Quem é Jesus pra mim? (Série MENTORIA ESPIRITUAL, 2)

Gálatas 6.14
Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo.

Jesus é o nome mais conhecido no mundo. Quem googlá-lo, vai ter que percorrer mais de 800 milhões de páginas, em vários idiomas. Ele ainda vende. Ele vende livros, vende revistas, vende jornais, rende discussões, até mesmo contrárias. Um filme sobre ele ("Jesus"), traduzido para mais de mil idiomas e dialetos, foi visto por por mais de 200 milhões de pessoas, Em certo sentido, porém, continua muito ignorado.
Trago um exemplo: em 2011, a TV Bandeirantes colocou Jesus como o tema do seu Canal Livre. Publicado na internet foi visto por mais de 160 mil pessoas, só youtube. A abertura do programa tenta captar um certo tom de controvérsia. 

O número daqueles que são contados entre seus seguidores no mundo gira em torno de 2,1 bilhões, ou seja, 1/3 da humanidade. Há 38 mil denominações cristãs.
Não se discute mais, nem mesmo entre os ateus, se Jesus existiu. A discussão é em torno de datas e circunstâncias de sua vida e, sobretudo, sobre o seu significado.
Já ao tempo de Jesus, ele mesmo captou essas dificuldades.
Já ao tempo de Jesus havia controvérsias ao seu respeito.
Já ao tempo de Jesus ele tinha seguidores e antisseguidores que o odiavam, o que explica a sua crucificacao. Uns o amavam e outros o abominavam.
Já ao tempo de Jesus, ele tinha seguidores de diferentes tipos.
Estas situações estão contadas numa passagem do Evangelho de Mateus (Mateus 16.13-20).
Neste episódio,  Jesus fez uma incômoda pergunta aos seus discípulos. Na verdade, ele fez duas perguntas. A primeira foi:
— O que as pessoas andam dizendo a meu respeito? (Mateus 16.13).
A segunda, que é a que importava, foi mais direta:
— E vocês? Quem sou eu para vocês? (Mateus 16.15).

Há respostas de todo tipo ainda hoje. Quero me ater a dois.

O primeiro tipo é o seguidor-deísta de Jesus. Como somos informados, os deístas são aqueles que acham que Deus existe, mas não intervém no mundo. Ele o criou, deu as coordenadas naturais e espirituais (mandamentos) para que o mundo funcionasse e se ausentou. Agora é com o homem.
Por analogia. o seguidor deísta de Jesus é aquele que crê que Jesus existiu, ensinou verdades profundas, foi morto, pode até ter ressuscitado e subido aos céus, mas não demanda qualquer tipo de fé vivencial nele, para o dia-a-dia da sua vida. Para o seguidor-deísta, Jesus é o mestre, tanto por suas palavras quanto por seu exemplo. Nesta perspectiva, Jesus é admirável, deve ser imitado, mas não é o Salvador.
Há cristãos e não-cristãos que seguem deisticamente a Jesus, que espera, ao contrário, a mesma resposta do discípulo Pedro:

— Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. (Mateus 16.16)

O segundo tipo é o seguidor do Jesus taumaturgo. Taumaturgo é aquele que opera milagres. Muitos seguem a Jesus à espera de um milagre, milagre da cura, milagre da prosperidade. Eles estão atrás de um mágico, que lhes resolva os problemas imediatos da vida. Eles não seguem a Jesus, mas seguem o milagreiro. Se outro aparecer que faça as mesmas coisas, vão atrás, como crianças atrás de um palhaço de pernas-de-pau de um circo.
Ao tempo de Jesus, alguns estavam atrás disto e ele se referiu a tais pessoas, que o seguiam "porque comeram os pães e ficaram satisfeitos" (João 6.26) com sábias palavras.

— Não trabalhem [isto é: não me sigam] pela comida que se estraga, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem lhes dará. Deus, o Pai, nele colocou o seu selo de aprovação” (João 6.26-27).
Selo que é colocado em todos os que se arrependem dos pecados e são perdoados por Jesus.

Em outra, foi mais duro:

“Esta é uma geração perversa. Ela pede um sinal miraculoso, mas nenhum sinal lhe será dado, exceto o sinal de Jonas" (Lucas 11.29), numa metáfora pela qual pedia que as pessoas se arrependessem dos seus pecados para o seguir.

A resposta define quem é cristão. Ou melhor: a motivação da resposta define quem é cristão. Um o segue para aprender a viver; é pouco. Outro o segue para não morrer, de fome ou de doença; é pouco. Aquele seguirá um mestre melhor, caso apareça. Este correrá atrás de um milagreiro, que faça mais barulho.

