ATÉ QUE CRISTO SEJA FORMADO EM VÓS (Sylvio Macri)

 

O título acima é a divisa anual da Convenção Batista Brasileira em 2012. Trata-se da segunda metade do versículo 19 do capítulo 4, da Carta de Paulo aos Gálatas. O versículo completo diz o seguinte: “Meus filhos, por quem sofro de novo dores de parto, até que Cristo seja formado em vós.” O apóstolo usou uma metáfora um tanto estranha, mas o texto expressa, ao mesmo tempo que um profundo sentimento de frustração, uma grande preocupação a respeito do crescimento espiritual dos crentes da Galácia. E isso por causa do grande amor que Paulo lhes devotava, pois fora o primeiro missionário entre eles, juntamente com Barnabé.  
 
Explicando melhor: Paulo recebera, provavelmente de uma delegação de pessoas daquela mesma região, a informação de que falsos mestres haviam se introduzido nas igrejas que ele fundara na Galácia, ensinando que o evangelho da graça não era suficiente para garantir a salvação do crente, havendo necessidade de este observar os preceitos do judaísmo legalista para que fosse aprovado por Deus. Como toda proposta de espiritualidade rasa, cujas exigências se limitam à observância de certos padrões de religiosidade de fachada, esta visão legalista fascinou os gálatas, e o seu crescimento espiritual estagnou. Aliás, Paulo diz na carta que em vez de progredirem, os gálatas estavam na verdade regredindo na fé.
 
Em vista disso, o apóstolo se entristece profundamente, chega a colocar em dúvida seu esforço missionário entre os gálatas (Gl.4.11), e afirma que precisa começar tudo “de novo”, gerando-os novamente como “filhos na fé”, refazendo seu trabalho de pregação do mesmo evangelho antes ministrado, até que, de fato, seja formado neles o verdadeiro conhecimento a respeito da pessoa e obra de Jesus Cristo e da sua correta relação com ele e com Deus Pai. Para isto, precisam voltar à liberdade para a qual foram chamados por Cristo, e à submissão ao Espírito Santo, e não à Lei, para vencer a carne e viver sob o senhorio de Jesus. 
 
Em resposta a esse problema Paulo produziu uma carta cheia de ensinos maravilhosos, marcada por um testemunho pessoal poderoso. Diz ele que, por deixar-nos crucificar com Cristo, é este que vive em nós, e agora o mundo está crucificado para nós, e nós para o mundo. Cristo entregou-se a si mesmo para nos libertar do senhorio deste mundo mau, e ser, ele próprio, nosso Senhor.
 
A idéia de crescer no conhecimento de Cristo está em todo o Novo Testamento. É expressada por várias figuras, como a de um bebê que precisa ser amamentado até poder ingerir alimentos sólidos; como a de um edifício que é construído aos poucos; como a de uma criança que se desenvolve até chegar ao estado de homem feito; como a de uma planta que vai sendo regada até produzir fruto; e, como no caso do título acima, a de um bebê que vai sendo formado até chegar o momento do nascimento.
 
Em todas essas comparações a idéia básica, em primeiro lugar, é que o conhecimento de Cristo se adquire por acumulação natural, isto é, não se conhece tudo de uma vez, mas aprende-se aos poucos, num processo constante, cuja velocidade varia de pessoa para pessoa; o aprendizado, porém, não deve ser interrompido, sob pena de o crente tornar-se um anão espiritual (II Tm.3.7). 
 
Em segundo lugar, que esse crescimento ou desenvolvimento deve ser baseado na Palavra de Deus, sua fonte adequada de alimentação. Já o Salmo 1 dizia que os que buscam a justiça têm prazer na lei do Senhor e nela meditam dia e noite. Por isso crescem como árvores plantadas junto às correntes de águas, que dão o seu fruto no tempo certo e cuja folhagem não murcha.
 
E, em terceiro lugar, que nosso alvo nesse crescimento é sermos como Cristo. O objetivo dessa formação é uma identificação tão completa com Cristo, que a mente de Cristo passa ser a nossa mente (I Co.2.16), a vida de Cristo passa a ser a nossa vida (Gl.2.20), a ética de Cristo passa a ser a nossa ética (I Jo.2.6), o sentimento de Cristo passa a ser o nosso sentimento (Fp.2.5).
 
Por isso tudo, o tema adotado para 2012 foi “Ser como Cristo, praticando a Bíblia”, que é um tanto ambíguo, mas isto é até bom, porque permite uma abordagem de dois pontos de vista diferentes: ou a intenção é que nos tornemos semelhantes a Cristo por praticar os ensinos da Palavra de Deus, ou a proposta é de buscarmos ser verdadeiros cumpridores da Palavra, como Cristo o foi, de maneira inigualável.
 
De qualquer modo, Cristo é para nós o padrão supremo, e todos deveríamos pensar como Paulo: qualquer coisa menos que a graça de Cristo seja anátema (Gl.1.8), qualquer alvo menor que a superioridade do conhecimento de Cristo seja lixo (Fp.3.8), ninguém mais seja Senhor a não ser Cristo (Fp.2.10,11).         
 
Pr. Sylvio Macri