
Falar de pecado é ser, na maioria das vezes, impopular. Há muitas pessoas que não gostam que se fale neste assunto. Na verdade, falar de pecado é discorrer sobre a nossa natureza herdada de Adão. É considerar a nossa enfermidade, que é a causa de tudo o que é ruim, perverso e prejudicial neste mundo. O pecado resultou numa sociedade doente, perversa, voltada para si mesma. Falar acerca do pecado significa ministrar sobre a nossa própria história de vida. A Palavra afirma: “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Um teólogo declara: “A única coisa que separa, de fato, Deus do homem é o pecado. Este impede a presença de Deus. Ele é rebeldia e se torna obstáculo para a atuação de Deus na vida do homem. Quem ama a Deus execra o pecado, pois Deus detesta a desobediência. Quem ama o pecado não pode viver na comunhão com Deus, pois todo o pecado é abominável ao Senhor”.
Pecado é autonomia. O homem quis ser independente de Deus. Ele tem prazer no seu antropocentrismo. ´Significa viver de forma autossuficiente e não se importar com Deus. Alguém disse que “viver em pecado e pretender ao mesmo tempo ter uma comunhão viva com Deus, é impossível. Não há a menor conciliação entre Deus e o pecado. Deus é santo e não suporta o pecado “(Is 59.2). Pecado é errar o alvo estabelecido por Deus. É considerar a sua vontade superior a de Deus. E. C. Dargan, grande teólogo batista, disse que “o pecado é um caráter, é um ato e um estado… Estas inferências nos esclarecem o suficiente quanto à verdadeira natureza da nossa desobediência. Repitamos então que o pecado é impiedade, imundície por natureza, desobediência e hostilidade à mente e à Lei de Deus; é condenável e condenado à vista de Deus. Esta é a representação escritural do pecado”.
A realidade do pecado passa também por sua etimologia. Temos alguns vocábulos usados para expressar o pecado. Herschel Hobbs nos mostra alguns deles: avon, significando deformação, ou desvio; ra, que significa violência; nabal, ou loucura. Mas o vocábulo básico é hata (hebraico) e hamartano (grego), ambos significando errar o alvo. A idéia fundamental é errar o objetivo, a finalidade. A finalidade é a vontade e o caráter de Deus. Errar é ficar aquém da glória de Deus”. Sabemos que a incredulidade é o maior dos pecados (João 3.18,19). Somente em Cristo o homem é salvo da morte eterna, pois nada poderá separá-lo do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor (Rm 8.38,39).
A Confissão de Fé Batista de 1689 (Londres) declara: “Deus criou o homem justo e perfeito, e lhe deu uma lei justa, que seria para a vida, se a guardasse, ou para a morte, se a desobedecesse (Gn 2.16,17). Mesmo assim, o homem não manteve por muito tempo a sua honra. Satanás valeu-se da astúcia da serpente para seduzir Eva; e esta seduziu Adão, que, sem ser compelido, transgrediu voluntariamente a lei instituída na criação e a ordem de não comer o fruto proibido (Gn 3.12,13). De acordo com o seu conselho sábio e santo, aprouve a Deus permitir a transgressão, porque, no âmbito do seu propósito, mesmo isso Ele usaria para a sua própria glória. Por esse pecado, nossos primeiros pais decaíram de sua condição original de retidão e comunhão com Deus. No pecado deles nós também pecamos, e por isso a morte veio sobre todos (Rm 3.23); todos se tornaram mortos no pecado (Rm 5.12) e totalmente corrompidos, em todas as faculdades e partes do corpo e da alma (Tt 1.15; Gn 6.5)”. Ele nos tornou doentes e doentios em nossos relacionamentos.
A nossa Declaração Doutrinária ensina “que o pecado maior consiste em não crer na Pessoa de Cristo, o Filho de Deus, como Salvador pessoal (João 3.36). Como resultado do pecado, da incredulidade e da desobediência do homem contra Deus, ele está sujeito à morte e à condenação eterna, além de ser tornar inimigo do próximo e da própria criação de Deus (Ef 2.5; Rm 8.22). Separado de Deus, o homem é absolutamente incapaz de salvar-se a si mesmo e assim depende da graça de Deus para ser salvo, nascer de novo (Ef 2.8-10)”. Nicodemos era um religioso, mas precisava nascer de novo (João 3.1-8). A religião não liberta o homem do pecado, mas Cristo o faz plenamente em Sua obra suficiente na cruz e na ressurreição.
O pecado adoece o homem, pois a sua mente e o seu coração estão contaminados. Como consequência do pecado temos as obras da carne descritas por Paulo em Gálatas 5.19-21: “Prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias ou disputas, ciúmes, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o Reino de Deus os que tais coisas praticam”. Sabemos que todas estas obras são manifestações ou sintomas da natureza de Adão, a natureza pecaminosa, do coração de pedra. Não há solução humana para a doença a não ser a salvação que há em Cristo Jesus. Hobbs diz: “Terrível como é, o pecado não obstante oferece oportunidade a Deus e ao homem: a Deus, de estender Sua graça ao homem; e, ao homem, de aceitar a graça de Deus para salvar (Rm 8.28; Ef 2.8-10). Jesus Cristo se manifestou para destruir as obras do diabo (1 João 3.8) e para tomar sobre si o pecado do homem (1 João 3.5). Concluo esta reflexão citando o belíssimo texto paulino: “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus… Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8.1,2). Se o pecado é uma realidade incontestável, Cristo é a solução para que sejamos libertos dele (João 8.36).