Quem destes dois tipos de seguidores de Jesus escreveria as palavras que um seguidor verdadeiro anotou com a própria vida?

— Longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo. (Gálatas 6.14 – ARA)

Em outra tradução:

— Eu me orgulharei somente da cruz do nosso Senhor Jesus Cristo. Pois, por meio da cruz, o mundo está morto para mim, e eu estou morto para o mundo". (Galatians 6.14 — NTLH)

Não percamos tempo com este "gloriar-me"/"me orgulharei" que a leitura toda mostra que Paulo está dizendo que a sua salvação não foi o resultado de sua bondade, caridade ou inteligência, mas veio como um presente de Jesus para ele.
Neste texto — concentremo-nos nisto — fica claro quem é Jesus para Paulo. Primeiramente, o apostolo o evidencia no título que dá a Jesus: "Senhor Jesus Cristo". Jesus é Senhor. Imperador se apresentava como senhor e os donos de escravos eram tratados como senhor pela legislação vigente. Paulo usa o termo no sentido do Antigo Testamento. O Novo Testamento usa este título 1114 vezes, 82 na pena de Paulo. Para ele, Jesus é Senhor porque governa o mundo, porque tem domínio absoluta sobre a vida das pessoas. Paulo torna  o título bem pessoal: Jesus é o meu Senhor. Esta é a minha relação com ele, está Paulo a dizer. Em todos os seus livros, ele se apresenta como sendo escravo/servo deste Senhor. O Senhor é quem manda.
Este Senhor Jesus é o Cristo, isto é, o Enviado de Deus para trazer a salvação ao mundo, vale dizer, aos habitantes do mundo, em todos os tempos. O Novo Testamento é a história do Cristo, mencionado com este título 504 vezes, das quais 372 vezes nos escritos paulinos.
Chamar a Jesus de Cristo significava, para Paulo, que sua espera tinha acabado. O Messias chegara. Ele, ao longo da vida, procurou ser uma pessoa correta. Era tão exigente nisto que se impunha sacrifícios pessoais. Quando compreendeu que Jesus era o Cristo e o aceitou, sua alma descansou. Foi por isto que disse que sua fé e vida não se baseavam em sua busca ou em seu esforço, mas em Jesus. Este jeito natural (a que ele chama de "mundo") não fazia mais sentido para ele. Jesus fazia sentido. Por isto, ele o chama de Senhor Jesus Cristo por 52 vezes, das 63 que aparecem no Novo Testamento.
Por este Jesus, Paulo crucifica o mundo. Ele mata o mundo. Ele rejeita o mundo. Em outros termos, por este Jesus, Paulo não considera que o mundo vai lhe trazer a salvação. Por este Jesus, Paulo não crê mais que sendo um cumpridor de leis que merecerá a salvação. Por este Jesus, Paulo não espera que suas boas ações sejam um salvo-conduto para a vida depois da morte. Por este Jesus, Paulo não tem orgulho de suas próprias realizações.
O Senhor Jesus Cristo é completo. Com ele, não precisa de mais nada. Graças a ele, ao morrer na cruz, está salvo. Agora, pode colocar o seu "eu" no devido lugar, degraus abaixo de Jesus. Ele tem alguém diante de quem se ajoelhar como Senhor. Ele agora sabe a quem alegremente obedecer. Ele agora tem com quem se relacionar, como servo, como irmão, como amigo, como Messias, como Salvador, como Senhor: o Senhor Jesus Cristo.
É a ele que Paulo segue. E o Senhor Jesus Cristo não é distante. Ele deu as cartas e continua a dá-lãs. Ele faz milagres, mas não é seguido por isto.
Paulo está atado a Jesus Cristo, o Senhor.
Um autor captou a essência deste relacionamento, quando escreveu:

— Se você não está atado a Cristo, você não é cristão. 

O Jesus ao qual devemos estar atados é o "que tomou sobre si os nossos pecados e nos trouxe perdão, que morreu e ressuscitou, que está sentado à direita do Pai, que colocou debaixo os pés os estragos da queda e do pecado e que voltará em poder e muita glória — este é o único Jesus. Não há outro. Fora do Jesus do Antigo e Novo Testamentos, qualquer outro seria vulgar e mesmo desnecessário". 

***
Esta é a pergunta que importa:
— Quem é Jesus para você?

Se ele, como fez a Pedro, lhe perguntasse se você o ama acima de todas as coisas, quai seria a sua resposta?
Você o ama de todo o coração, com todas as suas forças? Você seria capaz de morrer por ele?
Por ele você crucifica o mundo?
Você estrutura (organiza) a sua vida sobre ele ou sobre você mesmo, com os seus desejos, ou sobre o mundo, com os seus valores?

ISRAEL BELO DE AZEVEDO