O que estamos fazendo pelo Brasil? (Sylvio Macri)

o que estamos fazendo pelo BrAsil?
 
O apóstolo Paulo tinha levantado entre as igrejas da Macedônia e da Acaia (Filipos, Tessalônica, Corinto, etc.), quase todas pequenas e pobres, uma grande oferta para os crentes necessitados da Judéia. Como ele mesmo diz, os cristãos daquelas regiões puderam dar oferta tão abundante porque “primeiramente deram a si mesmos ao Senhor” (II Co. 8.5), pois quando nos entregamos à graça de Deus e ao seu serviço, fica mais fácil fazer o resto. Foi o próprio Jesus quem disse: “Mas buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e todas essas coisas vos serão acrescentadas.” (Mt.6.33).   
 
E quando resolveu ir a Jerusalém para entregar pessoalmente a oferta aos seus destinatários, e enquanto caminhava para lá, Paulo foi avisado por vários profetas sobre as perseguições que o esperavam. Foi com referência a essas advertências que ele disse, em Atos 20.24: “Em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que eu complete minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus.”
 
Paulo estava afirmando que não se considerava o centro do mundo, que as coisas não giravam em torno dele. Havia Jesus, que ele conhecera no caminho de Damasco e que o designara de maneira especial como missionário. E havia os gentios a quem tinha sido enviado a dar testemunho do evangelho. Para Paulo Jesus estava em primeiro, e os gentios em segundo lugar. Ele próprio se colocava em último lugar.
 
O apóstolo queria dizer também que a tarefa de pregar o evangelho era a sua grande motivação, mesmo que para executá-la precisasse morrer. As pessoas ao seu redor não conseguiram apresentar nenhuma razão mais poderosa para ele deixar de seguir sua vocação e fazer a obra de Cristo, mesmo sob a perspectiva de ser preso. E, mais ainda, para Paulo o lugar mais seguro e mais feliz do mundo era o centro da vontade de Deus. O mais importante não eram os riscos da missão, e sim cumprir essa vontade.
 
Precisamos ter pelos nossos concidadãos a mesma paixão que Paulo tinha para com aqueles a quem devia pregar, e ter com a missão de pregar o evangelho o mesmo compromisso que ele tinha com ela. Precisamos aprender que cumprir a vontade de Deus é melhor que qualquer projeto pessoal.
 
Nestes tempos de individualismo e hedonismo exacerbados fica muito difícil falar de “dar a vida” por alguém, por uma causa ou por um povo. Na passagem em que está inserida a afirmação de Paulo acima citada, ele menciona um ensino de Jesus, “Dar é muito mais bem-aventurado que receber.” Modernamente temos invertido os termos desta frase – “Receber é muito mais bem-aventurado que dar.”
 
Quando falamos em “dar a vida”, pensamos unicamente nos missionários que estão se gastando nas frentes de trabalho, mas esse assunto diz respeito também a nós. Muitas vezes temos feito belos discursos sobre os diversos problemas do nosso país, mas o que temos feito, de fato , para ajudar a solucioná-los? Quantas ações, por pequenas que sejam, temos praticado no dia a dia para minorar a miséria material, moral e espiritual dos nossos concidadãos? Se não fazemos nada, no mínimo deveríamos orar sempre pelos missionários acima mencionados.
 
É muito fácil falar dos problemas do país sentados confortavelmente numa poltrona, mas outra coisa é sair às ruas e distribuir folhetos evangelísticos, participar de um trabalho de pregação do evangelho, visitar um doente ou um preso, cuidar de um morador de rua ao invés de evitá-lo, ajudar um órfão ou uma viúva e outras muitas ações que poderíamos citar. As mazelas do nosso povo são tantas e de tão grande tamanho, que é preciso muito mais do simples indignação para resolvê-las. Precisamos parar de culpar os outros e fazer alguma coisa.
 
Os evangélicos brasileiros, incluindo os batistas, na sua maioria adotaram a teologia do “venha a nós o teu Reino”, esquecendo-se de que o Reino não virá se não se cumprir o que Jesus ensinou em João 12.24: “Se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, ficará só; mas, se morrer, dará muito fruto.” Estamos praticando um cristianismo “umbilical”, isto é, voltado para o nosso próprio umbigo, buscando uma adoração de “bem-estar”, centrada no homem e não em Deus, um evangelho preso nas quatro paredes de um ambiente dominado por tecnologia e por uma devoção do tipo “fast-food”. E essas quatro paredes frequentemente mais parecem os limites de uma casa de espetáculos.
 
Enquanto isso, lá fora as pessoas matam por uma ninharia, drogam-se e prostituem-se; o futebol tornou-se uma “religião”, com todas as características de fanatismo, incluindo “hinos” e “templos” (pois se agora qualquer lugar pode ser um templo, por que os estádios não podem ser?); a corrupção e o banditismo campeiam; as pessoas morrem nas portas dos hospitais.
 
Um “grão de trigo” individualista, que busca apenas o seu próprio prazer, jamais “cairá na terra” e por isso mesmo jamais produzirá fruto algum. Por essa razão também jamais ultrapassará os limites de si mesmo, tornando a sua vida sem nenhum valor para Deus e para os seus semelhantes; ao contrário de Paulo, que preferia que sua vida não fosse importante para si mesmo, desde que o fosse para os outros. 
 
Pr. Sylvio Macri