Agora são águas passadas. O século XX foi o século da teologia econômica. A teologia da prosperidade prometeu ao cristão a realização do sonho americano, individual e capitalista, do mesmo modo como a teologia da libertação ofereceu o sonho socialista. Ambas as correntes tem em comum o foco no cumprimento das promessas bíblicas num viés imediato. Penso que muitas práticas derivadas dessas correntes de pensamento florescem no terreno da esperança e do desejo humano.
O socialismo perdeu força. A América e a Europa cambaleiam. Será que estamos contribuindo ativamente para a construção de melhor pensamento teológico? Creio que para fazê-lo é necessário retirar nosso foco do que nos causa mais indignação, que são as lideranças corruptas. Afinal de contas, elas já estão sobejamente condenadas em 2 Pedro 2. Resta voltar-nos para os sedentos de Cristo.
É razoavelmente fácil entender porque uma pessoa atende ao chamado da teologia da prosperidade. Mas porque ela permanece lá? Porque quem chega lá sem esperanças passa a tê-la. Quem já não sonhava mais, volta a sonhar. A esperança e a aspiração são necessárias para qualquer realização secular. Quem não acredita que pode fazer, não fará, mesmo que seja apto. Além disso, sobre essas bases o pensamento de Max Weber continua verdadeiro. Os protestantes são frequentemente compelidos a realizar a sua vocação secular com zelo, e vivendo sob essa visão tem mais chance de acumular recursos financeiros. Não podemos esquecer que a membresia das igrejas foram um grupo social complexo e economicamente ativo.
Pessoalmente acredito que o explosivo crescimento do protestantismo nas camadas de baixa renda da população brasileira está intimamente ligado ao sucesso da política do governo passado diante da crise global. As pequenas famílias evangélicas têm potencial muito maior de reter os recursos da transferência de renda na girando atividades produtivas em sua própria economia local. Apenas os recursos que deixam de ir para a indústria do tabaco e do álcool já são significativos.
Isso não torna a teologia da prosperidade boa ou ruim. Mas aponta para o gigantesco papel da esperança prática, de curto prazo, do crente.
Talvez uma nova linha de pensamento teológico, distante dos abusos que, tal como Pedro profetizou, difamam o caminho do evangelho (2 Pedro 2:2) já esteja brotando. É importante que nossos líderes mantenham um olhar humano, um coração completamente bíblico e não deixem que as práticas que escandalizam toldem sua visão das necessidades espirituais e práticas dos crentes.
FLAVIO MATTOS