BOM DIA: A profissão da felicidade

Um levantamento de abrangência mundial informa que os clérigos são os profissionais que mais se acham felizes no que fazem.
Como parte do grupo (pastor que sou), ouso sugerir algumas razões para este alto grau de satisfação.
A principal é que o clérigo (palavra, confesso, muito feia) tem uma nítida consciência de sua missão. Ele é alimentado pela convicção que o que faz é um serviço prestado a Deus. Diante disto, a crítica se apequena, a ingratidão se torna irrelevante e o cansaço é uma espécie de prêmio a atestar o dever cumprido. É como se o trabalho dele jamais fosse em vão.
Ele pode falar a multidão, mas se relaciona com pessoas, no singular. Quando ouve suas histórias e acompanha seus dramas, sente que o seu gesto fez diferença. E isto faz diferença para ele. Seu prazer é participar da vidas das pessoas, sobretudo — o que é paradoxal — nas horas mais difíceis.
Um pastor pode falar o que os seus ouvintes não gostam de ouvir. Um político não pode fazer isto. Um professor não pode falar muitas vezes o que o seu alunos não querem escutar. Um médico não pode falar o que os seus pacientes não querem ouvir. Um pastor pode e raramente seus ouvintes se aborrecem com ele. Na verdade, ele intercala palavras de conforto com palavras de desafios, por vezes incômodos.
O pastor é feliz porque ele não precisa agradar as pessoas. Só precisa servi-las como sua forma de servir a Deus.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO