Salmo 95 — CORAÇÕES QUE OUVEM

O salmo 95 tem dois convites: um é ao louvor (versos 1-6):

“Vinde, cantemos ao SENHOR, com júbilo, celebremos o Rochedo da nossa salvação. Saiamos ao seu encontro, com ações de graças, vitoriemo-lo com salmos. Porque o SENHOR é o Deus supremo e o grande Rei acima de todos os deuses. Nas suas mãos estão as profundezas da terra, e as alturas dos montes lhe pertencem. Dele é o mar, pois ele o fez; obra de suas mãos, os continentes. Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do SENHOR, que nos criou.”.

O outro convite, bem, na verdade, não sei se posso chamar a isto de convite (versos 7-11):

“Ele é o nosso Deus, e nós, povo do seu pasto e ovelhas de sua mão. Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o coração, como em Meribá, como no dia de Massá, no deserto, quando vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, não obstante terem visto as minhas obras. Durante quarenta anos, estive desgostado com essa geração e disse: é povo de coração transviado, não conhece os meus caminhos. Por isso, jurei na minha ira: não entrarão no meu descanso”.

Trata-se de um convite à reflexão.
Este salmo renarra um dramático episódio na vida dos hebreus e do seu líder na caminhada para a terra prometida, terra em que nao entrou por causa do que aconteceu ali, em Meribá.
No Antigo Testamento há 12 referências a este episódio. Ele ficou na memória do povo. Os três salmos que dele tratam o provam. Os dois outros são o 81.7-8 (“Clamaste na angústia, e te livrei; do recôndito do trovão eu te respondi e te experimentei junto às águas de Meribá. Ouve, povo meu, quero exortar-te. Ó Israel, se me escutasses!” — Salmos 81:7-8) e 106.32-33 (“Depois, o indignaram nas águas de Meribá, e, por causa deles, sucedeu mal a Moisés, pois foram rebeldes ao Espírito de Deus, e Moisés falou irrefletidamente” (Salmos 106:32-33).

O autor aos hebreus reaplicou a mensagem para os seus ouvintes: O livro de Hebreus cita o Salmo 95:
“Assim, pois, como diz o Espírito Santo: ‘Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração como foi na provocação, no dia da tentação no deserto, onde os vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, e viram as minhas obras por 40 anos'” (Hebreus 3.7-9).

As duas partes dos salmos se conectam.

A primeira parte do salmo 96 nos convida a louvar, que é o contrário de reclamar.
Então, louvar é abrir o coração. Seu oposto é endurecer o coração.
Lendo toda a advertência de Hebreus, somos convidados a uma séria reflexão.

“Assim, pois, como diz o Espírito Santo: ‘Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração como foi na provocação, no dia da tentação no deserto, onde os vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, e viram as minhas obras por 40 anos. Por isso, me indignei contra essa geração e disse: Estes sempre erram no coração; eles também não conheceram os meus caminhos. Assim, jurei na minha ira: Não entrarão no meu descanso’.
Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado.
Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos. Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como foi na provocação.
Ora, quais os que, tendo ouvido, se rebelaram? Não foram, de fato, todos os que saíram do Egito por intermédio de Moisés? E contra quem se indignou por quarenta anos? Não foi contra os que pecaram, cujos cadáveres caíram no deserto? E contra quem jurou que não entrariam no seu descanso, senão contra os que foram desobedientes? Vemos, pois, que não puderam entrar por causa da incredulidade”.

Endurecemos nossos corações quando nao celebramos a graça de Deus (verso 1-2). — “Vinde, cantemos ao SENHOR, com júbilo, celebremos o Rochedo da nossa salvação. Saiamos ao seu encontro, com ações de graças, vitoriemo-lo com salmos”.
O tema dos salmos é o louvor a Deus. Nao devemos economizar no louvor, no louvor individual, no louvor coletivo. Por isto, nossos cultos devem ser contagiantes.
Um louvor contagiante é uma forma de evangelização.
Cultura brasileira é expansiva. Impuseram-nos uma liturgia discreta demais.

2. Endurecemos nossos corações quando nao nos ajoelhamos (verso 6 — “Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do SENHOR, que nos criou”.).
Deus detesta a autossuficiência. Sabe por que? Ele nao tem medo da concorrência. Ele tem medo da mentira que contamos para nós mesmos. É mentira pensar que nos bastamos. Quando nos ajoelhamos, falamos de nós mesmos: dependentes de Deus. Quando não nos ajoelhamos, também falamos de nós mesmos: nao precisamos de Deus, nao precisamos de ninguém. O nome disto é autossuficiência.
“Sete passos e meio para a felicidade”, em que o meio é o joelho dobrado.

3. Endurecemos nossos corações quando nao seguimos os caminhos de Deus (verso 10). Nem todos somos rebeldes. Muita vezes achamos que os nossos caminhos sao os de Deus. Então, seguimos por eles. Também por vezes somos claramente rebeldes. Sabemos quais sao os caminhos de Deus, mas temos prazer em outros caminhos.
Há pessoas que têm prazer em coisas mundanas. Carta de Campos.

4. Endurecemos nossos corações quando pomos Deus à prova. Quando o pomos à prova, Deus fica desgostoso conosco (verso 10 — “Durante quarenta anos, estive desgostado com essa geração e disse: é povo de coração transviado, não conhece os meus caminhos”.)

Esta foi a atitude do povo hebreu ali no deserto.
Por que Deus se aborreceu?
O povo duvidou dele, achando
. Que Deus nao continuaria o que começou e iria deixá-lo morrer. Como se Deus fosse irresponsável.

. Que Deus nao tinha poder para lhe dar água, que Deus tirou do impossível: de uma rocha.

O povo duvidou porque nao consultou sua memória. O que Deus fizera antes. Nossa memória é um problema.

Pomos Deus à prova, quando achamos que Deus nao fala.
Quando duvidamos daquilo que Deus fala, como se Ele nao tivesse o poder que tem.

Pomos Deus à prova, quando, mesmo sabendo que Ele fala, nao o ouvimos.

Pomos Deus à prova, quando duvidamos de Deus.

Pomos Deus à prova, quando ouvimos outras vozes. Deus tem ciúme das outras vozes? Tem, mas nao por ele: tem por nós, por saber onde aquelas vozes nos levarão.

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O Salmo 95 nos convida a uma seria reflexão.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO