Gálatas 5.22 — A PAZ COMO DOM DO ESPÍRITO (O fruto do Espírito, 9)

 
Se procurarmos na internet a palavra “paz”, encontraremos (só num endereço de pesquisa, o Altavista) três milhões de páginas dedicadas ao assunto. Milhares delas são de organizações governamentais e não-governamentais fundadas para promover a paz.
Percorrendo as páginas do site de Deus, a Bíblia Sagrada, encontramos 290 vezes (86 no Novo Testamento) a palavra “paz”, além das que lhe são correlatas (como pacificadores, pacíficos, pacificamente, etc.).
A paz é o desejo mais profundo do ser humano. Não por acaso, ela é uma promessa de Deus aos seus filhos. Desde muito cedo, os homens de bem se cumprimentavam assim: “Paz seja convosco” (Gn 43.23). Os anjos de Deus apresentavam-se do mesmo modo: “Paz seja contigo” (Jz 6.23). O Antigo Testamento nos ensina a abençoar assim: “o Senhor sobre ti levante o rosto e te dê a paz” (Nm 6.26).
Jesus saudava seus discípulos e amigos com a expressão: “A paz seja com vocês” (Lc 24.36). Ele recomendou expressamente aos seus discípulos, quando entrassem na residência de alguém, que dissessem: “Paz seja nesta casa” (Lc 10.5).
Os apóstolos pediam que “o Deus da paz estivesse com todos” (Rm 15.33), mas a saudação que se tornou a favorita na igreja do Novo Testamento era “graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (1Co 1.3).
 
A NATUREZA DA PAZ
Entre os gregos, eirene, que é a palavra que o apóstolo Paulo usa, era empregada para significar o estado ou a condição de ausência de guerra. Na verdade, para os gregos a paz era um interlúdio entre as guerras. Os romanos a traduziram por “pax”, significando um relacionamento de reciprocidade entre duas partes, mesmo que provocada pelo predomínio de uma parte sobre a outra.
Como os gregos e os romanos, temos pensado a paz como ausência de guerra, mas esta é uma visão limitada do conceito bíblico. O Novo Testamento parte do Antigo, que emprega o termo hebraico “Shalom”, que significa bem-estar. A ênfase recai sobre os aspectos concretos da vida, incluindo elementos como saúde e mesmo prosperidade.
No entanto, o Novo aprofunda o conceito, para incluir a idéia da reconciliação, relacionada às experiências da salvação, da santificação e da concórdia entre as pessoas. Não é algo passivo, mas ativo. Um cristão que quer seguir a Jesus não apenas ama a paz, mas a promove (Mt 5.9). Por isto, o autor de Hebreus recomenda: “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).
A leitura do Antigo e do Novo Testamento mostra claramente que o projeto de Deus é trazer paz aos seres humanos. Esta é a Sua promessa, como podemos verificar nos textos em Jeremias 29.11, Jó 25.2 e Salmos 29.11.
 

UM COMPROMISSO COM A PAZ
Por Deus abençoados, podemos manter um relacionamento de paz com Ele, mas apenas como dádiva (dom) de Jesus Cristo. Por Ele dirigidos, podemos buscar a paz com os seres humanos, mas apenas como fruto do Espírito Santo. “O Reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). A paz, portanto, tem a ver com a graça e é um claro valor do Reino de Deus.
 

Devemos desejar a paz

Por que não há paz na terra? Porque não damos ouvidos aos mandamentos de Deus e não nos envolvemos no seu projeto para o mundo. Isaías nos lembra esta nossa falha, transmitindo a seguinte mensagem de Deus: “Ah! Se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos! Então, seria a tua paz como um rio, e a tua justiça, como as ondas do mar” (Is 48.18).
O tropeço dos homens advém do fato de não amarem a Deus (Sl 119.165). A recomendação bíblica é que procuremos a paz e nos empenhemos “por alcançá-la” (Sl 34.14). Zacarias define o nosso compromisso. “Eis as coisas que deveis fazer: Falai a verdade cada um com o seu próximo, executai juízo nas vossas portas, segundo a verdade, em favor da paz” (Zc 8.16)

 
Devemos orar pela paz.
Por reconhecermos que a verdadeira paz vem Deus, devemor orar a Ele para que nos mande a sua paz, para nós mesmos e para o mundo em que vivemos. Nossa oração deve ser a de Isaías: “Senhor, concede-nos a paz, porque todas as nossas obras tu as fazes por nós” (Is 26.12).
Por meio de Jeremias, Deus recomendou ao povo de Israel, e a nós também: “Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz” (Jr 29.7).
 

