A Bíblia nos conta a história de um adolescente que foi escolhido por Deus para ser rei de Israel. Seu nome era Davi, de quem descendeu Jesus, o Cristo. Entretanto, essa história começou da maneira mais improvável.
O primeiro rei de Israel foi Saul, mas Deus cansou-se dele, por causa da falta de submissão à sua vontade, e escolheu outro rei. Para ungi-lo, mandou Samuel à pequena vila de Belém, no sul da Palestina. Foi para esse lugar que Rute, uma viúva estrangeira, migrou juntamente com sua sogra, também viúva, e ali conheceu Boaz, com quem casou-se e teve filhos. Um dos seus netos foi Jessé, pai de Davi. Assim, o maior rei de Israel, e um dos maiores estadistas de todos os tempos, veio a ser bisneto de Rute, uma estrangeira, e de Boaz, que por sua vez descendia de Raabe, uma prostituta e também estrangeira.
Quando Samuel chegou à casa de Jessé, logo viu seu filho primogênito e concluiu, apressadamente, que o escolhido para ser rei era aquele, pois era um jovem de bela aparência e muito alto, assim como Saul. Mas Deus o advertiu que não se iludisse, pois “o Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração” (I Sm.16:7). Jessé então chamou todos os outros seis filhos que estavam em casa, mas Deus não indicou nenhum deles a Samuel para ser ungido (supomos que somente os três mais velhos eram maiores de 20 anos, pois só estes foram convocados para a guerra contra os filisteus).
A esta altura Samuel perguntou se não havia mais filhos, pois Deus não poderia tê-lo enviado ao lugar errado. Jessé respondeu que havia um último, o mais novo de todos, que estava no campo pastoreando ovelhas. Parece que o pai não havia se preocupado em chamá-lo antes, por supor que Deus não escolheria o mais “insignificante” de todos. Quando chegou aquele menino ruivo, de olhos bonitos e aspecto gentil, Deus disse a Samuel: “Unja-o, porque é este mesmo” (I Sm.16:12).
Deus havia escolhido um menino porque ainda não era tempo de Saul deixar o trono, e porque tinha planejado que o menino derrotasse o gigante Golias, e também que provasse, em muitas outras situações, ser o líder que Israel precisava, um líder segundo o coração de Deus. A lição que este episódio nos ensina é que não devemos jamais discriminar uma criança ou adolescente como se fosse “insignificante”, pois não sabemos o que Deus planejou para eles.
Quanto vale um adolescente? Esta pergunta me faz lembrar um fato acontecido há muitos anos atrás, numa igreja que pastoreei. Estávamos numa assembléia importante para decidir sobre a compra de um terreno, já que a igreja não tinha templo. Havia dois terrenos em vista e a maioria esmagadora dos presentes decidiu comprar o que estava melhor localizado. Foi quando um irmão, diácono, que desejava muito que a igreja comprasse o outro terreno, contestou a votação, alegando que os votos dos adolescentes não poderiam valer numa decisão tão séria (todos os adolescentes tinham escolhido o terreno que ganhou a votação). Como presidente, respondi ao diácono que os votos dos adolescentes valiam tanto quanto os dos adultos, pois eram membros da igreja por sua própria escolha e estavam em plena comunhão. Quando se tornaram membros da igreja tinham assumido o dever e o direito de participar de qualquer votação, qualquer decisão.
Um adolescente vale tanto quanto qualquer pessoa, pois Deus não tem favoritos (Rm.3:22). Perante ele todo ser humano tem o mesmo valor, tenha a idade que tiver. O preço que foi pago pela salvação de todos as pessoas foi um só: o sangue de Jesus. Quando um adolescente vem a Jesus recebe uma salvação da mesma qualidade que um adulto receberia, e torna-se um cidadão do reino de Deus como qualquer um que venha a Jesus. Ou será que o que pregamos não vale para os adolescentes?
Outra coisa importante a dizer é que os adolescentes têm valor atual, e não somente valor futuro. Não simpatizo muito com aquele jargão que diz que os adolescentes são a igreja do futuro. Se são membros da igreja hoje, eles são a igreja atual, tendo os mesmos privilégios e responsabilidades dos adultos, isto é, de trabalhar, servir, participar, dar a sua opinião, ser ouvidos, etc. Também devem ser exigidos como qualquer membro da igreja.
Por essa razão é que faço um apelo aos adolescentes de nossas igrejas: Primeiro, que eles próprios dêem valor a si mesmos, participando, votando, decidindo. Segundo, que eles ocupem o espaço que lhes pertence, reunindo-se, discutindo, estudando a Palavra de Deus, orando, louvando, evangelizando, etc. Terceiro, que mostrem o seu valor como membros ativos do corpo de Cristo, não esperando tornarem-se adultos para fazerem aquilo que podem fazer desde já, como, por exemplo, participar de todas as reuniões e atividades da igreja, inclusive as de oração e de evangelização.