Inicio esta reflexão com um pensamento que tem me acompanhado por vários anos. “Deus não chamou homens extraordinários para um trabalho comum, mas homens comuns para um trabalho extraordinário”. Esta é a minha percepção do ministério a partir de uma convicção quanto ao chamado de Deus. Aprecio muito a experiência do profeta Isaias quando do seu chamado profético. “Ai de mim! Estou perdido; porque sou homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de lábios impuros; e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos” (Is 6. 5). O ministério pastoral e profético se reveste de um compromisso muito sério diante de Deus e dos homens. Ser ministro do evangelho significa pagar o preço do sacrifício, da transparência, abnegação e do compromisso com o Senhor e com o Seu povo de forma profunda e abrangente. O ministério da Palavra exige uma resposta caracterizada por temor e tremor. Não é possível ser ministro sem o chamado do Senhor. O ministério é para homens que querem fazer toda a vontade de Deus, o Pai, à semelhança de Jesus, o Filho. Todo o ministério da Palavra está centrado na Pessoa de Cristo. Jesus indagou a Pedro acerca do amor deste por Ele. “Amas-me? Apascenta as minhas ovelhas” (João 21.15-17). Esta indagação revela muito bem a seriedade do ministério de liderar o povo de Deus. Paulo testemunhou para os presbíteros ou pastores de Éfeso o seu compromisso com o Senhor ao dizer: “Mas em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que eu complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus.“ (Atos 20.24). Quem é idôneo para o ministério? Na verdade, só podemos ser ministros pela graça de Deus. Neste ponto, entendemos a afirmação muito lúcida do apóstolo Paulo em 1 Corintios 15.10: “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou. E a Sua graça para comigo não foi ineficaz. De fato, trabalhei muito mais que todos eles, todavia não eu, mas a graça de Deus que está comigo”.
Há quatro características presentes no ministro da Palavra: Ser verdadeiro; Digno de confiança; Positivo e Paciente (Dever, Mark – Nove Marcas de Uma Igreja Saudável, Fiel, 2007). Falar sempre a verdade (transparência). Inspirar confiança. Integridade de caráter. Ser sempre positivo. Não mascarar. Mostrar quem é. Exercitar a paciência nos relacionamentos. O Senhor Jesus possuía estas características bem visíveis e perceptíveis. Diante dos religiosos e dos párias da sociedade, o Mestre sempre revelava quem era. A Sua vida sempre foi um exemplo de verdade, confiança, positividade e paciência. Jesus sempre foi o nosso exemplo de Pastor bem sucedido. Ele alimentou e deu a Sua vida pelas ovelhas. Quando fazemos uma leitura da vida de Cristo percebemos de forma muito clara a Sua disposição em servir o Pai, servindo às pessoas (Mt 20.28). Jesus estava comprometido com o ministério de buscar e salvar o perdido (Lc 19.10). Ele não tinha interesse em sistema religioso, mas em pessoas. Não estava ligado a liturgias mecânicas, mas em relacionamentos saudáveis a partir do Seu amor. O Senhor não estava comprometido com tradição, mas com o evangelho da graça. Ele veio para os doentes e não para os que se acham sãos, para os cansados e oprimidos, para os fracassados e alijados pela sociedade. O ministro da Palavra deve ser como o Senhor Jesus, nosso Pastor Supremo.
Neste contexto de abordagem do ministério da Palavra, é relevante ressaltar as considerações de nossa Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira. “Todos os crentes foram chamados por Deus para a salvação, para o serviço cristão, para testemunhar de Jesus Cristo e promover o Seu reino, na medida dos talentos e dons concedidos pelo Espírito Santo (Atos 1.8; Rm 1.6,7). Entretanto, Deus escolhe, chama e separa certos homens, de maneira especial, para o serviço distinto, definido e singular do ministério da Sua Palavra (Mc 3.13,15; Gl 1.15-17). O pregador da Palavra é o porta-voz de Deus entre os homens (Êx 4.11,12; Jr 1.5-10; At 20.24-28). Cabe-lhe missão semelhante àquela realizada pelos profetas do Antigo Testamento e pelo apóstolos do Novo Testamento, tendo o próprio Jesus como exemplo e padrão supremo (João 13.12-15). A obra do porta-voz de Deus tem uma finalidade dupla: a de proclamar as Boas-Novas aos perdidos e a de apascentar os salvos (Ef 4.12-16). Quando um homem é convertido dá evidencia de ter sido chamado e separado por Deus para esse ministério, e de possuir as qualificações estipuladas nas Escrituras para o seu exercício, cabe à igreja local a responsabilidade de separá-lo, formal e publicamente, em reconhecimento da vocação divina já existente e verificada em sua experiência cristã (At 13.1-3; 1 Tm 3.1-7). Esse ato solene de consagração é consumado quando os membros do presbitério ou concilio de pastores, convocados pela igreja, impõem as mãos sobre o vocacionado (At 13.1-3; 1 Tm 4.14). O ministério da Palavra deve dedicar-se totalmente à obra para a qual foi chamado, dependendo em tudo do próprio Deus (2 Tm 2.3,4; 4.2,5). O pregador do evangelho deve viver do evangelho (Mt 10.9,10; 1 Tm 5.17,18). Às igrejas cabe a responsabilidade de cuidar e sustentar adequada e dignamente seus pastores (2 Co 8.1-7; Fil 4.14-18).”
Sejamos ministros da Palavra fundamentados nas Escrituras. A confiança do ministro do evangelho não está no homem, mas em Deus. A promessa do Pai é de ampla suficiência. Um pastor na sua simplicidade do campo disse: “Nós cuidamos do povo de Deus e Deus cuida de nós”. Esta convicção é fruto de confiança na fidelidade de Deus. Os homens mais usados por Deus foram os que mais dependeram dEle. A vida do ministro é uma vida de fé na Palavra. Na verdade, fé é confiar na Palavra de Deus. Deus falou, tá falado. Ele prometeu estar conosco todos os dias até à consumação dos séculos (Mt 28.20). Que sejamos ministros convictos do chamado de Deus e da Sua ampla suficiência. Servir o Senhor no ministério da Palavra, creio, é a maior de todas as honras. O que Deus requer de nós é fidelidade a Ele no exercício do Seu ministério. Fomos chamados para pregar o evangelho, edificar os crentes e glorificar a Deus. Sejamos homens de oração e de ação em Cristo Jesus, o nosso modelo pastoral. Ele andava por toda a parte fazendo o bem (At 10.38). Sejamos ministros da Palavra e de palavra fazendo toda a diferença neste mundo onde há tantos pseudos ou falsos ministros. Que o nosso norte, alvo seja sempre o Senhor Jesus Cristo. Que o ministério que recebemos seja, acima de tudo, para a Glória de Deus, nosso Pai!