Rolando Lero foi um dos personagens da Escolinha do Professor Raimundo ( Rede Globo, início dos anos 90 ), interpretado por Rogério Cardoso (1937-2003). Se caracterizava por “enrolar” o professor ( Chico Anysio ), já que nunca sabia as respostas.
Quando vejo na mídia pessoas que causaram a morte de outras, dando depoimentos tentando, a um só tempo, construir uma versão alternativa e ridícula para os fatos e manipular a opinião pública, inclusive usando o nome de Deus, me lembro do Rolando Lero.
O que me remete ao personagem da “Escolinha”, no entando, não são as semelhanças, mas as gritantes diferenças entre eles.
A primeira é que Lero inventava e “enrolava” por não saber a resposta e não querer admiti-lo. Os atores da vida real, mesmo sabendo as respostas certas, optam pela dissimulação, fugindo, numa tentativa de não assumirem as consequência dos seus atos.
Adão foi o precursor. Poderia, ao ser indagado pelo Criador, ter respondido que desobedeceu sua ordem e comeu do fruto proibido. Preferiu dissimular com um enredo fantasioso ( Gen. 3.9,10 ). A partir daí, a mentira passou a fazer parte da experiência do homem e a entrar em cena sempre que este comete falha e, de alguma forma, é chamado a se explicar.
A segunda dissimilitude é que Rolando Lero fazia o Brasil rir como suas tentativas de levar o professor a pensar que ele sabia o que, de fato, não sabia. Os atores da vida real hoje, usam da artimanha tentando convencer a todos que não fizeram o que eles próprios, e todos, sabem que fizeram. Com isso, fazem chorar a nação.
A mentira destrói e até mata. Ainda assim cresce. Mesmo que Deus, cujo nome tem sido tomado em vão, tenha previnido que não deixaria por inocente quem assim procedesse, e alertado o homem a nunca prejudicar seu semelhante com falsidade ( Ex.20.7 e 16 ).
Ecoa forte e poeticamente o diagnóstico do escritor mineiro Affonso Romano de Sant´Anna:
“Mentiram-me. Mentiram-me ontem e hoje mentem novamente. Mentem de corpo e alma, completamente. E mentem de maneira tão pungente que acho que mentem sinceramente.”
Todos os que mentem assim, dissimuladamente, são irmãos, filhos do mesmo pai ( João 8.44 ).
BOA NOITE!
Lécio Dornas