MÚSICA SACRA X MÚSICA PROFANA: EVITANDO OS CHOQUES PROVOCADOS PELAS ASSOCIAÇÕES
MÚSICA SACRA X MÚSICA PROFANA
“Evitando os choques provocados pelas associações…”
Ramon Chrystian – Adaptado do texto do Prof. Dr. Parcival Módolo (bibliografia citada)
Não é muito fácil definir o que seja música sacra. Eis algumas concepções do que algumas pessoas entendem por música sacra
Há quem diga que música sacra é aquela que fala de coisas sagradas. Mas neste caso, a música de Roberto Carlos: “Jesus Cristo, eu estou aqui” e tantas outras de outros cantores seriam consideradas como uma musica sacra.
·Há quem acredite que o “ser” música sacra depende da intenção do compositor ao compô-la.
·Há quem acredite que música sacra está relacionada à qualidade: se a música é tecnicamente de alto nível, esta é sacra.
Definir música sacra não é tarefa simples e por isso, talvez se conceituarmos primeiramente o que seja “sacro”, podemos então pensar sobre o “profano” também.
Para distinguir sagrado e profano buscaremos referências que nos ajudarão a construir uma base sólida.
O SACRO E O PROFANO
Profano significa simplesmente “aquilo que não é sagrado”.
Para os antropólogos, sagrado seria tudo o que é extraordinário, anormal e especial e o profano é o que é quotidiano, deste mundo. O momento sagrado é quando há uma hierophany (Deus se revela ao homem).
Émile Durkheim nos seus estudos das formas elementares de vida religiosa diz: “Todas as crenças religiosas conhecidas (…) supõe uma classificação das coisas(…) em duas classes ou em dois gêneros opostos, designados(…) pelas palavras profano e sagrado. A divisão do mundo em dois domínios, compreendendo, um tudo o que é sagrado, e outro tudo o que é profano, tal é o traço distintivo do traço religioso(…)”(DURKHEIM,1989 p.68).
Rudolf Otto[1], Mircea Eliade[2] e Émile Durkheim[3] concordam em seus estudos que só é sagrado aquilo que não é profano. Não existem na história do pensamento humano duas categorias tão bem diferenciadas e opostas tal como o sacro e o profano.
Música Sacra
Música sacra é somente aquela que não é profana. Segundo Parcival em seu texto: “Nesse caso, porém o conceito de Música Sacra terá que ser adaptado a cada cultura: ela será diferente da música secular de um povo”
Parcival Módolo cita a música trazida ao Brasil pelos missionários norte americanos no século XIX. ”Alguns daqueles hinos eram canções folclóricas do seu país – profanas, portanto- e com texto adaptado.” Essas músicas foram aceitas sem restrições como sacra pelo povo brasileiro visto que era um tipo de música diferente do que eles vivenciavam na época.
Hipoteticamente, se levarmos um cavaquinho para evangelizar uma tribo africana acompanhando com ele hinos e cânticos num estilo de pagode, este cavaco e este estilo soarão sagrados ali naquela localidade produzindo músicas sacras diferentes da cultura local daquela região.
”Lembre-se como foi difícil para as igrejas evangélicas brasileiras aceitarem, em seus cultos mais solenes, guitarras e baterias, ates delas o violão, e ainda antes o piano. Isso por causa de sua identidade, cada qual ao seu tempo, com o profano: o piano, nas décadas de 50 e 60 estava associado aos clubes e bares apenas. O violão, nas décadas de 60 e 70, estava associado à música mais informal e boemia. Guitarras e baterias, mais recentemente, e ainda hoje, são por demais identificadas com música, postura e ideologia secular, profana, para que sejam aceitas “impunemente”no ambiente religioso, especialmente nos cultos mais solenes”. (MODOLO, 2006)
De uma forma semelhante, se um arranjo no mais puro estilo jazz for tocado em igrejas evangélicas aqui no Brasil pode soar até de certa forma elegante, com um certo ar de glamour e sofisticação, porém, se este arranjo fosse tocado em igrejas de New Orleans na época da boemia do jazz nos bares daquele local, certamente a associação, o ethos, a identidade comunicada seria com a vida boêmia e não com o sagrado.
Na atualidade, quanto aos instrumentos de orquestra isso já é mais difícil de acontecer, visto que estes tendem a ser mais associados à sua elegância, exuberância e solenidade.
“Uma vez que a noção do sagrado é, no pensamento dos homens, sempre e por toda parte separada da noção do profano, porque concebemos entre elas uma espécie de vazio lógico, ao espírito repugna de forma irresistível o fato de as coisas correspondentes serem confundidas ou simplesmente postas em contato (…) a coisa sagrada é, por excelência, aquela que o profano não deve, não pode impunemente tocar.” (DURKHEIM, 1989, p.71-72)
Podemos perceber que se algum ritmo ou estilo de canção popular é usado dentro da igreja, em um contexto litúrgico, há várias nuances de alteração. Altera-se a postura do executante, ou a harmonia, ou a estrutura rítmica do que era secular. Pois os dois gêneros, sacro e profano não podem se aproximar e conservar sua natureza própria, pois se manter haverá o choque e a associação será tão forte que a canção não soara sacra aos ouvidos.
Bom senso e respeito mútuo são essenciais para que nossos ministérios sejam instrumentos de benção na vida da igreja, facilitando a adoração coletiva.
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[1] OTTO, Rudolf. O sagrado. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1985. Otto (1869-1937) foi professor de teologia em Gottingen, Breslau e Marbug. O sagrado, sua obra mais importante, é o resultado de uma série de palestras proferidas na Escócia.
[2] ELIADE, Mircea . O sagrado e o profano. A essência das religiões. São Paulo, Martins Fontes, 1995.
[3] DURKHEIM, Émile. As formas elementares da Vida Religiosa. São Paulo: Paulus, 1989.
MÓDOLO, Parcival. Apostilas do curso de pós-graduação/extensão de música sacra do Seminário Teológico do Sul Do Brasil. Música sacra contemporânea. Rio de Janeiro 2006.