O BOTE DO PASTOR (Oswaldo Jacob)

    Achei muito interessante o que ouvi do meu amigo, Pastor Gerson Januário, acerca de uma aula introdutória no Seminário do Sul, em 1977, dada pelo Professor e Pastor Tércio Cunha, já falecido, pastor por muitos anos da Igreja Batista da Tijuca, Rio. Ele escreveu no quadro a palavra BOTE, orientando os vocacionados sobre o dever de sempre usar o BOTE (B de Bíblia); (O de oração); (T de trabalho) e (E de estudo) no exercício do ministério pastoral. Considerei muito sábia, inteligente, sóbria e oportuna a orientação daquele ilustre professor e pastor. Quantos obreiros foram abençoados por esta orientação! Quantos ministros colocaram em prática a exortação de um homem experiente que amava o Senhor e o Seu ministério. Que palavra segura, firme e encorajadora a do referido pastor. Concordamos com ele que um ministério bem-sucedido tem estas características bem definidas.
    A primeira parte do bote é a Bíblia. Podemos ler muitos bons e excelentes livros, mas a Bíblia é sempre a magnifica e incomparável obra revelada de Deus ao nosso coração. Ela narra os grandes feitos de Deus na História. Ela é a Palavra de Deus. A nossa bussola. Nosso alimento. A provisão de Deus para as nossas entranhas. O nosso manual de fé e pratica. É a suficiente obra do Pai para revelar salvação, santificação e glorificação. Podemos ficar sem os livros, mas não sem a Bíblia. Deus a revelou durante 1600 anos utilizando homens e mulheres para nos legarem  o Seu amor incomparável em Cristo Jesus. Ela é a Escritura inspirada para educar o homem nos princípios de Deus (2 Tm 3.16,17). Viva e eficaz e mais cortante do que espada de dois gumes e penetra até à divisão da alma e do Espírito, discernindo pensamentos e intenções do coração (Hb 4.12). Moody, referindo-se à Bíblia, disse: “Ou este livro te afastará do pecado ou o pecado te afastará deste livro”. Que livro magnifico! Jesus ordenou que examinássemos as Escrituras porque nelas há vida eterna e testificam dEle (João 5.39). O pastor deve pregar sempre a Bíblia. Meditar nela todos os dias. Mergulhar nas suas águas profundas para achar o tesouro da sabedoria e da ciência que é Cristo. A Bíblia deve ser o vade-mecum para o obreiro bem-sucedido. Devemos nos encharcar da Bíblia. Confiar nas promessas do Pai expostas nela. Os nossos púlpitos devem ser bíblicos. O nosso compromisso com o Senhor é expormos com a clareza do Espírito a Sua Palavra inspirada e revelada. Todo o nosso ministério deve estar calcado na Palavra de Deus.
    A segunda parte do bote é a oração. A oração é comunicação amorosa com Deus. Se a Bíblia é Deus falando conosco, a oração é o nosso contato com Ele. Spurgeon disse que “a oração não nos prepara para as grandes obras. Ela é a maior de todas as obras”. Paulo ordena: “Orai sem cessar” (1 Ts 5.17). Jesus nos ensina a “orarmos em todo o tempo e nunca desanimarmos” (Lc 18.1). A oração para o obreiro é como entrar no santo dos santos e ter intimidade com o Pai por meio de Cristo. Oração é trabalho duro. A chave do avivamento. O pastor deve ser sempre um homem de oração. Antes de ministrar aos homens ele precisa ministrar diante de Deus. Um dos segredos de um ministério bem sucedido é a vida de oração, a intimidade com Deus no gemido da alma. Os grandes reformadores oravam muito. Os profetas buscavam o Senhor com muita intensidade. Oração é deleite (Shedd). Oração é um banquete entre nós a Trindade. Devemos orar como Jesus orou. O Seu costume era orar ao amanhecer como era tradicional dos escritores hebreus, que abriam o coração logo pela manhã (Miller). O livro de Salmos descreve esta pratica. “Ó Senhor, de manhã ouves a minha voz; de manhã te apresento minha oração e fico aguardando “ (5.3). “Pela manhã, louvarei com alegria teu amor fiel” (59.16). “Eu, porém, Senhor, clamo a ti; de madrugada minha oração chega à tua presença” (88.13). “Faze-me ouvir do teu amor pela manhã, pois em ti confio; mostra-me o caminho que devo seguir, pois a ti elevo a minha alma” (143.8). Realmente vale a pena orar. A oração é imprescindível na vida do ministro do evangelho. Todo o ministério de Jesus foi calcado na oração, na Sua comunicação com o Pai. No Seu profundo sofrimento do Getsemani, Ele orou: “Meu Pai, se não for possível afastar este cálice sem que eu o beba, seja feita a tua vontade” (Mt 26.42). Pastores, oremos, oremos e oremos.
