PLANO DE VÔO (Richard José Vasques)

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(Richard José Vasques)

 

Na semana passada fui trabalhar fora do Rio de Janeiro. Saí do aeroporto Santos Dumont de madrugada. No meu destino trabalhei três dias e fui ao aeroporto para pegar meu vôo de volta pra casa. Três dias muito intensos, porém produtivos e abençoados. Cheguei no aeroporto com a antecedência solicitada (mínimo de uma hora antes do vôo) e fui para a sala de embarque aguardar a chamada do meu vôo. Gosto de ser um dos primeiros a entrar  no avião, o que facilita a acomodação da minha bagagem em local próximo de onde vou ficar sentado.

 

Para esse vôo, tivemos de entrar em um ônibus que nos levou até a aeronave. Fui um dos primeiros a entrar no ônibus e fiquei próximo à porta para logo subir no avião, assim que o ônibus parasse. Fui o terceiro a subir a escada de acesso ao avião. Para minha surpresa, ao entrar no avião, encontrei um amigo que foi meu vizinho num dos prédios que morei em São Paulo. Nós havíamos comprado apartamento nesse prédio na mesma época, e também nos mudamos para lá assim que ele foi entregue. Apesar de nossos horários e compromissos diferentes, sempre nos encontrávamos no elevador.

 

Esse meu amigo era simplesmente o comandante do vôo, aquela pessoa que iria nos trazer de volta para o Rio de Janeiro. Nos abraçamos. Foi realmente uma alegre surpresa encontrá-lo. Ele estava fora da cabine de comando. Se eu não fosse a terceira pessoa a subir no avião, provavelmente não o teria visto e nem saberia que era ele quem estava comandando o nosso avião. Realmente surpreendente. Surpresa muito agradável. Presente de Deus. Após nosso abraço ele me perguntou se eu estava sozinho e me convidou para vir com ele na cabine de comando.

 

Foi a primeira vez que entrei na cabine de um avião. Já tive a oportunidade de estar em muitos vôos, mas nunca havia entrado em uma cabine. Muitas pessoas pedem aos comissários de bordo para irem até lá, para tirar uma fotografia, mas eu nunca tive essa iniciativa. Entrei na cabine e o co-piloto já estava lá. Meu amigo arrumou a minha poltrona e viemos os três ali. Não vi mais nada do que estava acontecendo no embarque. É outro mundo, outra realidade. Uma situação totalmente diferente e nova. Controles por todo o lado. Fiquei só observando o trabalho deles.

 

Não fazemos ideia do que acontece lá dentro. O vôo foi totalmente programado no solo com duas opções de aterrisagem, considerando hipoteticamente o que o controlador de vôo responsável iria orientar na chegada ao Santos Dumont. Registros, análise de mapas, programações e muita comunicação entre eles. Não param um instante de se comunicar e de verificar se tudo o que foi programado está ocorrendo dentro do previsto. Todos os ajustes necessários são feitos no momento oportuno. Não há desatenção. Eu era simplesmente um espectador. Às vezes curioso, mas me contendo para não atrapalhar o meu amigo e seu parceiro nas suas operações.

 

Nessa oportunidade pude ver novamente a aplicação de ações de planejamento. Não se faz um vôo sem se planejar. A rota com suas alternativas são todas estudadas. São feitas análises dos pontos de mudança de direção, velocidade, preparo para descida, momento de liberar o trem de pouso, e por aí vai (não se esqueçam que sou leigo nesse assunto). Interessante a aplicação da prevenção. No Modelo de Excelência de Gestão que usamos para ajudar as organizações a se estruturarem melhor e a obter melhores resultados, chamamos isso de proatividade. Muitas vezes temos dificuldade de ver isso evidenciado.

 

Nesse vôo foi a primeira coisa evidenciada. Eles traçaram dois planos de vôo. Programaram o primeiro no equipamento e tinham o segundo já pré-programado. Chegaram a citar várias vezes o aeroporto do Galeão, ao que perguntei qual a razão disso, se iríamos pousar no Santos Dumont. A resposta foi que sempre pode haver a possibilidade de existir algum empecilho no aeroporto de destino e ter de se mudar para outro aeroporto. Como o vôo era curto e estaríamos navegando a 800 km/h, não haveria muito tempo para a mudança de rota. Tudo feito no chão, antes da partida. Isso é proatividade.

 

A comunicação constante entre os pilotos e o controlador de vôo, faz com que diversos ajustes ocorram durante o vôo. Impressionante é que o avião voa sozinho (claro que a programação já estava feita). Talvez pensemos que o avião seja pilotado como um carro, que o motorista tem ação direta o tempo todo. No caso do avião não. Ele faz o trajeto todo, todas as compensações, de acordo com o programado. Os pilotos supervisionam tudo e agem sempre que necessário. Estão atentos o tempo todo. Apesar de ser um vôo curto, pude perceber que é uma atividade de alta concentração. Tudo deu certo, graças a Deus. E a vista da Baía da Guanabara, diretamente da cabine, com 180º de visão? Dá pra imaginar?

 

Lições aprendidas: planeje sempre, esteja atento, corrija o rumo, comunique-se com todos os envolvidos o tempo todo. Para isso é preciso estar preparado, disciplinado. Faça sempre o seu melhor, que os resultados virão. Meus parabéns ao meu amigo e ao seu parceiro. Vôo excelente, pouso mais excelente ainda: “macio”. Obrigado pela oportunidade e pela benção de termos voado juntos. Foi uma nova experiência, e mais importante, na presença e por convite de um amigo. Quem diria que isso poderia acontecer da maneira que aconteceu? Dessa vez o presente de Deus foi para mim. Deus os abençoe e guarde. Continuem dando esse “show” nos céus do Brasil e do mundo.

 

 

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