Como você, eu me encanto com as palavras.
Então falo sobre elas para aprender sobre elas.
Uma delas é kataluma, que não aparece em nenhum de nossos dicionários, porque é do idioma grego.
Eu também me encanto com histórias, com histórias bíblicas, por exemplo. Elas me seduzem, tanto quando falam quanto quando calam. Quando falam, ando ao seu lado. Quando calam, eu voo sobre elas.
A história do nascimento (natividade, como bem ensinam os católicos) de Jesus me encanta pelo que diz e me faz viajar nos seus silêncios, a exemplo do meio de transporte e o mês de sua gestação por ocasião da chegada de Maria a Belém de mil habitantes. Chegaram próximos do parto?
O que sabemos é que chegada a hora, não havia lugar para eles na kataluma.
A palavra aparece três vezes no Novo Testamento. Duas vezes (Marcos 14.4 e Lucas 22.11) para falar do lugar em que Jesus celebrou sua última e íntima Páscoa com os discípulos. Foi numa kataluma, ou cenáculo ou aposento alto ou quarto de cima. A primeira vez é para informar que não havia lugar para Maria, com o bebê no ventre, na kataluma.
Desde 1611, a palavra vem sendo traduzida por estrebaria (ou hotel bem simples).
Nos últimos anos, tenho lido sobre esta palavra. Kataluma era, na antiguidade bíblica, um lugar especial reservado numa casa para os os hóspedes. Numa família de largos recursos, este cômodo era espaçoso e bem arrumado. Se a família fosse pobre, a kataluma era um canto em que os recém-chegados poderiam se abrigar e passar a noite. Toda casa — era este o valor da hospitalidade — tinha sua kataluma.
Os mais vividos de nós, sobretudo os do interior, nos lembramos que nossas casas tinham um quarto para os hóspedes, num tempo em que era ofensivo um parente ou amigo vir à nossa cidade e ficar num hotel. Imaginemos os contornos de hospitalidade 20 séculos antes de nós.
Não havia lugar para Jesus na kataluma, palavra encantadora que me faz uma pergunta: há lugar para Jesus na minha vida? (CONTINUA)
ISRAEL BELO DE AZEVEDO