BOM DIA: História de uma perda

Ele dirigia, com a esposa, por uma rua movimentada.
De repente, emparelha um ciclista que começa a gesticular.
Sem entender, o motorista abre o vidro para ver o que estava acontecendo.
Então, foi acusado de irresponsável. Depois, vieram os xingamentos em tons cada vez mais fortes.
Dentro do carro, o condutor começou a se irritar. O ciclista era um adolescente. O motorista era um homem forte. Teve vontade de colocar o menino no seu devido lugar. Era sair e empurrar. O garoto podia ser parado com uns socos.
Estes eram os desejos que no seu coração tomavam forma a cada impropério.
Não tinha jeito: o rapaz tinha que ser massacrado para que parasse com suas provocações. O "moleque" (como se diz no Rio de Janeiro) precisava aprender a não ser insolente e grosseiro.
Quando fez menção de sair do carro para fazer ‘justiça", a esposa tocou no seu abraço.
— Deixa isso pra lá.
O marido se conteve e seguiu em frente, deixando no retrovisor os gestos irritados do ciclista que se achara ofendido.
Ao seguir em frente, sem explodir, o motorista perdeu.
Perdeu?

ISRAEL BELO DE AZEVEDO