegue na vida, numa vida que vibra por causa da presença de Deus. 
Jejum santo é aquele que nos leva a uma abstinência de nós mesmos. Podemos jejuar abstendo-nos de alimento por um período, o que é válido. Podemos jejuar também abstendo-nos de nós mesmos, de nosso egoísmo, de nossa presunção, de nos acharmos que somos os tais.
 
. "Convoquem uma assembléia sagrada". Podemos desenvolver sozinhos uma espiritualidade santa, mas é na comunidade de fé que ela é  fortalecida, porque é alimentada pela adoração coletiva, pela leitura coletiva da Bíblia, pela oração coletiva, pelo encontro. Ao mesmo tempo, a espiritualidade comunitária é um desafio à fé individual. A comunidade é a soma de nós mesmos, e isto nos incomoda. 
"Convoquem uma assembléia sagrada". O convite à santidade é para todos. O profeta especifica cada grupo, para quem ninguém se sinta excluído do convite. 
Estejam presentes à assembléia os anciãos, os mais experientes da comunidade, os que têm uma história para contar. Estejam presentes as crianças, até as que ainda mamam. Os mais velhos devem exemplos para os mais jovens. E este exemplo, no entanto, não vem de sua idade, vem de sua vida. Precisamos de homens e mulheres experientes que ensinem os jovens a como viver de modo santo; para tanto, eles precisam viver de modo santo. 
Estejam presentes as crianças, incluídos os bebês. A igreja deve investir o máximo, em recursos humanos e financeiros, nas suas crianças. Seus professores devem ser os melhores. Suas salas devem ser as melhores. Devemos convidar nossas crianças à santidade. 
Estejam presentes os recém-casados. Não importam que estejam afastados do convívio e do trabalho para as primeiras delicias da vida conjugal. O arrependimento é para todos. O arrependimento é urgente. A lua-de-mel pode esperar. 
Estejam presentes os sacerdotes, aqueles que dirigem a congregação em culto, aqueles que pastoreiam a igreja. Eles precisam participar também da sagrada assembléia. Eles também precisam se arrepender. Eles também precisam aceitar o convite para a santidade. 
Cada um de nós é convidado à vida de santidade (Romanos 1.7), sem a qual ninguém verá o Senhor (Hebreus 12.14b).
Como está a sua vida, em termos de santidade? Tem orado todos os dias para ser santo? Tem orado todos os dias para ser ainda mais santo? Ótimo: o mandamento bíblico é claro: "continue o justo a praticar justiça; e continue o santo a santificar-se" (Apocalipse 22.11).
Como está a sua vida, em termos de santidade? Desistiu e está deixando seus desejos à solta, seu temperamento à vontade, seus impulsos no comando? Volte-se para Deus agora, rasgue o seu coração.
 
A assembléia, da qual você faz parte, está sendo convocada para chamar você ao arrependimento, para, então, Deus agir.
E Joel nos conta o que Deus faz.
Quando nos voltamos para Deus, encontramos esperança para a vida. Israel recebeu a promessa de que ninguém zombaria dele ("Que os sacerdotes, que ministram perante o Senhor, chorem entre o pórtico do templo e o altar, orando: ‘Poupa o teu povo, Senhor. Não faças da tua herança objeto de zombaria e de chacota entre as nações. Por que se haveria de dizer entre os povos: Onde está o Deus deles?" — Joel 2.17). Só quem tem esperança ora. O mesmo se dá conosco, que, como Pedro, celebramos: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Conforme a sua grande misericórdia, ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos" (1Pedro 1.3). 
Quando nos voltamos para Deus,  temos as nossas necessidades supridas. Eis o que Deus dava a Israel e nós também ("O Senhor respondeu ao seu povo: ‘Estou lhes enviando trigo, vinho novo e azeite, o bastante para satisfazê-los plenamente; nunca mais farei de vocês objeto de zombaria para as nações’".) O mesmo se dá conosco.  Por isto, cada um de nós pode crer, como cria o apóstolo Paulo: "O meu Deus suprirá todas as necessidades de vocês, de acordo com as suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus" (Filipenses 4.19).
Quando nos voltamos para Deus, perdemos o medo. A promessa é clara: "Não tenha medo, oh terra; regozije-se e alegre-se. O Senhor tem feito coisas grandiosas! Não tenham medo, animais do campo, pois as pastagens estão ficando verdes. As árvores estão dando os seus frutos; a figueira e a videira estão carregadas. Oh povo de Sião, alegre-se e regozije-se no Senhor, o seu Deus, pois ele lhe dá as chuvas de outono, conforme a sua justiça. Ele lhe envia muitas chuvas, as de outono e as de primavera, como antes fazia. As eiras ficarão cheias de trigo; os tonéis transbordarão de vinho novo e de azeite. Vou compensá-los pelos anos de colheitas que os gafanhotos destruíram: o gafanhoto peregrino, o gafanhoto devastador, o gafanhoto devorador e o gafanhoto cortador, o meu grande exército que enviei contra vocês" (Joel 2.21-24). A promessa é para nós. Você anda com medo, medo das conseqüências de ser santo, medo de tomar uma decisão? Lembre-se das palavras de Jesus: "não tenham medo; vocês valem mais do que muitos pardais!" (Mateus 10.31). Sim, "Deus não nos deu espírito de covardia [temor, medo], mas de poder, de amor e de equilíbrio" (2Timóteo 1.7). 
Quando nos voltamos para Deus, recuperamos o prazer de viver. Deus vai compensar os prejuízos que tivemos por causa do pecado. (“Vou compensá-los pelos anos de colheitas que os gafanhotos destruíram: o gafanhoto peregrino, o gafanhoto devastador, o gafanhoto devorador e o gafanhoto cortador, o meu grande exército que enviei contra vocês. Vocês comerão até ficarem satisfeitos, e louvarão o nome do Senhor, o seu Deus, que fez maravilhas em favor de vocês; nunca mais o meu povo será humilhado" — Joel 2.25-26). Quando nos voltamos para Deus, temos de volta a alegria da salvação (Salmo 51.12), que o pecado jogou no ralo. 
Então, "que o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz, por sua confiança nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito Santo" (Romanos 15.13).
Assim,
"Àquele que é poderoso para impedi-los de cair e para apresentá-los diante da sua glória sem mácula e com grande alegria, ao único Deus, nosso Salvador, sejam glória, majestade, poder e autoridade, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor, antes de todos os tempos, agora e para todo o sempre!" (Judas 24-25).
Amém?
ISRAEL BELO DE AZEVEDO