Quando vai à sua casa um técnico terceirizado realizar um trabalho, você fica preocupado. Se você puxar conversa, ele vai "detonar" a empresa de ponta que contrata aquela em que ele trabalha para fazer o serviço. Você acha que seria melhor atendido se viesse um funcionário direto da empresa com quem assinou um contrato.
As coisas podem não ser bem assim, mas é como você se sente. Bem, pelo menos é como eu geralmente me sinto.
Este sentimento me leva a outra consideração, depois de ter lido a seguinte advertência de Jean Bartoli, um filósofo franco-brasileiro, quando disse, com razão, que "as pessoas estão esperado alguém que dê as dicas". Elas querem terceirizar o ato de pensar.
Eu não me sinto bem quando pensam por mim.
Gosto de textos que me fazem pensar, não daqueles que pensam por mim. Pensar é interceirizável.
Acontece que é mais cômodo seguir um guru qualquer. Há muitos anos Harvey Cox, ao comentar a história do pecado original, já clamava, no título de um de seus livros: "Que a serpente não decida por nós". Adão e Eva terceirizaram à serpente o ato de pensar e deu no que deu.
Toda a vez que terceirizamos o ato de pensar, perdemos o direito a viver no paraíso.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO