AS QUALIDADES PESSOAIS DO LÍDER JESUS (Sylvio Macri)

Para qualquer um que queira ser líder haverá sempre a exigência de algumas qualidades, que condicionam não somente a reputação como também a aceitação que terá junto aos liderados. Se quisermos ser líderes como Jesus, precisamos ter as mesmas qualidades que ele tinha, e que descrevemos abaixo.

 

 

Todos nós temos motivações conflitantes: desejo de servir a Deus, planos de ajudar ao próximo e necessidade de realização pessoal. Não é fácil fazer separação entre elas. Jesus, porém, colocou a lealdade ao Pai acima de todas as suas motivações, e assim foi mais fácil cumprir sua missão. Seu propósito era fazer a vontade do Pai (Jo.4:34;14:31); ele não veio construir a sua própria reputação, mas sim servir a uma causa alheia. A lealdade é uma virtude absolutamente necessária para quem quer ser um verdadeiro líder cristão. Lealdade ao Senhor, à igreja e aos princípios bíblicos. 

     

 

O Apocalipse (19:11) descreve Jesus como o “Fiel e Verdadeiro”, duas palavras que são sinônimas porque o sentido de “verdadeiro” nesta expressão é “aquele que é capaz de manter firmemente a sua palavra”. Em diversas ocasiões ele afirmou que tudo o que dizia não era dele próprio, mas vinha do Pai (Jo.7:16;12:49,50;17:8). Isto poderia ser chamado também de integridade. Líderes que querem seguir a Jesus devem saber que sua fidelidade a Jesus e à sua Palavra é inegociável. Precisam saber também que a Palavra de Deus é imutável, e não pode ser manipulada de acordo com a situação ou o momento que se esteja vivendo.

   

 

Jesus nunca iludiu ninguém com falsas promessas, ao contrário, aos seus discípulos advertiu que assim como o mundo o odiava, odiaria também a eles (Jo.15:18-25;16:1-4). Em outra ocasião, disse: “Vocês vão passar por aflições neste mundo” (Jo.16:33). A um jovem rico, que o procurou para obter aprovação aconselhou: “Vai, venda tudo quanto você tem, dê o dinheiro aos pobres e depois venha seguir-me.” (Mt.19:21). O verdadeiro líder cristão precisa ser honesto em todas as áreas da sua vida e principalmente no relacionamento com os seus liderados.

 

 

Jesus “dava nomes aos bois”. Em uma ocasião chamou os escribas e fariseus de “sepulturas caiadas” (Mt.23:27), e em outra, de “filhos do Diabo” (Jo.8:44). Ao ser procurado por uma grande multidão, após a multiplicação dos pães, em vez de sentir-se lisonjeado e render-se ao sucesso, fez um discurso tão duro que todos, menos os doze apóstolos, foram embora (Jo.6:22-71). Sem ser grosseiro, Jesus sempre disse às pessoas exatamente aquilo que elas precisavam ouvir. Assim também devemos fazer, se queremos liderar com justiça.

 

Sem nenhuma falsa modéstia, Jesus declarou-se “humilde de coração” (Mt.11:29). Mas, quando o fez, já tinha provado suficientemente sua humildade, pois havia deixado o seu trono lá na glória, humilhando-se e tomando a forma de um ser humano (Fp.2:5-8). E em muitas outras ocasiões provou sua humildade, como, por exemplo, quando lavou os pés dos discípulos (Jo.13:1-20). Ele foi humilde sem perder a sua dignidade, e assim tornou-se exemplo para nós. Se quisermos ser líderes como ele, devemos ser humildes.

 

 

Jesus não usou a mesma tática que a maioria dos líderes usa, isto é, a de aproveitar todas as oportunidades para aparecer e firmar sua liderança. Ao contrário, visou sempre o benefício dos seus seguidores. Por exemplo, quando curava as pessoas dizia-lhes para não divulgarem o milagre (Mc.1:44;7:36). Ou, quando seus familiares disseram-lhe que deveria ir a Jerusalém durante a Festa dos Tabernáculos para demonstrar seus poderes e tornar-se famoso, recusou-se a ir (Jo.7:1-19). Isto é bem diferente do que vemos em muitos líderes cristãos hoje em dia.