    A terceira parte do bote é o trabalho. Somos filhos de um Deus trabalhador. No ministério não há lugar para preguiçosos, acomodados, gente sem proatividade e criatividade. Aliás, a orientação de Paulo para remunerar o obreiro é que ele deve se afadigar (trabalhar exaustivamente) na pregação e no ensino (1 Tm 5.17,18). A palavra trabalho tem uma conotação de esforço físico e mental. O pastor deve acordar muito cedo para começar a trabalhar na oração e na Palavra. Se os membros da Igreja acordam cedo, por que o pastor acorda tarde? O ministro deve ser exemplo de trabalho duro, compromisso com o horário, fazer as coisas bem feitas, honrar seus compromissos espirituais, familiares, sociais e financeiros. Ele deve ser sempre exemplo de integridade a toda prova. O trabalho sério só dignifica o ministério da Palavra. Ele deve ter o trabalho duro de orar, meditar nas Escrituras, preparar sermões à luz da orientação do Pai e de suas experiências com o povo. Deve se afadigar nos contatos, nos estudos bíblicos, na mentoria e coordenar as várias áreas da igreja, bem como preparar com excelência a sua liderança para o exercício do ministério. O seu trabalho é delegar responsabilidades e cobrá-las. Pastorear é trabalhar duro. Estar absorto no cuidado da família e do rebanho. Ele deve fazer a obra de um evangelista, procurando falar de Cristo exaustivamente aproveitando cada oportunidade. Ele deve exercitar a visão sonhando com o melhor para a Igreja, buscando sempre ser um facilitador. O seu coração deve fervilhar pelo Deus da obra e pela obra de Deus. O ministério é uma de suas paixões. Trabalhar sempre com alegria e singeleza de coração. Não à toa que Paulo disse que “quem aspira ao episcopado excelente obra almeja” (1 Tm 3.1). Todo pastor deve trabalhar duro na meditação nas epístolas pastorais.

    A quarta e última parte do bote é o estudo. Ser estudioso é um privilégio, mas também uma grande responsabilidade do pastor. Estudar a Bíblia, livros de referencia (comentários, dicionários, léxicos) e outros materiais afins. O ministro precisa de constante atualização. Os membros de nossas igrejas estão cada vez mais exigentes. Eles estão estudando mais, buscando a excelência. Os pastores não podem ser curtos, mas cultos. É claro que a erudição deve ter um tempero muito relevante da piedade, isto é, cultura e piedade devem andar juntas na caminhada profética. Além de ser estudioso, o pastor deve incentivar, motiva os membros da igreja a estudarem. Como professor, o pastor deve ser comprometido com a profundidade bíblico-teológica. O pastor deve fazer cursos que acrescentem ao ministério. O nosso foco é o ministério e tudo aquilo que nos mantenha nele. Estudar noite e dia. Buscar conhecimento que entre na mente e saia para o coração nas atitudes e nos atos tendo como exemplo o Senhor Jesus. Os homens que fizeram toda a diferença na história da igreja foram os que se aplicaram ao estudo. Muitos deles com extrema dificuldade, mas não desistiram. À medida que estudamos aprendemos que sabemos muito pouco. Preparar sermões, estudos bíblicos, palestras, demanda muita pesquisa, muito estudo. O pastor deve investir em livros que enriqueçam o ministério que o Pai lhe concedeu em Cristo Jesus. O apóstolo Paulo foi uma dos homens mais usados em todo o Novo Testamento. Foi o que mais escreveu e o que mais trabalhou. Olhe o que ele disse a Timóteo quando estava preso em Roma: “Quando vieres, traze-me a capa que deixei em Trôade, na Casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos” (2 Tm 4.13). Na prisão, Paulo estava desejoso de estudar as Escrituras e outras literaturas. Havia nele um pacto com o saber, o conhecimento, a excelência em buscar o melhor. Era um homem que aproveitava as oportunidades para crescer no oficio ministerial. Ele levava a sério, muito a sério, a envergadura da sua missão dada por Deus em Cristo Jesus somente pela graça e pela misericórdia.
    Que no mar ou no rio da nossa trajetória usemos este BOTE muito eficiente, salvação da vida ministerial. Como homens de Deus sejamos praticantes da Bíblia, da oração incessante, do trabalho árduo e do estudo sistemático. Todos os dias este bote deve estar à nossa disposição. Pegá-lo e usá-lo é tarefa nossa. O inimigo das nossas vidas tenta a todo instante nos afastar da Bíblia, da oração, do trabalho e do estudo. Ele bem sabe que este bote só pode ser usado por aqueles que desejam obedecer o Senhor. Se queremos ser homens relevantes para este tempo usemos este bote tão bem construído e indicado pelo pastor Tércio Cunha. Que Deus, nosso Pai, nos dê a graça de usarmos este bote sempre e para a edificação da Sua Igreja, salvação dos perdidos e, acima de tudo, para a Sua Glória!