Devemos promover a paz
Jesus nos conclama a sermos promotores da paz, ou pacificadores (Mt 5.9).
Promover a paz é promover a reconciliação do homem com Deus, de que é exemplo o apóstolo Paulo. Ele escreveu: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1), porque ele é a nossa paz (Ef 2.14). Isaías lembra que seu sobrenome é Príncipe da Paz (Is 9.6) e o autor de Hebreus o chama de rei da paz (Hb 7.2).
Nosso compromisso é apresentar aos homens este Jesus Cristo reconciliador. Sem a ação deste Reconciliador, não haverá reconciliação, não haverá paz. Nosso prazer é anunciar este Evangelho. Afinal, “quão formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!” (Is 52.7). Quando Deus reinar, haverá paz.
Aborrecemo-nos com a insegurança, entristecemo-nos com o triunfo das trevas, mas nem sempre achamos que somos co-responsáveis por este estado de coisas que nos angustiam. Não lembro esta realidade para que nos sintamos culpados, mas para nos sentirmos co-responsáveis. A paz não é para se contemplar, mas para se fazer. Fazemos a paz, quando anunciamos que ela é possível por intermédio de Jesus Cristo.
Promover a paz é acolher o outro, de que é exemplo Francisco de Assis (1182-1226). Este cristão medieval viveu pela paz, acolhendo pessoas que ninguém aceitava, encurtando distâncias, mostrando que todos somos amados por Deus. Francisco de Assis procurou tornar verdadeira a expressão bíblica, desde Jó, segundo a qual o Senhor não faz acepção de pessoas, nem estima ao rico mais do que ao pobre; porque todos são obra de suas mãos (Jó 34.19; cf. At 10.34; Rm 2.11).
A década de 90 no Brasil é a própria negação deste ideário bíblico, quando olhamos para a década de 90 no Brasil, que terminou como a de 80, em termos de justiça social, com um muro cada vez mais alto e mais largo entre os ricos e os pobres. Não há paz no Brasil. Por isto, em nosso país promover a paz é lutar contra  a desigualdade.
Promover a paz é lutar pela justiça, de que é exemplo Martin Luther King. Embora ainda hoje haja segregação nos EUA, a situação era muito pior antes que este pastor batista declarasse seu sonho e reunisse milhares de pessoas em protestos de paz. Seu famoso discurso, de 1963 – “I Have a Dream” – foi ouvido por 250 mil pessoas em Washington.
Promover a paz é empenharmo-nos pela concórdia entre as pessoas. O que fazemos quando há confusão em casa, no colégio, no trabalho ou na igreja? Pomos fogo ou promovermos a união? Se promovemos a união, somos da paz, como Deus, que é apresentado como sendo de paz (1Ts 5.23) e não de confusão (1Co 14.33).
A paz não depende da fidelidade do outro, da bondade do outro, do pedido de perdão do outro, mas é uma graça de nós ao outro, porque já fomos alcançados por uma graça que não merecemos.
No que depender de nós, devemos viver em paz com todas as pessoas (Rm 12.18). Nós seremos bem-sucedidos quando Cristo for o nosso árbitro. “Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo” (Cl 3.15). Em outras palavras, quando a graça for a regra pela qual nós julgamos os outros.
Quando a graça nos alcançar completamente, seremos capacitados a nos sacrificar pela paz, concedendo ou pedindo perdão a alguém que ofendemos ou que nos ofendeu. Se vive numa situação, por que não, por exemplo, enviar uma carta à pessoa com quem precisa se reconciliar?
 

Devemos fruir a paz
Fruir a paz com Deus é desfrutar de uma vida em harmonia com o propósito de Deus. Quando estamos nesta sintonia, fruímos a paz mesmo em meio às circunstâncias.
Esta fruição só é possível quando confiamos em Deus. Quando me fundamento nEle, “em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro” (Sl 4.8). “O Senhor conserva em perfeita paz aquele que confia nEle” (Is 26.3).
A melhor imagem desta paz de Deus está na experiência de Jesus logo após o seu batismo (Mt 3.16-17; Mc 1.9-10; Lc 3.21-22). Ele viu o Espírito do Pai descendo sobre Ele em forma de uma pomba. A palavra que ouviu se aplica a cada um dos seus seguidores: “Tu és o meu filho amado; em ti me comprazo”, ou na versão Linguagem de Hoje: “Tu és o meu Filho querido e me dás muita alegria”.
 

CONCLUSÃO
Não nos esqueçamos que a fonte da paz é Jesus Cristo e o seu vínculo é o Espírito Santo.
“E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Fp 4.7).
 

ISRAEL BELO DE AZEVEDO