O CALVINISMO EXALTA A GLÓRIA DE DEUS OU TORNA-O UM MONSTRO MORAL? (Ken Camp)

Trascrevemos, a seguir, artigo do Baptist Standar, de 15.1.2011.

Waco, Texas (Associated Baptist Press) – O professor Roger Olson, do Seminário Teológico Truett, pertencente à Universidade Baylor, concordou em escrever um novo livro refutando o Calvinismo, porque acredita que alguém tem que resgatar a reputação de Deus.
“Sou contra qualquer Calvinismo – e qualquer teologia – que tenta impugnar a bondade de Deus em favor da soberania absoluta, levando à conclusão de que o mal, o pecado e todos os horrores da história humana foram planejados e tornados certos por Deus”, escreveu ele.
Particularmente, Olson não gosta do título do livro “Contra o Calvinismo”, mas a editora Zondervan insistiu nele. Ele admira os colegas e estudantes calvinistas, e deixou claro que respeita seu compromisso cristão. É ao Calvinismo radical – geralmente defendido por aqueles que identificam a si mesmos como “jovens, incansáveis e reformados” – que ele sente necessidade de se opor.
Olson acredita que a teologia calvinista cruza a linha do radicalismo quando “faz asserções a respeito de Deus que necessariamente, logicamente, implicam que Deus é menos que perfeitamente bom, segundo o mais alto sentido de bondade encontrado no Novo Testamento, e especialmente em Jesus Cristo, a mais plena revelação de Deus para nós.”
Assim, quando ele chega ao TULIP, como são conhecidos os cinco principais pontos da doutrina calvinista – depravação total (Total depravity), eleição incondicional (Unconditional election), expiação limitada (Limited atonement), graça irresistível (Irresistible Grace) e perseverança dos santos (Perseverance of saints) – Olson procura arrancar pelo menos o U, o L e o I, deixando apenas duas pétalas na flor.
“A despeito dos seus melhores esforços para evitá-lo, a ‘boa e necessária conseqüência’ da sua soteriologia (doutrina da salvação) – TULIP – é que Deus é moralmente ambíguo, se não um monstro moral”, declara ele.
No livro da mesma série, “Pelo Calvinismo”, Michael Horton, do Seminário Westminster, prefere os termos “redenção particular”, para expiação limitada, e “graça eficaz”, para graça irresistível. Mas, por outro lado, constrói uma ardente defesa dos cinco pontos que ele e outros calvinistas referem como as “doutrinas da graça.”
“Escolhidos em Cristo por toda a eternidade, somos efetivamente chamados a Cristo no tempo”, escreve Horton. “Através da fé, a qual é, por si mesma, um dom gratuito, recebemos a Cristo e todos os seus benefícios.”
Ao invés de difamar Deus, Horton insiste, a teologia reformada reconhece o legítimo lugar de Deus como soberano e oferece uma avaliação bíblica e precisa da inabilidade humana de obter salvação à parte da iniciativa de Deus.
“É impossível ler a Bíblia sem reconhecer a liberdade de Deus de escolher uns e não outros, e o fato de que ele efetivamente exerce esse direito” , escreve ele.
A eleição incondicional deveria lembrar os cristãos de que “Deus está sempre na posição de doador final e os pecadores estão sempre na posição de receptores finais da graça”, acrescenta ele.
Livros e sermões sobre “como nascer de novo” falham nesse ponto, Horton afirma. Os pecadores não escolhem seguir a Deus a menos que ele escolha atraí-los para si.
“O novo nascimento é uma obra misteriosa do Espírito em sua liberdade soberana, não um evento que possamos causar, algo mais que o nosso nascimento natural”, escreveu ele.
Horton descarta a crítica de que a eleição por Deus de apenas alguns para a salvação é injusta, por insistir que a justiça demandaria a punição eterna de todos os pecadores.
“Deus não está escolhendo uns e rejeitando outros arbitrariamente”, escreve ele. “Antes, ele está escolhendo alguns dos seus inimigos para a salvação, e abandonando o resto deles ao destino que todos escolheríamos por nós mesmos.”
Olson não aceita este argumento. “A questão não é justiça, mas amor”, escreve ele. “Um Deus que poderia salvar a todos, porque sempre salva incondicionalmente, mas escolhe salvar apenas alguns, não seria um Deus bondoso ou amoroso.”
A eleição corretamente entendida refere-se ao povo de Deus em geral – todos os que respondem livremente ao convite para estar “em Cristo” – não a indivíduos específicos, escreve ele.
A condenação – a idéia de que Deus predestinou algumas pessoas para o inferno, segue-se logicamente se cremos que Deus é soberano absoluto e escolheu somente algumas pessoas para a salvação, insiste Olson.
A crença dos calvinistas radicais na soberania absoluta de Deus resulta no determinismo divino, e faz Deus responsável pelo mal, afirma ele. “A principal razão por que os arminianistas e os outros não-calvinistas crêem no livre arbítrio é preservar e proteger a bondade de Deus, de maneira a não fazer dele o autor do pecado e do mal”, escreve Olson. “O Calvinismo torna difícil estabelecer a diferença entre Deus e o Diabo, exceto pelo fato de que este último deseja que todos vão para o inferno, e Deus deseja que muitos vão para o inferno.”
Horton rejeita essa avaliação da teologia reformada. Contudo, reconhece os excessos de alguns convertidos zelosos do movimento do “Novo Calvinismo”.
“Precisamos fazer distinção entre uma perspectiva centrada em Deus e o pensamento de que você tem Deus do seu lado, o que implica em dizer que ele está contra irmãos e irmãs companheiros”, escreve ele.
“Infelizmente podemos transformar Deus em mascote do nosso time, ao mesmo tempo em que exaltamos sua soberania, glória e graça. Por toda sorte de motivos podemos nos desviar em nossa abordagem, e praticar todo tipo de coisas sórdidas ‘para a glória de Deus’.”
 
Ken Camp é gerente editorial do Baptist Standard
(Tradução de Sylvio Macri)