Temos muitos motivos para agradecer. Aprendemos esta verdade observando as atitudes de Barzilai (em fazer o bem) e Davi (ao retribuir o bem).
A comovente história está em 2 Samuel 19.31-40. Com estes homens de Deus aprendemos a agir quando precisarem de nós e a proceder quando nos fizerem o bom.
QUANDO PRECISAREM DE NÓS
1. Devemos prestar atenção. Para prestar atenção, precisamos aprender (sim, é uma aprendizagem) a olhar menos para nós mesmos. Barzilai era idoso (80 anos) e não estava nas melhores condições de ajudar. Não gozava de boa saúde (verso 35). A generosidade não depende de NOSSAS condições ideais, que talvez jamais cheguem. Por menos que tenhamos, sempre temos o que repartir. Cuidemos para que a posse de bens (ou de conhecimento) não nos torne insensíveis à necessidade do outro.
2. Devemos pressupor que a dificuldade do outro é nossa dificuldade. Antecipemo-nos, porque nem sempre seremos demandados (por timidez ou vergonha do outro, necessitado). Davi vivia um drama de família; fugia porque seu filho tentava tomar o controle do governo (1Reis 2.7).
3. Devemos nos por em ação.
Barzilai “desceu” (verso 31) de sua cidade para se encontrar com Davi. Ação às vezes demanda sacrifício.
Barzilai passou o rio (sem ponte, imaginemos.
Fez fez mais: atravessou o rio com o grupo de Davi (verso 31).
Fez muito mais: como sua condição permitia, sustentou Davi e sua entourage (verso 32).
E tudo fez Barzilai sem qualquer expectativa (“vem tu comigo?” — verso 33). Não fez para receber; fez. Não esperou gratidão, imaginemos, em forma de foto, placa ou aplauso.
QUANDO NOS FIZEREM O BEM
1. Devemos prestar atenção no bem que nos fazem.
Temos sido alvos da bondade dos outros. Basta que olhemos para a nossa história. Davi olhou e se recordou do que Barzilai lhe fizera e agora fazia de novo.
Barzilai o alimentara (2 Samuel 17.27-29):
“Tendo Davi chegado a Maanaim, Sobi (filho de Naás, de Rabá, dos filhos de Amom), e Maquir (filho de Amiel, de Lo-Debar) e Barzilai (o gileadita, de Rogelim) tomaram camas, bacias e vasilhas de barro, trigo, cevada, farinha, grãos torrados, favas e lentilhas; também mel, coalhada, ovelhas e queijos de gado e os trouxeram a Davi e ao povo que com ele estava, para comerem, porque disseram:
— Este povo no deserto está faminto, cansado e sedento. (2 Samuel 17.27-29)
Como Davi, também não sobrevivemos sem gestos de bondade para conosco.
2. Devemos ser gratos como Davi.
Pouco depois do gesto de Barzilai, tendo-o encontrado, desejou expressar sua gratidão em forma concreta, dispondo-se a sustentá-lo (financeiramente, como diríamos hoje), em retribuição ao que recebera dele.
. Devemos retribuir os atos de gratidão para conosco.
Na verdade, retribuição (gesto por gesto) é impossível. O que podemos fazer é uma aproximação ao gesto de generosidade para conosco. No caso, Davi faria mais.
. Devemos retribuir com insistência, mesmo que o outro não queira, mesmo que o outro resista em aceitar, mesmo que não consigamos fazer-lhe o bem diretamente.
Barzilai recusou. A história poderia acabar aí. Davi insistiu. Mostrando sua face, Barzilai pediu a transferência do favor (é assim que recebia o gesto de Davi) para outra pessoa (Quimã). Davi aceitou. Ele não queria se livrar da responsabilidade de agradecer; ele queria agradecer.
. Devemos abençoar quem nos abençoa.
Eis o que Davi fez: “tendo, pois, todo o povo passado o Jordão e passado também o rei, este beijou a Barzilai e o abençoou; e ele voltou para sua casa” (2 Samuel 19.39).
Davi demonstrou afeto. Davi também “desceu”, no caso de sua dignidade política, e diante do público abraçou e beijou seu benfeitor.
. Devemos guardar para sempre o gesto que nos abençoou.
Se estes gestos de Davi nos bastam para ver o seu coração, leiamos um pouco mais a crônica da realeza. No seu leito de morte, Davi instrui Salomão, seu sucesso, sobre como deveria proceder. Depois de pedir firmeza e dureza do novo monarca, o velho pai pede:
— Porém, com os filhos de Barzilai, o gileadita, usarás de benevolência, e estarão entre os que comem à tua mesa, porque assim se houveram comigo, quando eu fugia por causa de teu irmão Absalão (1Reis 2.7).
Davi jamais se esqueceu de Barzilai.
Envolvemo-nos tanto em nossos compromissos, que não reservamos tempo para dar aos outros. Estamos tão apertados financeiramente, que não sobra dinheiro para ofertar aos outros. Estamos tão fechados que não nos sobra oportunidade para abrir os braços para os outros.
Dê tempo a quem um dia lhe dispensou tempo.
Dê dinheiro a quem um dia lhe ofereceu algum.
Dê afeto a quem um dia lhe abraçou.
Seja grato, interessando-se por quem se interessou por você.
Seja grato, aprendendo a ser generoso com aquele que um dia o alcançou
ISRAEL BELO DE AZEVEDO