  

 

Os evangelhos dizem que freqüentemente Jesus se retirava para lugares desertos a fim de orar e meditar, principalmente quando tinha que tomar uma decisão. Esta é uma das qualidades mais marcantes da sua liderança. Quando teve que escolher seus apóstolos retirou-se para orar (Lc.6:12-16). Quando a multidão queria fazê-lo rei, mandou seus discípulos irem à frente de barco, e foi orar sozinho (Jo.6:15). Para ser um líder decisivo, o cristão precisa ter uma vida devocional permanente, estar em comunicação constante com o Pai, ouvindo a sua Palavra e abrindo seu coração para ele em oração, a fim de obter sabedoria para tomar suas decisões.

 

 

Ninguém tem mais compaixão pelo ser humano do que Jesus. Ele disse que a maior prova de amor é dar a vida pelo outro (Jo.15:13). Paulo, porém, deixa claro que quando Cristo fez isto por nós, não foi como alguém que dá a sua vida por uma pessoa boa, mas por inimigos seus (Rm.5:6-8). Os evangelhos registram várias situações em que Jesus compadeceu-se de indivíduos, multidões e até uma cidade inteira. É simplesmente impossível seguir o modelo de Jesus como líder sem ser compassivo e amoroso como ele.  

 

 

Uma das acusações mais freqüentes feitas a Jesus por seus inimigos foi a de que ele “comia com pecadores e publicanos” (Mt.9:11), isto é, que convivia com pessoas que eram reconhecidamente transgressoras dos princípios e costumes religiosos e morais vigentes na sociedade judaica. Ao hospedar-se na casa de Zaqueu, que reconheceu publicamente sua desonestidade, declarou que ele também era objeto da graça de Deus (Lc.19:1-10). Ao ser colocado frente a frente com uma mulher flagrada em adultério, perdoou-a, em vez de julgá-la, como queriam seus inimigos, que a tinham trazido (Jo.8:1-11). Se alguém não é capaz de ser tolerante com aqueles que erram e falham, não pode ser um líder como Jesus.

   

 

Jesus aconselhou: “Aprendam de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt.11:29). De fato, ele foi o melhor praticante de um dos seus mais famosos ensinos: “Se alguém quiser bater em sua face direita, dê-lhe também a esquerda” (Mt.5:39). A maior prova de sua mansidão foi dada quando o prenderam, julgaram injustamente, condenaram e crucificaram. Naquela ocasião, disse a Pedro que, se quisesse, poderia convocar os exércitos dos anjos para combater a seu favor, mas recusou-se a fazê-lo, e mandou-o guardar sua espada (Mt.26:47-56). Se alguém quiser se espelhar em Jesus como líder, precisa aprender com ele a ser manso.

    

 

Na parábola do semeador, Jesus nos ensinou a sermos pacientes e perseverantes, pois o trabalho do líder nem sempre produz resultados maravilhosos (Mt.13:1-23). As pessoas são muito variáveis e não respondem de maneira igual aos desafios. Além disso, há inúmeras limitações ao trabalho do líder. Se ele deixar-se derrotar por essas dificuldades, fatalmente irá abandonar a missão. Alguém já disse que do grupo inicial de seguidores de Jesus, provavelmente a única pessoa que um especialista em seleção de pessoal de hoje recrutaria para o trabalho, seria Judas Iscariotes, por ter um perfil empreendedor, mas foi quem o traiu. Jesus lutou durante três anos com um bando de prováveis “fracassados” e transformou-os em homens que “viraram o mundo de cabeça para baixo” (At.17:6). Isto é perseverança, uma qualidade que todo líder cristão precisa ter.      

 

 

O apóstolo Paulo disse que esperar somente por aquilo que se pode ver não é esperança (Rm.8:24). Jesus afirmou que “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto” (Jo.12:24), porque ele via além da sua morte o que os discípulos não viam: sua ressurreição e os milhões de salvos espalhados por todo o mundo em vinte séculos de história da igreja. Esperança é uma qualidade que nos faz ver além das circunstâncias e problemas, e isto Jesus tinha de sobra. Todo líder cristão também deve tê-la.